Governo alemão proibiu discurso de Erdogan por videoconferência

A crise política da teve nesta segunda-feira, 1º, repercussões internacionais um dia após a manifestação de rua em apoio a Recep Tayyip Erdogan, realizada em Colônia, na . No domingo, cerca de 30 mil turcos e descendentes que vivem em território alemão foram às ruas contra o golpe militar e em apoio ao expurgo realizado pelo presidente.

Mas o discurso do presidente, por vídeo, foi proibido pelas autoridades alemãs, o que levou o governo de Ancara a convocar o encarregado de relações da embaixada da Alemanha para explicações, provocando um atrito diplomático.

A manifestação foi convocada pela União de Democratas Europeus Turcos (UETD), próxima do Partido do Desenvolvimento e da Justiça (AKP), de Erdogan. Na Alemanha reside a maior comunidade de turcos fora do país de origem, com 1,55 milhão de pessoas, de um total de 3 milhões, se contados também os descendentes. A alta presença de imigrantes em solo alemão torna o país uma caixa de ressonância da crise política na Turquia, por isso a manifestação foi realizada.

Mas, para evitar problemas, o Tribunal Constitucional da Alemanha proibiu que Erdogan discursasse aos manifestantes por videoconferência. Nenhuma autoridade de primeiro escalão do governo turco tampouco foi autorizada a discursar na mobilização – apenas o ministro dos Esportes, Akif Cagatay Kilic, pode falar à população presente. 

Para driblar o veto, uma mensagem de Erdogan foi lida ao público na qual o atual presidente defendeu o expurgo que vem realizando há duas semanas nas Forças Armadas, na administração pública, na imprensa e na educação. “A Turquia é mais forte hoje que antes de 15 de julho”, afirmou, referindo-se à data do putsch, o fracassado golpe militar contra ele.

Nesta segunda-feira, o governo de Erdogan convocou o representante diplomático da Alemanha em Ancara para pedir explicações sobre as proibições. A iniciativa tem como pano de fundo a crescente pressão do governo turco pela extradição de membros da confraria do clérigo Fethullah Gulen, ex-aliado do atual presidente que é acusado de ter orquestrado o golpe de Estado. 

Após o episódio, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha tentou colocar panos frios na querela diplomática, considerando que “não há nada excepcional” no chamado de um diplomata a prestar esclarecimentos pela autoridade de um país.

No domingo, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank Walter Steinmeier, deixou claro que Berlim não pretende se ver envolvida na crise política de um país estrangeiro. “Não é bom importar tensões políticas interiores da Turquia”, afirmou em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung.

A preocupação na Europa diz respeito à instabilidade causada não apenas pela tentativa de golpe militar, mas também pelo expurgo que vem sendo realizado pelo governo de Erdogan. Nesta segunda-feira, mais 11 militares foram presos acusados de ter participado do ataque ao hotel na cidade de Marmaris, em que o presidente estava em férias durante o putsch. 

Um total de 37 militares que participaram da operação já foram detidos. Desde a tentativa de golpe, mais de 50 mil pessoas foram demitidas de suas funções nos setores públicos e privados por supostas ligações com Fethullah Gulen, e 10 mil delas acabaram presas – incluindo jornalistas. 

Em tom mais conciliatório após as crescentes críticas internacionais, o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, admitiu hoje a possibilidade de que existam alguns casos de injustiça. “Se houve erros, nós os corrigiremos”, afirmou.