De bicicleta e com uma gata, eles vão ao Alasca para ver a aurora boreal
Rumo ao Alasca, Marcelo e Lizandro viajam de bicicleta com a gata Névoa. Saiba mais sobre esta aventura e a filosofia de vida desta família.
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Com uma gata na garupa eles estão indo para o Alasca de bicicleta. Marcelo e Lizandro estão em Campo Grande e devem partir neste sábado em direção à Bolívia. Mas a viagem começou há mais de um ano, na Bahia.
Marcelo Totipah, como se identifica agora, nasceu como Marcelo Nogueira Ribeiro dos Santos e “nesta vida” tem 32 anos. Em fevereiro de 2017 ele saiu de Salvador, onde morava, com uma ideia e uma filosofia na cabeça, arrebanhando pessoas pelo caminho. Lizandro Santos de Oliveira, de 20 anos, uniu-se ao projeto há 10 meses, quando passavam por Natal, no Rio Grande do Norte.
Totipah, como eles explicam, é uma palavras do gaélico arcaico e pode ter muitos significados, mas remete aos “sonhos, seguir seu caminho coração”, explica Marcelo. É um projeto que “questiona desde o princípio, a educação, o custo de se viver, do preço de tudo, do medo, da garantia do amanhã. Vai desde o budismo ao catolicismo. Sobre buscar seus dons. Essa filosofia nasceu de mim, da necessidade de se encaixar”, especifica. “Pra mim é uma etnia, mas de uma tribo que não existe”.
A tribo é uma etapa do projeto para depois da viagem, quando eles pretendem fundar a Aldeia Totipah. Seria um tipo de sociedade alternativa, sem manipulação de dinheiro, energia elétrica e autossustentabilidade.
“O projeto é muito sonhador, muito filosofal, acredita em um mundo melhor, que talvez só seja possível alcançar daqui 500 anos, mas grandes árvores precisam de boas sementes”, adiciona ele.
“Alexia foi derrubada”
Há 10 meses, quando a comitiva composta por 5 pessoas chegou em Natal, no Rio Grande do Norte, aconteceu a parte mais difícil da jornada. Uma das integrantes, Alexia, que saiu com Marcelo de Salvador, foi atropelada e morreu.
“Quando Alexia foi derrubada, eu pensei que o projeto fosse acabar. Mas saímos de lá com 7 pessoas. A Alexia tinha acabado de dar entrevista para uma TV local e a mensagem de motivação dela rodou muito. Ela teve morte cerebral. Receber os pais dela foi muito difícil. O funeral dela foi outro momento complicado. Parte de mim, dizia que eu era culpado pela morte dela, pois ela abraçou o projeto”, descreve Marcelo.
Entretanto a reação dos pais de Alexia foi determinantes para que Marcelo aceitasse a situação. O pai o incentivou a cantar, dentro de uma igreja católica, as canções xamânicas que ela gostava. Quando ele não queria dar entrevista para a imprensa local, foi o pai que o encorajou a espalhar as ideias que a filha acreditava.
No período dois meses em que ficaram estabelecidos em Natal, Lizandro conheceu o grupo e criou laços. Nasceu o relacionamento com Marcelo e hoje eles são os felizes pais da gatinha Névoa, que entrou para o grupo na próxima parada, em Fortaleza.
“A Névoa foi encontrada por uma amiga nossa no dia antes de ela fazer contato conosco. Ela ia nos acompanhar pela cidade e disse que não ia poder pois estava cuidando da gatinha que havia acabado de encontrar. Então dissemos: ‘traz a gata’”, relembra Marcelo.
Voltas pelo Brasil
Após Natal e Fortaleza eles passaram por São Luís, no Maranhão e chegaram a Belém, no Pará. Neste momento estavam prestes a sair do Brasil e já com apenas 4 pessoas. Dois deles resolveram se despedir de familiares e acabaram desistindo da viagem.
Como o melhor caminho nem sempre é o mais curto, Marcelo e Lizandro decidiram rumar para o sul passando pela Transamazônica e pela Santarém-Cuiabá. Como já estavam no Mato Grosso, Marcelo, que é sul-mato-grossense de Paranaíba, decidiu pedalar por estas bandas.
Em Campo Grande estão hospedados na casa de uma amiga ex-mochileira que mora no bairro Aero Rancho. Conseguiram atendimento veterinário na clínica Petville para a Névoa e receberam revisão para as bicicletas na Bike Norte MS.
Carinho e amor
Em relação ao questionamento sobre como eles se mantém na estrada, Marcelo é categórico: “com muito carinho e muito amor. Alimentação a gente quase sempre recebe na estrada, porque a gente conversa com os donos de restaurantes self-service. Sempre tem bandejões que vão ser desperdiçados, então a maioria dá com muito carinho. Muitos seguem a gente nas mídias sociais”, conta.
Eles também contam com a ajuda de aplicativos para localizar hospedagem, banho e alimentação pelas cidades onde passam. Normalmente dormem em postos de gasolina, onde montam as barracas e aproveitam a estrutura dos caminhoneiros.
“Quando a gente precisa, bate na casa do povo e pede água. Vamos vivendo um dia de cada vez. Tem uns dias que são lindos, tem dias que são pesados. Tem os dias ‘eu nasci pra isso’ e dias de ‘o que é isso que eu tô fazendo’. Mas tem que acreditar. A gente deve sair do Brasil, contanto com tudo que a gente vai gastar, com uns 200 reais”, calcula Marcelo.
Sobre o que mais sentem falta da urbanidade, Lizandro diz que sente falta de sua cama: “O que mais me deixa pensando é quando chega no final do dia e eu ainda não tenho certeza que hora eu vou dormir. Acontece poucas vezes, mas quando acontece me abala. Se eu estivesse em casa ia ter minha cama e ia dormir logo”, opina. Já Marcelo rapidamente cita a Netflix. “Gosto muito de séries e filmes. Na casa da minha amiga tem wi-fi, estou me atualizando”.
Rumo ao Alasca
A previsão é que neste sábado eles partam para Corumbá, onde atravessarão a fronteira e deixam o Brasil pela Bolívia. Neste momento vai se iniciar a jornada de 16 mil quilômetros em busca da aurora boreal.
“A estimativa é que a viagem dure um ano e meio, em média. Pode ser um ano, pode ser 5 anos. Mas a gente acredita que vai ser um pouco mais de um ano, se não tiver joelho machucado, bike quebrada ou gata doente”, detalha Marcelo.
Eles já providenciaram os passaportes e a documentação necessária para viajarem com a Névoa.
Para saber mais ou ajudar, acesse a fan page do projeto no Facebook e o blog da tribo.
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