Procuradoria de Nanterre abriu processo contra Marine Le Pen por “difusão de imagens violentas”

O Parlamento Europeu retirou nesta quinta-feira a imunidade parlamentar da líder de extrema-direita francesa Marine Le Pen, a pedido da justiça da França, que a investiga por ter publicado no Twitter, em dezembro de 2015, imagens de atrocidades cometidas pelo grupo Estado Islâmico (EI).

Convocada em abril de 2016 por um juiz de instrução francês neste caso, Marine Le Pen havia se recusado a comparecer ante à justiça, evocando sua imunidade parlamentar.

A retirada de sua imunidade tem efeito imediato. Diz respeito apenas a esta investigação e não àquela sobre suspeitas de empregos fictícios de assistentes de seu partido Frente Nacional no Parlamento Europeu, no qual a chefe de gabinete de Le Pen, candidata à presidência francesa, foi indiciada.

“Acredito que o resultado é claro: uma grande maioria apoia a retirada da imunidade”, declarou Dimitrios Papadimulis (GUE, extrema-esquerda), que presidiu os debates, após a votação na ausência da interessada.

A retirada da imunidade foi requisitada pela Procuradoria de Nanterre (região parisiense) que abriu o processo judicial contra Marine Le Pen por “difusão de imagens violentas”.

Em dezembro de 2015, a presidente da FN publicou três imagens no Twitter, em resposta a um jornalista que estabeleceu um paralelo entre seu partido e o grupo extremista. Nelas apareciam um homem com uniforme laranja debaixo de um tanque, um homem vestido da mesma maneira e com o corpo em chamas em uma jaula e o corpo de um homem decapitado.

Na legenda: “Daesh é isso!”, escreveu, utilizando o acrônimo em árabe do grupo Estado Islâmico.

Posteriormente, ela retirou a foto de James Foley a pedido da família do jornalista, que se disse “profundamente chocada” com a publicação. As duas outras imagens seguem em seu Twitter.

– Prazos habituais –

“Eu publiquei duas, três fotos dos horrores do Daesh e disse o ‘Daesh é isso’. Eu denunciei este horror”, justificou-se Marine Le Pen nesta quinta-feira de manhã no canal de televisão LCP e rádio France Bleu, antes da votação em plenário.

“Sou deputada, e estou cumprindo o meu papel quando denuncio o Daesh”, acrescentou, criticando o que chamou de “uma investigação política”.

Como seu pai Jean-Marie Le Pen em 2002, a líder da extrema-direita é apontada, de acordo com pesquisas,como favorita no primeiro turno da eleição presidencial francesa em 23 de abril.

“A suspensão da imunidade é absolutamente ridículo e problemático”, protestou o seu braço direito, Florion Philippot, na BFMTV, após a votação.

“Jamais um levantamento da imunidade foi tão rápido”, considerou Le Pen na terça-feira, durante uma visita ao Salão Agrícola, denunciando “um procedimento super-rápido especial Marine Le Pen”.

De acordo com o Parlamento Europeu, 15 pedidos de levantamento de imunidade foram analisados em 2016 pelos deputados. Cada análise levou de quatro a oito meses, dependendo do caso. A demanda contra Le Pen foi apresentada em 5 de outubro de 2016, tento o processo durado quase cinco meses.

“O processo judicial contra Marine Le Pen seguiu os prazos habituais”, considerou a eurodeputada italiana Laura Ferrara, do grupo parlamentar eurocético AFDD, encarregado de estudar a aplicação da justiça pelo Parlamento.

Marine Le Pen rejeitou recentemente uma outra convocação, desta vez da polícia, como parte da investigação sobre empregos fictícios envolvendo vários assistentes parlamentares de eurodeputados da Frente Nacional.

Uma investigação criminal foi aberta contra o deputado da FN Gilbert Collard, que também havia tuitado uma imagem violenta, usando a mesma justificativa que Marine Le Pen.

Mas o escritório da Assembleia Nacional francesa rejeitou em 22 de fevereiro um pedido de levantamento da sua imunidade, considerando o pedido da justiça “insuficientemente preciso”.