‘Não há mais país’, conta sobrevivente sobre piora da crise no Sudão do Sul
Mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram de casa; relatos são de estupros e assassinatos infantis
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Mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram de casa; relatos são de estupros e assassinatos infantis
Quase metade da população da mais nova nação do mundo, o Sudão do Sul, corre o risco de passar fome. Novas atrocidades são relatadas quase todos os dias. E mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram de suas casas, a grande maioria para aldeias em áreas pantanosas onde esperam que a subida das águas durante a estação chuvosa vai mantê-las a salvo de soldados saqueadores.
“Não há mais país”, diz John Khamis, 38 anos, que passou grande parte da existência de sua nação abrigado em um acampamento em uma base das Nações Unidas. “Eu não sei como a luta acaba agora”.
Faz menos de dois anos desde que a luta pelo poder entre os líderes da nação mergulhou o Sudão do Sul no caos, inflamando velhas tensões étnicas que quase imediatamente rasgaram este novo país em pedaços.
Apesar de repetidas tentativas de paz, alguns dos combates mais mortais da guerra civil entraram em erupção nos últimos meses.
Os líderes do conflito estão firmemente entrincheirados em suas posições, e os tipos de abusos que chocaram o mundo no início do conflito, incluindo o uso de crianças-soldados e ataques deliberados contra civis, estão sendo feitos de novo, com mais ferocidade.
“Os detalhes do agravamento da violência contra as crianças são indescritíveis”, afirmou o diretor do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Anthony Lake, nesta semana. “Os sobreviventes relatam que meninos foram castrados e deixados para sangrar até a morte. Meninas de 8 anos têm sofrido estupros coletivos cometidos por gangues e assassinadas. As crianças têm sido amarrados juntas antes de seus agressores cortarem suas gargantas. Outras foram jogadas dentro de prédios em chamas”.
Até mesmo o porta-voz dos militares, o Exército de Libertação do Sudão do Sul, coronel Phillip Guarang, reconheceu que o conflito é inútil.
“ Esta é uma guerra sem sentido” disse Guarang.
Chol Garkouth, de 15 anos, mal consegue se lembrar de como sua família celebrava a independência do seu país do Sudão, há quatro anos. Ele não sabe sobre o apoio que os Estados Unidos deu à criação do Sudão do Sul, nem dos oito acordos de paz que entraram em colapso desde que a sua jovem nação entrou rapidamente numa guerra civil.
Mas ele sabe por que pegou numa arma.
“Todos os outros meninos da minha idade estavam indo lutar”, conta Chol, deitado numa cama de hospital, com os olhos turvos, tratando de uma ferida de bala na perna. “Eu queria ir lutar com eles”.
Muitos observadores argumentam que a crise humanitária parece piorar a cada dia.
A economia do país está em queda livre, e o custo dos alimentos, gás e outros bens essenciais disparou.
Até abril, 3,8 milhões de pessoas não tinham comida suficiente. Em um mês, esse número havia sido acrescido em quase um milhão.
“Um número surpreendente de pessoas está passando fome”, afirma a diretora do Programa Mundial de Alimentos no Sudão do Sul, Joyce Luma.
Muitas pessoas estão buscando refúgio em uma aldeia ao norte da cidade de Malakal, Wau Shilluk, onde a população explodiu de três mil para mais de 39 mil. Por mais de um mês, nenhuma ajuda pôde chegar lá por causa dos combates, e crianças ficaram até cinco dias sem uma refeição.
Grupos de ajuda internacionais tiveram que cancelar repetidas viagens na semana passada por causa de bombardeios e confrontos. Finalmente, trabalhadores humanitários foram até Wau Shilluk apesar dos riscos. Mas, no caminho de volta, homens armados dispararam contra um dos barcos — apesar de estar claramente marcado com a bandeira de um grupo de ajuda —, obrigando os trabalhadores a voltarem rapidamente ao porto.
O porta-voz do Programa Mundial de Alimentos em Malakal, George Fominyen, disse que era uma corrida contra o tempo para entregar alimentos e outros suprimentos antes da chegada das chuvas pesadas.
Dak Ongin, 54 anos, lembra-se do dia em que foi declarada a paz no Sudão do Sul, em 2005, e quando o país declarou sua independência, seis anos mais tarde, tornando-se a mais nova nação do mundo.
“ Eu estava esperando que a paz fosse durar para sempre”, conta Ongin, sentado em cima de um monte de terra e lixo apodrecendo na base das Nações Unidas.
A distância, além da cerca de arame farpado, está a casa dele em Malakal e um número incontável de parentes e amigos mortos.
Mr. Ongin não espera mais a paz:
“ Se o governo mantiver essa péssima atitude, vamos derrubar esse muro e tomar de volta a cidade nós mesmos”.
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