A ONG Human Rights Watch (HRW) apelou neste sábado (06/04) às forças que participam nos combates em torno da capital da , Trípoli, para que tomem as medidas necessárias para minimizar danos civis e respeitar as leis de guerra.

Em comunicado, a ONG afirma que os combatentes liderados pelo general Khalifa Haftar, conhecido como o Exército Nacional da Líbia (LNA), têm um “histórico bem documentado de ataques indiscriminados contra civis, execuções sumárias de combatentes capturados e detenções arbitrárias” e que as milícias ligadas ao Governo do Acordo Nacional (GNA), apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e com sede no oeste da Líbia, “também têm um histórico de abusos”.

“Sempre que as rivais se chocam em cidades líbias, são os civis que mais sofrem”, afirmou no comunicado a diretora da HRW para o e Norte da África, Sarah Leah Whitson, defendendo que “todos os lados precisam respeitar” as leis da guerra e “minimizar os danos” civis.

Em 4 de abril de 2019, as forças do LNA avançaram entre 30 a 40 quilômetros em direção de Trípoli, com o objetivo de tomar a capital, enquanto a parte ocidental da Líbia, incluindo Trípoli, continua dominada pela GNA.

Na Líbia, país imerso num caos político há vários anos, duas autoridades disputam o poder: um governo de união nacional líbio comandado pelo presidente Fayez al-Serraj – estabelecido em 2015 em Trípoli, ele é reconhecido pela comunidade internacional e tem o apoio de milícias – e uma autoridade paralela que exerce o poder no leste do país, com o apoio do marechal Haftar, um militar dissidente do regime de Muammar Kadhafi, que caiu em 2011.

O atual desenvolvimento lança uma nova luz sobre a viagem do general Haftar à no de março, quando foi recebido pelo rei saudita, Salman bin Abdulaziz al-Saud. De acordo com relatos da mídia, Salman mais uma vez enfatizou o interesse de seu país em que haja condições estáveis na Líbia.

Até agora, a Arábia Saudita mostrou os seus interesses através do apoio logístico e militar ao general. Segundo o site líbio Libyaobserver, o reino saudita seria “um dos maiores apoiadores das operações de Haftar na Líbia”.

Consta que há também concordância com os Emirados Árabes Unidos e o Egito. Assim como os sauditas, eles querem evitar que o islamismo social revolucionário, segundo o modelo da Irmandade Muçulmana, venha a prevalecer no país do Norte da África.

Após a queda do presidente Mohammed Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana, o Egito empreende uma política estritamente contrária à Irmandade. A Arábia Saudita, que segue uma corrente ultraconservadora do islã conhecida como wahabismo, promove uma luta global contra o jihadismo, pelo qual se vê ameaçada.

Combatidos com toda força pelo general Haftar, os jihadistas aproveitaram o desmantelamento do Estado líbio para se estabelecer no país. Ao mesmo tempo, Haftar também presta um serviço à Arábia Saudita. “Ele quer minar a relação que vários movimentos políticos e partidos da Líbia têm com o Catar e a Turquia”, disse à DW o cientista político Hosni Abidi, diretor do instituto de pesquisas políticas Cermam em Genebra.

Em Istambul, como em Doha, os membros da Irmandade são considerados representantes de uma ordem político-confessional relativamente moderada, que leva suficientemente em consideração as necessidades sociais da população, de modo a evitar que tumultos radicais como os do ano de 2011 aconteçam no futuro.

O Catar vê no presidente líbio reconhecido internacionalmente, Fayez al-Serraj, uma garantia de transição ordenada para uma ordem estável e social.

Em 11 de março, poucos dias antes de o general Haftar viajar a Riad, Serraj se reuniu em Doha com o emir Tamim bin Hamad Al-Thani. Os dois demonstraram uma calorosa concordância. É hora de “que a Líbia desfrute segurança e estabilidade e comece uma fase de construção e desenvolvimento”, disse o emir.

Assim, o general Haftar avança agora contra Trípoli também com o objetivo de cortar as conexões de Serraj com o Catar. É questionável se ele terá sucesso. “Os dois Estados têm simplesmente peso demais”, diz Hosni Abidi.

A guerra por procuração na Líbia pode se estender – a menos que a Arábia Saudita, aliada mais importante de Haftar, reconsidere sua posição, explicou o cientista político.

Porque tal posição não é bem aceita no Ocidente. Especialmente depois do escândalo em torno do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, Riad está buscando melhorar suas relações com os países ocidentais.

(Com informações da Deutsche Welle)