“Minha raça é negra, sou revelação, meu sorriso maroto alegra o coração, eu sou porta bandeira na escola de samba, eu sou mais de Cartola se eu fosse canção” (trecho da música “Raça Negra”, lançada em clipe em abril de 2018). Ora com poesia, Dandara Zumbi canta a beleza da mulher negra.
“Negra tem brilho próprio, não queira me ofuscar. Sua luz é tão pequena que nem consigo enxergar. Inimiga chega, treme, com a Tropa Vida Loka, se quiser bater de frente nós vamos calar sua boca” (trecho da música “Tropa Vida Loka”, lançada em clipe em setembro de 2017). Ora com um pitada de agressividade, uma surra de gírias e ideias pesadas, Dandara Zumbi canta a luta do feminismo.
Ela é negra, mulher e da periferia de Campo Grande. Mas nem mesmo uma sociedade machista, racista e preconceituosa a impediram de mostrar sua arte e cantar a luta na qual ela mais acredita. que ela tem certeza que vai vencer.
“A gente vive um processo de mudança e é nítido. De 10 anos pra cá, o valor do negro mudou, a gente vê que o feminismo não é mais tratado como uma frescura. Mulher não quer ser mais do que o homem e as pessoas estão entendendo que a luta é por igualdade. Mas estamos apenas no começo“, pontua a jovem cantora, que aos 19 anos é cheia de atitude e ideais.
Com cinco anos de carreira, Dandara Zumbi gosta de brincar e passear entre os gêneros musicais. De uma canção para outra, ela foi do rap carregado de críticas e gírias, para a leveza e a poesia do funk e do raggaeton, mas sem deixar de lado a composição da representatividade da mulher negra.
“São temos que não dá pra fugir do tema. Lutar pelos direitos da mulher já difícil, mas lutar pelo direito da mulher negra é um peso a mais”, ressalta Dandara.
E desde o início da carreira, aos 13 anos, ela já sabia sobre o que queria cantar. Dandara começou a rimar nas Batalhas realizadas nas ruas de Campo Grande. “Conheci o movimento, a dança, o grafite o hip hop, mas cantava só em roda de amigos. Até que um dia, comecei a participar”, lembra.
Depois de um ano e meio, ela se jogou no rap. “Decidi mostrar minhas músicas e quem sou eu”, conta. E foi aí que nasceu a canção “A Preta Chegou”, a primeira música de trabalho e já repleta de mensagens.
“Me deixo ser livre nesse verso. Livre liberdade é essencial. Meu corpo é pichado de piche. Eu nasci assim, me aceite como igual […] Minha poesia é pura da rua e te cura com cultura marginal. A preta chegou!” (trecho da música A Preta Chegou, lançada em clipe em março de 2017).
Em “Linhas Tortas”, uma das primeiras músicas que ela lançou em clipe no Youtube, Dandara deixa claro as raízes campo-grandenses.
“Minha mãe, por sua cor, de roubo já foi acusada. Dom Antônio, várias fitas. Nova Lima, mil pecados. La-firma é zona norte, mas na sul tem aliada. Trago nas rimas bandeira. Salve rap de Campão. Ouço falange da rima, tenho orgulho do meu chão. Sou poesia de Barros, moldada por Manoel. Sou viola de Helena, de Meirelles sou chapéu. Sou a tal moça bonita que Muchileiros cantou. Sou a mochileira que Geraldo Roca eternizou” (trecho da música Linhas Tortas, lançada em clipe em abril de 2017).
Show
E é com todo este estilo e autenticidade que Dandara Zumbi abre o show do Baco Exu do Blues, neste sábado (16), às 22h, no Via Park Club. A entrada custa R$ 40.