O conceito de rotina se transforma com o tempo. Hoje, as agendas vivem lotadas, as pessoas andam apressadas e as notificações nos iludem de que a vida é muito mais interessante no on-line. Então, vivemos no automático, sem observar a vida acontecendo ao redor. Questiono: qual a última vez que você observou um pôr do sol? Qual a última vez que brincou com seu pet? Quando se permitiu desacelerar para viver o real?
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Foi a partir deste entendimento que Susan Eloy e Bárbara, juntas há 8 meses, decidiram mudar o cenário do café da manhã neste sábado (21) e, assim, apreciar o ato ordinário com uma vista espetacular: um ipê-rosa criando um tapete vibrante na calçada da Afonso Pena, em Campo Grande.
A calmaria do casal contrastou com a rapidez com que os carros passavam a poucos metros, chamando atenção da equipe do Midiamax que voltava de mais uma pauta policial. Fomos conversar com elas, claro.
Calmaria no caos
Assim que chegamos à ciclovia repleta de flores, fomos recepcionados por sorrisos simpáticos e curiosos. As duas faziam selfies e logo toparam compartilhar um pouco do pensamento que as levaram ali, em uma manhã fresca de outono.
Bárbara contou que ama ipês, especialmente os rosas, e, sempre que vê a árvore florida, observa se já está perto do período de ‘chuva’, quando as flores se soltam e formam os tapetes no chão. Na sexta, ela passou pela Afonso Pena, reparou que algumas flores começavam a cair, e combinou com Susan de que passariam pelo local na manhã seguinte, para apreciar a vista e garantir algumas fotos.
Às 7h, as duas chegavam ao local em que o rosa esconde o cinza da calçada, munidas de um tapete de yoga, uma garrafa de café, xícaras, um livro e cartas de um baralho cigano.
“Você pode reparar, as pessoas passam por aqui e nem reparam que o ipê está florido, não observam a beleza, o chão cheio de flores. Isso aqui está lindo”, conta Susan, que tem uma quedinha por ipês-brancos.
Mais tarde, Bárbara pretende procurar outro ipê-rosa para fotografar com sua filha de 15 anos, uma tradição que criaram.
GALERIA: Florada de ipê-rosa encanta moradores em Mato Grosso do Sul
Ipê-rosa
O repórter de imagens Helder Carvalho voltava de uma pauta policial quando percebeu o casal sentado à sombra do ipê. Tocado pela sensibilidade da cena, escreveu uma crônica.
“Em meio às correrias das pautas factuais, foi o acaso que me presenteou com uma cena que me fez parar. O céu estava cinzento, o vento frio cortava a manhã e a cidade seguia no seu ritmo apressado — carros, buzinas, pressa.
No meio do asfalto molhado com o sereno da noite anterior, da correria, do concreto que parece sempre indiferente, um recorte de calma me chamou a atenção. No canteiro, cercado pelo rosa vibrante dos ipês que teimam em florir mesmo nos dias cinzentos, um casal. Sentadas lado a lado, compartilhavam um café e o tipo de conversa que aquece mais que qualquer xícara.
O contraste era quase poético. Enquanto a cidade não desacelera, elas pausaram. No meio do vai e vem apressado, escolheram estar — presentes, inteiras, indiferentes à urgência lá de fora.
O som dos motores parecia distante diante daquela cena. Era como se o tempo tivesse dado uma trégua, como se o frio não existisse ali, naquele quadrado de mundo onde as flores caídas formavam um tapete e o café servia de abrigo.
Fotografar também é isso: perceber quando a vida, sem aviso, desenha poesia no meio do caos. E que sorte a minha ter cruzado com elas.
Bárbara e Suzan Eloy, obrigado por partilhar esse momento tão pessoal…“
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