A manhã desta quarta-feira (13) assolou o Brasil com a trágica notícia sobre o tiroteio em Suzano, cidade próxima à São Paulo Capital. Até o momento da construção desta matéria, o massacre, causado por dois adolescentes armados, deixou 10 mortos e 10 feridos.

Os dois adolescentes que invadiram a escola para cometer o crime, se mataram na sequência. Eles vestiam máscaras de caveira e luvas. Usavam armamento militar e outros, como um arco e flecha e coquetel molotov.

Os estudantes presentes saiam em desespero e pânico em busca de abrigo nos comércios da região. De acordo com a Polícia Militar de São Paulo, um revólver calibre 38 e até uma besta, arma semelhante a uma espingarda, que atira flechas, foram encontradas.

Semelhanças com o passado

Suzano e Columbine: 20 anos separam os massacres com semelhanças chocantes
Eric Harris e Dylan Klebold foram os responsáveis pelo Massacre de Columbine em abril de 1999

Há 20 anos atrás, em 1999, outro massacre, muito parecido com o presenciado nesta quarta-feira (13), assombrou o mundo em Columbine nos Estados Unidos, trazendo à tona discussões sobre sobre leis de controle de armas, gangues do ensino médio, subculturas e bullying, além da saúde mental dos estudantes e violência no país.

No Massacre de Columbine, como ficou conhecido o caso ao redor do mundo, os autores do crime, os alunos seniores Eric Harris e Dylan Klebold, mataram 12 alunos e um professor. Eles também feriram outras 21 pessoas, e mais outras três ficaram feridas enquanto tentavam fugir da escola. Depois de trocarem tiros com policiais respondentes, a dupla cometeu suicídio.

Nos meses anteriores ao ataque, Eric e Dylan adquiriram duas armas de fogo de 9 mm, e duas espingardas de calibre 12. Um amigo da dupla, Robyn Anderson, havia inadvertidamente comprado um rifle e as duas espingardas usadas no massacre no Tanner Gun Show, em dezembro de 1998. Mais tarde, através de Philip Duran, outro amigo da dupla, Eric e Dylan compraram um revólver de Mark Manes por 500 dólares.

Consequências

O massacre resultou em pedidos para mais medidas de controle de armas. Em 2000, foi introduzida a legislação federal e estadual que exigia fechaduras de segurança em armas de fogo, assim como proibia a importação de cartuchos de munição de alta capacidade.

Embora as leis que transformavam em crime o ato de comprar armas para criminosos e menores de idade tenham sido aprovadas, houve uma considerável controvérsia contra a legislação quanto às verificações de antecedentes em lojas de armas.

Havia uma certa preocupação no lobby de armas tratando-se das restrições aos direitos da Segunda Emenda, que protege o direito da população de manter e portar armas, aprovada em 15 de dezembro de 1791 nos Estados Unidos. Em 2001, a K-Mart, que havia vendido munição aos atiradores, anunciou que não iria mais vender munições para revólveres.

Além, em resposta às preocupações expressas sobre as causas do massacre na Columbine High School e outros tiroteios em escolas, algumas escolas renovaram políticas anti-bullying já existentes. As instituições também adotaram uma abordagem de tolerância zero para a posse de armas e comportamento agressivo por parte dos alunos e tomar medidas de segurança como mochilas transparentes, detectores de metais, uniformes escolares e guardas de segurança.

Repercussão cultural

Várias produções foram feitas à respeito da tragédia em formatos de livros, músicas, filmes e documentários, a maioria delas envolvidas em controvérsia. As principais foram o documentário vencedor do Oscar em 2002, “Tiros em Columbine” (Bowling for Columbine – 2002) produzido por Michael Moore.

O documentário critica a cultura armamentista estadunidense demonstrando como o pensamento de “a melhor defesa é o ataque“, agia sobre os cidadãos americanos, provocando uma insegurança nacional que fazia com que o medo seja um sentimento crônico entre os americanos e consequentemente fazia-os buscar uma falsa segurança “armamentista” e violenta.

Outro filme considerado como perturbador por alguns telespectadores e também baseado no massacre de 1999 é “Elefante” (Elephant – 2003). A produção foi aclamada no Festival de Cannes, dando ao diretor Gus Van Sant o prêmio de Melhor Realizador e ao filme a Palma de Ouro.

O longa aborda o cotidiano dos jovens da escola, as práticas de bullying dissimuladas, com estereótipos típicos e recorrentes na realidade americana da época, como a bolinha de papel jogada em um aluno do fundo da sala; o revanchismo dos agressores com o grupo dos “atletas imbecis”; a omissão da diretoria em ouvir os agressores, que eram vítimas de bullying, etc.

A narrativa, as cenas vistas várias vezes de ângulos diferentes nas perspectivas de cada uma das vítimas e dos autores do crime, as vidas entrelaçadas, o caos do ataque, são colocados de uma forma singular pelo diretor.