Número de vítimas alcançou 761, segundo o governo regional

O referendo pela independência da região autônoma da  foi encerrado na tarde deste domingo (1º) em meio a forte repressão policial, centenas de pessoas feridas e queixas na justiça. A votação foi convocada por separatistas e considerada ilegal pelo governo espanhol.

O número de vítimas atendidas por serviços médicos em decorrência da ação policial para reprimir a votação chegou a 761, de acordo com o governo regional da Catalunha.

Três das vítimas estavam em estado mais grave, segundo os serviços de emergência. Nove pessoas foram hospitalizadas. Houve contusões, desmaios e ataques de pânico.

A Polícia Nacional e a Guarda Civil, duas corporações que enviaram um reforço de mais de dez mil homens para a Catalunha, invadiram várias escolas em toda região para apreender urnas e cédulas, na tentativa de impedir a consulta proibida pela Justiça espanhola.

Segundo a Reuters, a polícia espanhola disparou balas de borracha em rua de Barcelona devido a distúrbios envolvendo o referendo.

O Ministério do Interior da Espanha disse que três pessoas foram presas, inclusive uma mulher menor de idade, por desobediência e agressão durante os confrontos. O órgão afirma ter fechado 92 colégios eleitorais do que chamou de “referendo ilegal” na Catalunha. O balanço foi feito até as 17h locais, 12h de Brasília.

A partida entre Barcelona e Las Palmas pela Liga Espanhola foi jogada com portões fechados após os incidentes provocados pelo referendo, segundo o clube. Antes, havia sido divulgado que o jogo seria cancelado.

Votação e reações

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, disse que os líderes da Catalunha sabiam que o referendo era ilegal, mas seguiram adiante mesmo assim. Ele afirmou que a “harmonia” deve ser recuperada o mais rápido possível e que não vai “dar as costas ao diálogo”, mas que vai agir sempre dentro da lei.

O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, disse que houve “violência injustificada” do Estado espanhol. Ele próprio não conseguiu votar no ginásio onde estava previsto inicialmente, já que a Guarda Civil entrou à força e assumiu o controle.

Puigdemont seguiu para uma seção eleitoral próxima para depositar sua cédula. A alteração foi possível, porque, no último minuto, o governo catalão instaurou um cadastro único de eleitores. Com isso, os 5,3 milhões de catalães convocados às urnas podem votar em qualquer um dos 2.135 postos anunciados.

Puigdemont denunciou “o uso injustificado, irracional e irresponsável da violência por parte do Estado espanhol”. Segundo ele, a imagem externa do Estado “continua piorando e chegou hoje a níveis de vergonha que vão acompanhá-lo para sempre”.

O governo regional da Catalunha afirmou que o governo da Espanha vai responder “nos tribunais internacionais” pela violência durante o referendo deste domingo.

Queixas na justiça

O Tribunal Superior da Catalunha disse que os tribunais da região receberam várias queixas contra a polícia local, por não ter fechado as seções de votação apesar da ordem judicial que proibiu a realização do referendo para independência da Catalunha.

O tribunal disse em uma declaração que as queixas eram contra a polícia catalã, conhecida como Mossos, por inatividade em locais abertos ilegalmente para a votação. O tribunal disse que pediu aos Mossos mais informações sobre as queixas.

A polícia nacional espanhola agiu para fechar dezenas de locais de votação no domingo, muitas vezes entrando em confronto com os eleitores.

“Será o Estado espanhol que deverá explicar ao mundo o que fez hoje na Catalunha”, afirmou a presidente do Parlamento catalão, Carme Forcadell, depois de votar.

O representante do governo espanhol de Mariano Rajoy, Enric Millo, pediu ao Executivo catalão que ponha fim a o que chamou de “farsa” do referendo. “O presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, e sua equipe são os únicos responsáveis por tudo que aconteceu ontem e por tudo que poderá acontecer, se não puserem fim a essa farsa”.

Jeremy Corbin, líder do Partido Trabalhista britânico, disse que a violência policial contra a população da Catalunha é “chocante” e precisa acabar.

Sentimento separatista

Os separatistas são maioria no Parlamento catalão desde 2015, mas as pesquisas indicam que a sociedade catalã está muito dividida. A última pesquisa feita pelo governo catalão, em junho, mostrou que 49% eram contra a independência e 41% a favor.

No referendo de 2014, que também foi declarado inconstitucional por Madri, quase 1,9 milhão (80%) de catalães votaram pela independência, embora a participação tenha sido de 37%.

O embate entre autoridades da Catalunha e do governo central da Espanha em torno do referendo independentista desperta a curiosidade sobre o movimento separatista na região e suas motivações.

O sentimento separatista surge de uma soma de diversos fatores, entre eles históricos, culturais e econômicos.