Precursora das artes plásticas em MS, Lídia Baís retratava temas espirituais em suas obras
Conheça um pouco mais da história da artista plástica, que se consagrou como figura importante na memória de Campo Grande
Monique Faria –
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‘Por minha causa vocês vão ficar na história’. A frase dita por Lídia Baís aos seu familiares carrega toda a coragem e ousadia da artista plástica, figura importante na memória de Campo Grande. Entre rótulos de rebelde e louca, Lídia se consagrou como a precursora das artes plásticas em Mato Grosso do Sul.
Nascida em 22 de março de 1900, na capital sul-mato-grossense, Lídia iniciou sua trajetória artística ainda jovem. Entre os temas marcantes em suas obras, estão espiritualidade, família e sociedade. Para expressá-los, a artista aprofundou-se em suas próprias relações familiares e trajetória de vida.
Por meio de pinturas e composição de músicas, inclinou-se sobre temas espirituais. Suas obras exploravam as nuances entre o sagrado e o profano e, então, causaram grande desconforto na sociedade conservadora da época. Assim, seus posicionamentos transgressores foram as responsáveis pelos rótulos de rebelde e louca, os quais recebera.
Vida e relações familiares
Filha do italiano Bernardo Franco Baís e de Amélia Alexandrina, ambos de Coxim, Lídia era a caçula de sua família. A artista nasceu e passou grande parte da sua vida em Campo Grande, entre as margens do Segredo e a ferrovia. Entretanto, sua paixão pelas artes fez com que Lídia conhecesse boa parte do mundo.
Em 1926, ela se mudou para o Rio de Janeiro para iniciar seus estudos de pintura com Henrique Bernadelli. Um ano depois, seguiu para a Europa, mais especificamente Berlim e Paris, onde teve contato com o pintor Ismael Nery. Em 1928 volta ao Brasil e retoma os estudos com Bernadelli. Já em 1929, realizou sua única exposição individual, na Policlínica Geral do Rio de Janeiro.
Contudo, Lídia era vista pelos familiares como ‘louca’, devido à sua arte transgressora e relatos mediúnicos. Com isso, chegou a ser internada em uma clínica psiquiátrica pela família. Entretanto, Bernardo Franco Baís ofereceu uma condição à artista para que deixasse a clínica: se casar. Lídia, então, casou-se com o advogado Ary Ferreira Vasconcelos, apenas para se divorciar cinco dias depois.
Em 1950, Lídia fundou o Museu Baís em Campo Grande, que não chegou a ser aberto ao público. Anos mais tarde, entrou para a Ordem Terceira de São Francisco de Assis e adotou o nome de Irmã Trindade. Assim, dedicou-se aos estudos religiosos e filosóficos. Em 1960, publicou o livro “História de T. Lídia Baís”, sob o pseudônimo de Maria Tereza Trindade.
Por longos períodos a artista permaneceu enclausurada no ateliê pintando e compondo músicas ao piano. Lídia também doou parte de seus pertences aos pobres que batiam a sua porta pedindo ajuda. Ela faleceu em 10 de outubro de 1985.
Morada dos Baís
Bernardo Franco Baís, fundou, em 1918, a Morada dos Baís, casa onde Lídia residiu por vários anos. Bernardo era o primeiro superintendente (prefeito) da cidade, e a construção marcou um capítulo na história de Campo Grande, sendo o segundo sobrado do contexto urbano e o primeiro construído em alvenaria.
Em 1938, contudo, Bernardo faleceu, vítima de um atropelamento de trem. Assim, Nominando Pimentel alugou a casa e a transformou em pensão. A construções passou por vários donos, até 1979. Em 4 de julho de 1986, o Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural de Campo Grande tombou o casarão.
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