‘Vi pedaços de corpos voando para todos os lados’, diz testemunha de ataques
Os relatos são de desespero
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Os relatos são de desespero
A série de seis ataques nesta sexta-feira, que deixou pelo menos 129 mortos e mais de 350 feridos na França, chocou o país e o mundo inteiro. Entre testemunhas e sobreviventes, os relatos são de desespero e angústia ao verem e ouvirem os tiros e explosões que causaram pânico e mortes.
Neste sábado, o grupo que se autodenomina “Estado Islâmico” assumiu a autoria dos ataques por meio de um comunicado. “Esse ataque é só o começo da tempestade e um alerta para aqueles que quiserem meditar e tirar lições”, escreveram os extremistas.
A BBC Brasil reuniu aqui depoimentos de testemunhas que estiveram nos locais onde aconteceram os ataques ou nas redondezas.
Theresa Cede, sobrevivente do Bataclan
“Havia granadas , ou pelo menos uma granada que eu vi. Partes de corpos voando, pessoas gritando…foi horrível. Mas depois todo mundo ficou o mais quieto possível, tentando não se mexer. E durou uma eternidade. Isso durou mais ou menos uma hora. Eu fiquei quase enterrada sob um homem que levou um tiro na cabeça bem do meu lado. E eu estava embaixo dele. E dali ninguém mais se mexeu.
“Depois ouvimos os terroristas que estavam gritando algo com ‘Síria’. E depois diziam: ‘Fiquem abaixados, não se mexam, vamos atirar em vocês!’. Mas eles atiraram mesmo que a gente não estivesse se mexendo. Eu fiquei pensando: será que vou ser a próxima? Só isso que conseguia pensar.”
Kenzo*, britânico que foi estudar em Paris.
“Tenho 23 anos. Estava vendo um jogo de futebol em um bar. Alguém chegou e disse o que havia acontecido. Eu peguei minha câmera (sou fotógrafo) e pulei no meu patinete para ir até o local do ataque. É um café muito conhecido na Rue Faidherbe. Quando cheguei, vi corpos empilhados no chão. Parecia uma carnificina absoluta. Não sei o que dizer. Você não espera que isso aconteça em lugares que você conhece ou onde você está. É monstruoso. Voltei para casa e havia muita tensão no caminho. Eu estava lá também quando o ataque à (revista satírica) Charlie Hebdo aconteceu. Essas pessoas deviam saber, foi tudo muito planejado.”
Jerome Bartelemy, sobrevivente do Bataclan
“Estávamos no bar e ouvimos fogos de artifício – ou o que pensamos que eram fogos de artifício.
Nós viramos, vimos dois homens jovens, não tinham mais que 25 anos, com Kalashnikov (modelo de arma automática). Eles nos disseram para deitar, um deles ficava gesticulando, nos mandando abaixar. Nós todos deitamos. Eu estava me protegendo sob os corpos de outras pessoas – eles continuaram atirando, mas paravam de tempos em tempos. O que eu vi estava usando um agasalho preto com listras brancas. Não tinha mais que 25 anos, tinha cabelo castanho, estava calmo, isso foi o que me deixou impressionado. Em determinado momento, eu virei e nós ficávamos pensando se eram balas de verdade ou não. E eu vi ele atirar em uma pessoa e entendi.”
Jeanette Kane, americana que estava em Paris e está voltando para casa
“Eu estava em uma zona isolada com outros nove americanos. Estávamos em um restaurando chamado Le Triangle, próximo à esquina da Le Petit Cambodge. Nós estávamos comendo, quando houve uma corrida de policiais, uma mulher entrou assustada no restaurante. Nós saímos de lá e ficamos acompanhando as notícias pelo celular. Decidimos ficar no apartamento de um amigo.
Mas o local era bem do lado da casa de shows onde eles estavam mantendo os reféns, então a polícia não nos deixou ficar lá. Nós fomos, então, para o nosso apartamento, mas logo a polícia também nos tirou dali porque era perto de outro ataque. Nós ficamos acordados a noite toda, 10 pessoas em um quarto, tentando acalmar as crianças. Eu estava em Washington no 11 de setembro, meu amigo que estava comigo em Paris estava em Nova York nesse dia. Então o sentimento era de ‘já passei por isso antes.’”
Freedom Jackson, jovem de 18 anos que mora do lado do Bataclan
“Estou aterrorizada. No início, achei que não era nada. Mas fiquei assustada e liguei para os meus amigos, que me disseram para ficar em casa. Moro sozinha no sexto andar, mas agora estou com meu vizinho. Do meu apartamento, é possível ver os carros de polícia. Eu ouvi explosões mais cedo. Depois ouvi mais gritos e pedidos de ajuda. E um “bang” bem alto. Eu achava que eram fogos de artifício. As pessoas continuaram gritando. E então eu ouvi o barulho de vários tiros.”
Sonia Gaillis-Delaphine – estava comendo em um restaurante perto do Bataclan
Eu estava sentada nesse restaurante muito perto do Bataclan. De repente, nós vimos pessoas correndo desesperadas do lado de fora e cada vez mais e mais pessoas. Ouvimos gente dizendo que haviam pessoas com armas atirando. Todo mundo começou a entrar em pânico. Uma mulher entrou no restaurante correndo, ela estava descalça e coberta com sangue. Ela disse que estava no Bataclan e não conseguia encontrar o namorado. Ela pegou o celular de alguém emprestado para ligar para os pais e depois saiu. Depois ouvimos mais tiros. Ficamos escondidos ali por horas. Isso mexeu muito comigo. É um dia muito triste para a França.
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