Alunas são punidas por relatar estupro em universidade mórmon dos EUA

Brigham Young aplica sanções às estudantes por infringirem Código de Honra

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Brigham Young aplica sanções às estudantes por infringirem Código de Honra

Nas últimas semanas, a estudante de 20 anos, Brooke, que quis se identificar apenas pelo sobrenome, buscou apoio de outros universitários e da imprensa após relatar que foi estuprada por um colega dentro de seu apartamento. A universidade, Brigham Young Univesity, anunciou que a investigaria por quebrar o Código de Honra da instituição.

A Brigham Young é uma universidade de quase 30 mil estudantes, dirigida por mórmons, que conta com um Código de Honra que orienta aos alunos e professores para as “virtudes morais incluídas no evangelho de Cristo”. O código proíbe o sexo fora do casamento, consumo de bebidas e drogas, “homossexualidade, indecências e má conduta sexual”, além de barbas. Mulheres devem usar saias além do joelho.

Brooke relatou, em reportagem do The New York Times, que teria sofrido sanções por conta do Código de Honra após relatar o estupro. Ela contou à universidade que havia usado um LSD naquela noite e que já tinha se encontrado e feito sexo com o seu estuprador em uma noite anterior.

Uma carta enviada pelo reitor da universidade, quatro meses depois da denúncia, dizia: “você está sendo suspensa da Universidade Brigham Young por ter violado o Código de Honra, incluindo o uso continuado de drogas ilegais e sexo consensual, com efeito imediato”.

A universidade disse que investigaria as denúncias de agressão sexual, mas que teria a obrigação de processar a má conduta da aluna de acordo com o Código de Honra. A repercussão do caso gerou diversos protestos na universidade. A reportagem ouviu outros casos de garotas que tiveram medo de relatarem estupros sofridos dentro do campus.

Segundo peritos que avaliaram o caso, o medo de ser investigados ou suspensos por conta do Código de Honra, ou de perder uma bolsa, pode levar os estudantes a deixarem de relatar ataques sexuais à universidade, potencialmente permitindo que os agressores escapem à disciplina do campus.

É o caso de Mardi Barney, 20 anos, também estudante da Brigham Young. Ela passou quatro dias esperando antes procurar a polícia de Provo e relatar que tinha sido estuprada fora do campus por um homem conhecido, que não era estudante. “Eu só me lembro de chorar e dizer ao policial que não podia falar mais porque a universidade me expulsaria”, disse ao The New York Times.

Não foi diferente. Barney foi convocada pela universidade a prestar informações sobre “outras supostas violações do Código de Honra”, depois que sua denúncia à polícia vazou. O advogado-geral da Brigham Young disse que ela poderia terminar o semestre, mas estaria impedida de se matricular em novos cursos “até que as questões do código de Honra fossem resolvidas”. Ela decidiu não voltar mais à universidade.

O Departamento de Educação Federal dos Estados Unidos exige que as universidades garantam que suas políticas disciplinares não inibam os estudantes de relatar agressões sexuais. As políticas também devem lembrar aos estudantes que o uso de álcool ou drogas não é um convite à violência sexual, segundo o órgão.

Muitas faculdades americanas têm “cláusulas de anistia” que protegem as vítimas que poderiam enfrentar problemas por infrações cometidas antes de eventual estupro, como ter consumido droga ou bebida em um dormitório.

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