Humanização deveria estar presente desde o pré-natal, mas nem sempre é assim

Aos seis meses de gestação, Gláucia custou encontrar atendimento com respeito

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Aos seis meses de gestação, Gláucia custou encontrar atendimento com respeito

“Falam muito sobre parto humanizado, mas acho que deveriam começar a falar sobre pré-natal humanizado também”. Esse é o desabafo da empresária Gláucia Regina Negri Lomba, que aos 31 anos está grávida de 31 semanas do primeiro filho e, mesmo com um plano de saúde, enfrentou um verdadeiro dilema até encontrar um médico obstetra que, pelo menos, começasse o pré-natal de forma mais respeitosa.

“Desde o início minha vontade era de ter um parto humanizado, então, deixei minha ginecologista, que não era obstetra, e fui atrás de algum profissional que fizesse”, conta Gláucia.

E, de cara, ela se deparou com a “taxa de disponibilidade”, que nada mais é do que um valor cobrado pela maioria dos obstetras para ficar à disposição da gestante durante todo o trabalho de parto, desde o rompimento da balsa ao nascimento do bebê, mesmo o plano de saúde cobrindo o serviço de parto. “Eu não concordo com isso, mas aceitei que se quisesse um parto humanizado, teria que pagar”, diz a empresária.

Logo que Gláucia descobriu que estava grávida, ela encontrou uma médica que fazia parto humanizado, também cobrando a taxa de disponibilidade. “Aceitei que eu pagaria o valor e segui com ela até o sexto mês de gestação. Foi  quando eu tentei, durante um mês, marcar consulta  e não consegui. Acredito que o problema tenha sido a secretária e não a médica”, explica. 

Mas fato era que Gláucia estava com a gestação avançada e com o pré-natal atrasado. “Enquanto eu tentava marcar consulta com ela e não conseguia, fui tentando encontrar outro médico para me atender. Eu estava cheia de dúvidas, insegura, me sentindo desamparada, ansiosa e com medo de perder prazos de exames. Eu estava sozinha com seis meses de gravidez e tudo o que eu mais queria era encontrar um médico para ‘chamar de meu’, pra eu enchê-lo de perguntas e me trazer paz, tranquilidade e segurança”, desabafa. 

Saga

Foi, então, que Gláucia começou uma verdadeira saga atrás de algum médico que a amparasse neste momento quando as emoções da mulher ficam tão à flor da pele. “Uma amiga me mandou uma lista com diversos contatos de médicos. Eu só precisava escolher um, ligar, agendar uma consulta e, enfim, ficar tranquila”, conta.

Humanização deveria estar presente desde o pré-natal, mas nem sempre é assimMas não foi bem assim que a busca por um obstetra seguiu. “Liguei no primeiro consultório, expliquei que estava há quase três  meses sem consulta – dois por falta de informação minha e um porque não conseguia retorno com minha médica -, eu disse que estava com seis meses e ansiosa. A secretária me perguntou se eu tinha convênio, respondi que sim e ela me disse que só teria consulta para o próximo mês. Mas eu não podia esperar tanto”, relata a empresária.

E assim, ela seguiu para o próximo nome da lista, escolheu  outra clínica, novamente explicou sobre a consulta atrasada, a ansiedade e o tempo de gestação. “Desta vez, a secretária perguntou se eu tinha convênio, respondi que sim, ela, então, pediu o número do meu celular e falou que me retornaria. Até hoje nada”, diz Gláucia.

O jeito foi, mais uma vez, ir para o próximo da lista e continuar a lidar com a ansiedade, que só aumentava a cada ligação frustrada. Na clínica da vez, a pergunta da secretária foi a mesma: “é convênio?”

“Já estava me sentindo mal, como se estivesse ‘pedindo um favor’, mas respondi, chateada, que sim, era convênio”, relata. Mas, para a surpresa de Gláucia, a secretária disse que tinha horário para a próxima semana. Contudo, o alívio da gestante de primeira viagem durou pouco tempo. Tinha horário, mas também tinha uma ressalva: a secretária informou que a primeira consulta era feita pelo particular e a médica cobrava R$ 410, passando a atender pelo plano de saúde só a partir da segunda consulta. “Mas eu não pago plano de saúde há anos para ter que pagar consulta particular a médico conveniado”, conta. 

A saga continuou e lá foi Gláucia ligar para a quarta clínica. E, enfim, um tratamento afetuoso deu esperança à empresária. “Adorei a secretária, muito  atenciosa e prestativa. Soltou até um ‘nossa!’ quando eu expliquei sobre os quase três meses sem consulta. Enfim, consegui agendar atendimento para a semana seguinte”, conta.

Esperança e frustração

E assim, Gláucia foi à consulta agendada como “encaixe”. A secretária marcou para as 16h30, mas ela só foi atendida próximo das 19h. “Eu era a última no consultório quando me chamaram. Mas não reclamei. O importante é que iria tirar minhas dúvidas, mostrar meus exames que ninguém tinha visto ainda e, enfim, teria um médico”, desabafa.

Gláucia entrou na sala do médico cheia de expectativa, pensando que, enfim, a busca por um obstetra havia acabado. Mas ela precisou encarar mais uma frustração. 

