‘Fim de uma era’: criadoras de conteúdo digital lamentam descontinuidade do Meta Spark

Plataforma de criação de filtros de realidade aumentada será descontinuado a partir de 14 de janeiro de 2025

Monique Faria – 30/08/2024 – 17:00

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Filtros do Instagram serão descontinuados. (Ana Laura Menegat, Midiamax)

A Meta, empresa responsável pelo Instagram e Facebook, anunciou, nesta terça-feira (27), que vai encerrar as atividades do Meta Spark, plataforma de criação de filtros de realidade aumentada (RA). Com isso, criadores de conteúdo na plataforma lamentam a exclusão do recurso, previsto para o dia 14 de janeiro de 2025.

A campo-grandense Juliana Lima começou a criar filtros na rede social Instagram em 2020. Com o ‘lockdown’, medida adotada na pandemia, resolveu aprender algo novo, já que precisou ficar em casa. A maquiadora, então, aproveitou seus conhecimentos em programas de edição, como Photoshop e Lightroom para mergulhar no mundo dos filtros.

“A plataforma disponibilizava o programa de criação chamado Spark AR de forma gratuita. Dentro do site, também era possível encontrar várias aulas gratuitas. Como sou maquiadora, iniciei o treinamento recriando maquiagens temáticas de Carnaval e Halloween. A ideia era que, se a pessoa não conseguisse reproduzir a maquiagem em casa, ela pudesse usar o filtro para fazer seus stories, reels ou fotos”, conta Juliana.

Entretanto, foi a ideia de criar um filtro para o Rock in Rio, que fez com que Juliana viralizasse na plataforma de filtros e alcançasse milhares de impressões logo na primeira noite do evento.

“Percebi que gostaria de criar um filtro específico para uma situação, como uma homenagem ao Rock in Rio. Na primeira noite do evento, ele alcançou 100 mil impressões. Fiquei muito feliz em ver que até o Marcos Mion usou o filtro para se apresentar através do Instagram. Depois mergulhei de cabeça e fiz mais criações”, conta.

Juliana Lima cria filtros para as redes sociais desde 2020. (Reprodução, Instagram)

Impressões na rede social

Juliana chegou a criar alguns filtros de maquiagem com o intuito de embelezamento, mas foram os que continham frases que mais se destacaram. Os filtros ajudaram a maquiadora no engajamento do seu perfil, e logo começou a receber mensagens de usuários de todo o Brasil, a parabenizando pelas suas criações. A maquiadora também ficava feliz em saber que suas clientes estavam usando os filtros em vídeos e selfies.

“Minhas clientes e seguidoras ficavam muito felizes em conhecer a pessoa que os criava. Quanto mais as pessoas usavam, mais minha página se engajava. Eu recebia mensagens de vários lugares do Brasil, pessoas agradecendo pelo filtro que criei. Às vezes, uma seguidora me enviava um direct dizendo: ‘Olha quem está usando o seu filtro’. Isso me dava uma sensação incrível de reconhecimento”, afirma.

Apesar de não monetizar com os mais de 100 filtros criados, as 207,5 milhões de impressões que obteve no Instagram e Facebook ajudaram Juliana a ficar reconhecida na área. A maquiadora chegou a produzir filtros temáticos para empresas, que buscavam crescer nas redes sociais de forma orgânica.

Assim, Juliana lamenta pelo fim do recurso, que segundo ela, já começaram a sumir. Algumas seguidoras lhe mandaram mensagem perguntando sobre os seus filtros favoritos não estarem mais disponíveis. Contudo, desde o anúncio da Meta, ela já recebeu apoio de vários dos seguidores.

“Eu costumo dizer que o filtro vai muito além de uma selfie bonitinha. É uma imersão surreal dentro da realidade aumentada. A parte mais triste será ver todo esse trabalho e anos de investimento sendo excluído. O fim de uma era é sempre muito triste, nunca estamos preparados para isso. Nos resta aceitar e torcer para que algo melhor nasça em seu lugar”, conclui.

Filtros viraram profissão

A criadora de conteúdo digital, Bianca Garutti, cria filtros de realidade aumentada para o Facebook e Instagram desde 2018. Nessa época, a plataforma ainda contava com poucos criadores brasileiros, e para que o usuário tivesse acesso ao filtro, tinha que seguir o criador do conteúdo.

Inicialmente, Bianca tinha o objetivo de ganhar seguidores nas redes sociais, contudo, mais tarde a criação dos filtros acabou virando profissão. “Eu queria atrair seguidores para os meus negócios que estavam online na época. Eu sempre usei o Instagram como uma ferramenta para as minhas empresas. E era isso que eu queria, atrair seguidores para os meus perfis”, conta.

Ela começou criando filtros de beleza, de personagens e temáticos, como de Halloween. Mas, logo a criadora de conteúdo se tornou referência na área. Em 2019, Bianca abriu uma empresa para criação de filtros para marcas, outras empresas e criadores.

“Eu ganhei alguns seguidores no início, mas ganhei mais reconhecimento mesmo depois que eu me tornei uma profissional da área e acabei virando uma referência no mercado. Foi assim, na verdade, que eu acabei atraindo mais seguidores no meu perfil”, conta.

O filtro que rendeu mais seguidores para Bianca foi o ‘Sad Face’, que deixa uma expressão de tristeza na face de quem o utiliza. “Foi o grande viral da plataforma em 2022. E ali eu ganhei bastante seguidores e continuo ganhando através dele até hoje”, explica.

Bianca Garutti, criadora de conteúdo digital. (Reprodução, Instagram)

Dessa forma, Bianca também lamenta não poder contar com a plataforma Meta Spark, a partir de 2025. Entretanto, acredita que a tecnologia de realidade aumentada continuará sendo explorada em outras redes sociais.

“Vejo com certa tristeza que a gente não tenha isso mais dentro do Instagram e do Facebook, que são redes sociais, que estão sempre presentes na vida de tanta gente. Mas nas outras redes sociais ele vai continuar existindo, pelo menos por enquanto”, explica.

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