Desde seu início, Sex Education e sua criadora, Laurie Nunn, deixaram bem claro a importância de se naturalizar as conversas sobre sexo e relacionamentos – e o fizeram de forma sensível, como poucas séries de TV conseguem. Na terceira temporada, isso é levado mais além: enquanto segue se aprofundando em seus (ótimos) personagens, a série faz uma crítica direta à desinformação e ao moralismo que impedem o acesso de adolescentes (e outras tantas pessoas) a dados importantes sobre sua saúde e sua qualidade de vida. E sim, a série continua ótima – até melhor, na verdade. 

Após os eventos da temporada anterior, o colégio de Moordale ganhou na mídia o apelido sensacionalista de “escola do sexo”. Para tentar recuperar a reputação da instituição, chega uma nova diretora, Hope (Jemima Kirke, de Girls), que por trás da juventude e do ar descolado esconde uma postura implacável que vai tornando a experiência dos alunos cada vez mais rígida e tenta, aos poucos, apagar suas individualidades.

A série usa a trama, sabiamente, para questionar os perigos da desinformação que vem de supostas autoridades – no caso, a instituição da escola. Se no 2º ano o surto de clamídia foi amplificado pela falta de informações de qualidade, agora o problema é justamente o fato de informações falsas serem propagadas em um lugar que deveria ser seguro e confiável. Nunn e seus roteiristas trabalham bem o assunto, aproveitando para criticar também o moralismo e a hipocrisia de quem insiste em se escandalizar com a ideia de que – pasme! – adolescentes também fazem sexo e têm personalidades próprias. É um toque do mundo de fora de Moordale High (e fora das telas) que só engrandece a produção e reforça sua relevância.

Em paralelo, Sex Education continua seu trabalho brilhante em desenvolver seus personagens, e é uma delícia acompanhá-los à medida que eles amadurecem e passam a lidar com assuntos cada vez mais complexos. Otis (Asa Butterfield) e Maeve (Emma Mackey), ainda estremecidos, começam a se ajustar em seus respectivos caminhos; Jean (Gillian Anderson), visivelmente grávida, precisa lidar com uma nova configuração familiar; e Eric (Ncuti Gatwa) e Adam (Connor Swindells), embora assumidos, enfrentam novas questões em seu relacionamento e suas vidas.

Repetindo a estrutura mais fragmentada da segunda temporada, os novos episódios dão espaço para os personagens se desenvolverem individualmente, o que permite boas surpresas, como o aprofundamento em Ruby (Mimi Keene), que até então era só uma das “meninas malvadas” da escola, ou a jornada do Sr. Groff (Alistair Petrie) em busca da felicidade. Também é um ponto positivo a chegada de Cal (Dua Saleh), uma pessoa não binária que mexe com Jackson (Kedar Williams-Stirling) e levanta novas discussões com naturalidade e leveza.

Mas mesmo em seus momentos mais leves, a série deixa claro que as decisões e conversas entre seus personagens estão cada vez mais complexas e cheias de nuances. Sex Education não tem mocinhos nem vilões, e ao assistir aos dois pontos de vista de cada discussão, é quase impossível ao menos não compreender cada um dos lados, no que é um dos grandes acertos da temporada.

Assim como seus personagens, Sex Education continua a amadurecer — e acompanhar essa jornada é sempre um prazer.

Confira o trailer da nova temporada: