Prática está ligada ao hinduísmo e considera que as mulheres são intocáveis enquanto menstruam

A pequena cabana com teto de palha no oeste do Nepal não a protege do frio. No entanto Pabrita Giri tem de se exilar nela durante seu período de menstruação em virtude de um ritual hindu secular.

Na choça, conhecida como “chhau goth”, Giri acende uma pequena fogueira para tentar se aquecer. A fumaça enche o pequeno espaço onde ela dorme e irrita seus olhos.

“Acreditamos que, se não fizermos o ‘chhaupadi’, coisas ruins podem nos acontecer e que, se o fizermos, os deuses nos favorecerão. Acho que não tem problema, por isso faço isso durante minha regra”, explica Giri, de 23 anos.

“Agora estou acostumada. Tinha medo no início porque ficava longe de minha família em noites escuras e em um lugar como este”, comenta Giri.

Essa prática está ligada ao hinduísmo e considera que as mulheres são intocáveis enquanto menstruam.

São tiradas de casa, impedidas de tocar na comida, em objetos religiosos, no gado e principalmente nos homens, forçando-as a um exílio menstrual no qual têm de dormir em cabanas rudimentares.

Em algumas zonas, as mulheres também têm de passar um mês em uma “chhau goth” depois de dar à luz.

A morte de duas mulheres recentemente durante o “chhaupadi”, uma por inalação de fumaça, e outra por causas ainda desconhecidas, deu força a quem defende o fim dessa prática.

Apesar do “chhaupadi” ter sido proibido há uma década, o Parlamento está estudando uma proposta de lei para transformar em crime quem obrigar uma mulher a se exilar durante a menstruação.

Superstições

Outras tentativas anteriores de acabar com o “chhaupadi” foram abandonadas por culpa das superstições.

Em uma aldeia a alguns quilômetros de onde vive Giri, Khagisara Regmi está pensando em construir um “chhau goth”.

Depois que seu marido morreu há 8 anos, essa mulher de 40 anos sofria muito por ter que seguir o “chhaupadi”, que a impedia de cozinhar ou tocar no filho enquanto estava menstruada. Depois de viúva, deixou de fazê-lo.

Mas, há alguns anos, seu único filho começou a ter crise, aparentemente de epilepsia. Quando um hospital local conseguiu tratá-lo, Regmi procurou o xamã local, que atribuiu a doença do rapaz ao fato de ela não respeitar mais o ritual.

“Como não respeitei o princípio da pureza, os deuses se aborreceram. Não foi bom para meu filho”, explica.

No Nepal rural, os xamãs locais ocupam o espaço vazio deixado pelos serviços de saúde inexistentes, e os anciões assumem a posição de guardiões da tradição.

Segundo Sabitra Giri, de 70 anos, os maoistas tentaram acabar com o “chhaupadi” durante a guerra civil do Nepal, dentro de sua posição antirreligião, mas não conseguiram.

“Enquanto continuar viva, esta prática continuará”, garante.

Mesmo na capital, Katmandu, três em cada lar praticam algum tipo de restrição contra as mulheres em seu período menstrual, proibindo-as de entrar na cozinha e na sala de oração, explica Pema Lhaki, uma ativista dos direitos das mulheres.

As tentativas passadas de acabar com o costume se restringiram a destruir as cabanas, mas isso não impediu que as famílias expulsassem as mulheres de seus lares, obrigando-as, às vezes, a dormir em cabanas muito mais rudimentares e, inclusive, ao relento.

Para Pema Lhaki, destruir ou não as cabanas não é a questão: o êxito do movimento acontecerá quando as cabanas ainda estiverem de pé, mas não forem mais usadas.