“Sentei no meio da rua, numa mureta, e me senti tão reduzida a nada”

 

Foi com a voz embargada que Cissa Guimarães atendeu o telefone nesta quarta-feira (4), para falar sobre a decisão judicial a respeito do caso envolvendo a morte de seu filho Rafael Mascarenhas. Em segunda instância e por unanimidade, os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reverteram as penas de Rafael de Souza Bussamra – que atropelou o filho da atriz – de seu pai, Roberto Bussamra – que pagou propina a PMs para evitar a prisão do herdeiro -, em pouco mais de três anos de serviços comunitários.

Cissa Guimarães após julgamento da morte do filho: 'Saí do fórum arrasada'Em primeira instância, Rafael Bussamra tinha sido condenado a 7 anos em regime fechado e e 5 anos e 9 meses em semiaberto. Já o pai dele, Roberto Bussamra, havia recebido sentença de 8 anos e 9 meses em regime fechado. Essa decisão chegou a ser celebrada por Cissa Guimarães na TV. Só que os dois estavam em liberdade graças a um habeas corpus, recorreram da decisão e conseguiram reverter o caso.

“Saí do fórum arrasada. Sentei no meio da rua, numa mureta, e me senti tão reduzida a nada. Lutei tanto… Mas preciso ter força, isso não vai me derrubar. Sou a mãe do João, do Tomás e do Rafael. Preciso me fechar na minha fé, que é algo maior, porque estou descrente na Justiça dos homens. É tudo muito triste”, lamenta a atriz, emocionada.

Família Bussamra nunca procurou Cissa Guimarães

Segundo Cissa, a decisão, claro, abalou toda a família. “Não estou nem indignada… Estou triste e com vergonha. Estou com medo do que estamos nos transformando. Essa não é uma decisão que afeta apenas minha família. O que aconteceu dá medo para todos nós enquanto sociedade. Uma sociedade que é co-refém dessa atrocidade”, diz ela.

“Provavelmente havia adolescentes vendo aquela sessão… O que eles vão aprender? Por várias vezez tive vontade de dizer não. Reverter uma pena por homicídio com serviços comunitários? Reverter uma pena por corrupção ativa com serviços comunitários? Que serviço comunitário vai ser esse? Quem sabe esses serviços não transformem essas pessoas em seres melhores e que eles aprendam alguma coisa porque até hoje não aprenderam nada”, completa a atriz, que considera seu filho como seu anjo de luz.

Cissa conta que a família Bussamra nunca a procurou após a morte de Rafael Mascarenhas. “Nunca fizeram isso. Eu juro que perdoaria, a gente se coloca na posição do outro. Acidentes podem acontecer… Uma amiga há pouco tempo atropelou acidentalmente um homem, mas parou, ofereceu ajuda, ficou com a família no hospital… Agora fazer isso e nunca se aproximar? Não é só indignação, é medo”, pontua. A decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ainda cabe recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Superior Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Relembre o caso

Rafael Mascarenhas foi atropelado em julho de 2010, no Túnel Acústico, no bairro da Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, enquanto andava de skate com amigos. A via  – que hoje possui o nome do filho de Cissa Guimarães – estava fechada ao trânsito, mas foi invadida por motoristas que praticavam corridas ilegais, conhecidas como “pegas” ou “rachas”. No grupo, estava Rafael Bussamra, que conduzia o carro que acertou o filho de Cissa Guimarães.

O laudo do carro de Rafael Bussamra mostra que o veículo estava a cerca de 100 km/h no momento do acidente, quando a velocidade máxima permitida no túnel é de 70 km/h.

Segundo a perícia, Rafael Mascerenhas foi arremessado a 50 metros do local do atropelamento. Dois policiais militares, Marcelo de Souza Bigon e Marcelo José Leal Martins, cobraram R$ 10 mil de Rafael Bussamra para liberá-lo após constatarem o carro com avarias. O rapaz chamou, então, o pai, Roberto Bussamra, que negociou com os PMs. Por causa do ocorrido, os agentes responderam a um Inquérito Policial Militar e foram expulsos da corporação em 2010.