“Quando o médico  chegou, fui abrindo minha pasta de exames e colocando na mesa, enquanto respondia às perguntas que ele fazia. Eu falei que eu tinha uma lista de dúvidas e perguntei se eu já podia começar a fazê-las. Ele não respondeu e me perguntou que tipo de parto eu pretendia fazer”, conta.

No meio desta saga toda, Gláucia resolveu que faria o pré-natal com um bom obstetra, mas, por causa do valor alto da taxa de disponibilidade, acabou desistindo do parto humanizado e optando por um parto normal com o médico do convênio que estivesse de plantão na maternidade. A essa altura, o sonho do parto humanizado já tinha dado lugar à ânsia de apenas encontrar alguém que lhe tratasse com dignidade durante a gestação.

“Claro que eu queria meu obstetra comigo, mas realmente o valor da taxa de disponibilidade que eles cobram é muito alto pra mim”, pontuou a gestante.

E depois que ela respondeu à pergunta do médico, a resposta dele chegou como um balde de água fria em Gláucia. “Com meus  exames espalhados na mesa e já com a minha listinha na mão, esperava ele dizer para eu começar com as minhas dúvidas. Tínhamos conversado uns 4 minutos quando ele perguntou que tipo de parto eu queria ter. Depois de eu explicar a minha situação, ele perguntou se eu não gostaria de ser tratada com respeito. Respondi que sim, mas expliquei que usaria apenas o que o plano cobre”, diz a gestante.

E a conversa continuou. “Então, ele  disse que não achava certo sair do conforto da casa dele, da cama dele, para  fazer meu parto de madrugada sem ganhar  pra isso. Eu respondi que ele estava certo mesmo, tanto que eu não havia pedido para fazer isso, pedi apenas para fazer meu pré-natal, pois o parto faria com o plantonista”, explica.

E a consulta acabou em seguida, quando o obstetra disse que não faria o pré-natal para outro profissional realizar o parto. “Ele justificou que desta maneira sairia no prejuízo. Fiquei nervosa, triste, me senti rejeitada e até um tanto humilhada. Fui  catando meus exames da mesa dele e guardei de volta na minha pasta. Dobrei  minha lista de dúvidas, coloquei no meu bolso, olhei para ele e falei que eu devia ter perguntado antes se ele aceitaria apenas fazer meu pré-natal, na esperança de que aquele homem que me perguntou se eu não queria ser tratada com respeito fazendo parto humanizado fosse cair em si e me chamar de volta. Mas ele se limitou a respondeu: ‘devia’. E assim ele me deixou sair da sala, com dúvidas, mais de 19h, ansiosa e sem sequer olhar meus exames”, lamenta Gláucia.

Fim da saga

A saga de Gláucia para encontrar um obstetra chegou ao fim no início de março, pouco antes de ela entrar no sétimo mês de gestação. “Lembrei da minha ginecologista, mas fui nela na intenção de mostrar meus exames e pedir indicação de algum obstetra, já que ela não fazia mais partos. Mas para a minha surpresa, ela havia voltado para a obstetria e aceitou acompanhar meu pré-natal na condição de eu fazer o parto com o plantonista, pois ela também cobra a taxa de disponibilidade”, explica.

Humanização deveria estar presente desde o pré-natal, mas nem sempre é assimMais tranquila, Gláucia agora consegue curtir a gestação com mais segurança. “Fui muito bem atendida, como sempre. Ela me pediu para  tomar umas vacinas, dizendo que estava em cima da hora, mediu  minha barriga, me pesou, olhou todos os meus exames e pediu mais alguns outros, tirou todas as minhas dúvidas, escutamos o coração do meu bebê, aferiu minha pressão e até sorriu para mim”, conta Gláucia, ressaltando o detalhe do sorriso, que lhe foi caro diante de todo o desgaste em busca de um atendimento, no mínimo, gentil.

“Graças a Deus a minha gestação está sendo maravilhosa, nenhum enjoo, nada de cólicas, nada de azias, nenhum sangramento. Mas se eu tivesse precisado de ajuda, estaria enrolada”, desabafa a mamãe do João Pedro.

E diante de tudo o que passou no último mês, ela ressalta sobre a tão falada humanização dos partos, para que os médicos que levantam  essa bandeira sejam também mais humanos durante o pré-natal. 

“Pago  plano de saúde há anos e, por isso, pensei que estaria tranquila quando engravidasse, que teria um tratamento diferenciado. E realmente tive. Só que para  pior. Mas também não acho que o convênio que seja ruim, os médicos é que estão estragando ele”, pontua Gláucia.

Posicionamento da Unimed

De acordo com a assessoria de imprensa da Unimed de Campo Grande, a cooperativa não apoia a cobrança da taxa de disponibilidade, assim como também repudia a postura do médico conveniado em cobrar a primeira taxa particular na primeira consulta. E ainda orienta que o paciente que se sentir lesada pode fazer a denúncia na central de atendimento.

O canal de comunicação atua por meio do atendimento presencial, com a formulação da manifestação através de um formulário impresso depositado em uma urna localizada tanto na Sede da Unimed Campo Grande quanto no Hospital Unimed Campo Grande. O Unimed Responde ainda está presente no site oficial http://www.unimedcg.com.br, no link Fale Conosco, no site oficial da Unimed do Brasil, www.unimed.coop.br, no Reclame Aqui e pelo e-mail [email protected]

 

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