O Brasil vive um momento, no mínimo, curioso em sua história republicana. As crises que se sucederam até a virada do século, entre erros e acertos, envolveram um grupo de atores bem mais responsáveis e relevantes do que os atuais. Políticos, militares, empresários, intelectuais de diferentes tendências e defendendo ideais diversos tinham em comum a respeitabilidade e representatividade. A sociedade era reconhecida e respeitada pelas camadas mais humildes da população, que, de certa maneira, sempre foram atendidas pelos governantes.

Nunca tivemos motivos para demonizar segmentos do pensamento e da ação política, apesar de instantes de radicalismo como os que levaram o país a traumas na morte de Vargas – com acusações que beiravam à canalhice, como atribuir ao presidente de mãos limpas conivência com corrupção. E no movimento de 64 – para devolver a paz e o progresso ao país, mas cujo desleixo do presidente Goulart com companheiros  no trato do dinheiro público  e na pregação comunista era uma brincadeira perto do que se viu nos anos PT. na tentativa de cumprir a agenda do Foro de São Paulo.

Hoje, o chamado povão assiste, entre perplexo e indiferente, a uma disputa marcada pelo ódio, violência, insultos de parte a parte. Ambos os candidatos são passíveis de críticas, mas longe daquelas que lhe atribuem os adversários, sem a elegância e o respeito que uma disputa democrática pede. O brasileiro, apesar de militância de minorias destas práticas condenáveis, continua a ser cordial, alegre, sem ódio ou ressentimentos no coração. Percebe-se que na faixa de meia idade, os que estão entre os 40 e os 70 anos, há condenação neste festival de grosserias. O que parece se refletir na audiência das televisões voltadas para acusar, criticar, deturpar um dos lados em disputa. O povo nota os exageros de um lado e lamenta a falta de compostura do outro.

Pode não se saber quem vai ganhar estas eleições. Mas, certamente, seja qual for o resultado, o povo vai perder, pois o país ficará ingovernável e, possivelmente, em grave crise institucional.

É tapar o sol com a peneira ignorar que estamos num contexto maior, inseridos no mundo globalizado e no continente latino-americano, onde se verifica um processo de autodestruição pela via eleitoral, em sociedades divididas.

A economia não resiste à quebra de contratos e a ordem interna a uma grave crise social, resultado do programa bolivariano. Muito menos ao país tão intensamente dividido.