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MidiaMAIS

Antes de chegar a MS, imigrantes japoneses pararam no Peru e por aqui construíram ferrovia

No dia 18 de junho, comemora-se o Dia da Imigração Japonesa no Brasil
Osvaldo Sato -
'Kasato Maru' desembarca em Santos no ano de 1908 (Foto: Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil)

Há 116 anos, o navio ‘Kasato Maru’ atracava no porto de Santos, inaugurando a chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil. Assim, celebra-se nesta data o Dia da Imigração Japonesa, em reconhecimento às diversas contribuições dos primeiros imigrantes e seus descendentes para o desenvolvimento do país.

, capital de Mato Grosso do Sul, destaca-se como o lar da terceira maior colônia de descendentes japoneses no Brasil. A cidade prepara homenagens em várias instâncias e locais onde a comunidade nipônica é ativa.

Isso porque para se observar a influência da cultura japonesa na cidade, não é preciso muito esforço: praças, clubes, escolas, comércios, serviços, seja em maior ou menor proporção, pode-se notar como ao longo dos anos os imigrantes foram parte indelével do desenvolvimento local.

Entretanto, um detalhe que provavelmente poucas pessoas saibam, é que a presença de japoneses em Mato Grosso do Sul é ainda anterior à chegada do primeiro navio no Brasil. Essa curiosidade é explicada pelo historiador Celso Higa, em entrevista ao Jornal Midiamax, que revelou detalhes históricos da imigração em terras sul-mato-grossenses.

“O processo de chegada das famílias japonesas em Campo Grande se deu com a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, nas duas primeiras décadas do século XX. Mas, as primeiras a serem empregadas na ferrovia não vieram do Kasato Maru, mas de imigrantes que chegaram ao Peru, a partir de 1899, oito anos antes de chegarem ao Brasil”, contou Higa. “Depois disto, a notícia se espalhou entre as colônias e atraiu mais famílias para o Estado, agora vindas também do lado ‘brasileiro’ da imigração”.

A influência de Okinawa na imigração em Campo Grande

Esta é uma das curiosidades da imigração japonesa em Campo Grande, assim como a particularidade da formação da maior colônia de famílias japonesas oriundas de Okinawa, uma província pertencente ao estado japonês, mas que até pouco antes do início do período imigratório, possuía independência e era conhecido como o Reino de Ryukyu.

No primeiro grupo de japoneses a bordo do Kasato Maru, das 781 pessoas, 325 eram de origem okinawana. Muitas destas famílias enganadas por falsas promessas de rápido enriquecimento em terras brasileiras com o trabalho a agricultura, decidiram se aventurar na empreitada da ferrovia e acabaram fixando-se posteriormente em Campo Grande.

“O processo de industrialização do Japão ao final do século XIX penalizou muitos produtores rurais, gerou desemprego nos campos, e uma saída encontrada e incentivada pelo governo japonês foi o da imigração, com incentivo estatal, mas com promessas que acabaram não se cumprindo”, explica Higa.

Foi então que as notícias da construção da estrada de ferro e oferta de empregos, ainda que braçais, foram se espalhando dentro da colônia, e muitas famílias aceitaram o novo desafio. 

“Houve duas frente de trabalho, sendo que ambas absorveram mão-de-obra japonesa: uma saindo de , outra saindo de Porto Esperança, ambas no sentido de Campo Grande, onde deveriam se encontrar”, explicou. “A equipe vinda do oeste chegou antes à Campo Grande e não encontrou a outra frente e seguiram a construção, por isso o ponto de ligação ficou a 30 quilômetros depois do previsto”.

O fim da construção da ferrovia

Acabada a obra, as famílias estavam em Campo Grande e encontraram na cidade um local propício para seu estabelecimento, pois havia muitas terras devolutas e férteis, e foi pela agricultura que a colônia iniciou sua história em terras campo-grandenses, se fixando na região da Mata do Segredo, também na região da Chacrinha, onde atualmente está o bairro Cabreúva.

Monumento da Imigração Japonesa, na Praça do Rádio Clube (Foto: Arquivo)

A prosperidade tão almejada começa a chegar para as famílias, não sem muito esforço e dedicação. Outras famílias, de parentes ou conhecidos, atraídos pelas boas notícias, também vieram para a cidade, tanto na agricultura, como no comércio de bens e serviços.

A partir de então, ao tratar sobre a influência nipônica no desenvolvimento de Campo Grande, observa-se contribuições na economia, educação, artes, esportes e tantas outras áreas. Isso porque os aproximadamente 12 mil descendentes vivendo na cidade atualmente, em sua maioria, fazem questão de manter viva a rica tradição de seus antepassados.

Imigrantes e influências culturais

Na culinária, o ícone da influência japonesa e especificamente okinawana em Campo Grande é o sobá, iguaria típica e tradicional da cidade. Por meio do Decreto Municipal N° 9.685, de 18 de julho de 2006, foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e adquiriu o status de bem cultural de natureza imaterial de Campo Grande.

Monumento ao Sobá na Feira Central

Nos esportes, o karatê é amplamente praticado em escolas e academias por toda a cidade, sendo uma contribuição marcante da cultura japonesa. Originário de Okinawa, o karatê se tornou um esporte olímpico, destacando-se como parte integrante da vida esportiva de Campo Grande.

Em Campo Grande, eventos como o ‘Bon Odori’ e o ‘Undokai’, uma gincana esportiva entre famílias, fortalecem os laços entre a comunidade japonesa e a sociedade local, promovendo a compreensão mútua e celebrando as ricas tradições culturais japonesas.

“Bon Odori” (Foto: Elton Ricci)

Na área da educação, a Escola Visconde de Cairu, mantida pela Associação Nipo Brasileira, tem 105 anos, sendo uma das mais antigas do município.

Nos clubes e associações, além da Nipo, a Associação Okinawa também se faz presente com forte atuação esportivo e cultural, sendo inclusive uma das mantenedoras da prática e ensino do sanshin, instrumento tradicional do arquipélago okinawano.

O sanshin é um instrumento de cordas típico da ilha de Okinawa (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Assim, o dia de homenagens não apenas marca a chegada de um povo, mas também celebra uma história de coragem, perseverança e contribuições significativas para a sociedade brasileira. Ao longo dos anos, os imigrantes japoneses superaram desafios diversos, desde a adaptação a uma nova língua e cultura até a contribuição para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil.

Hoje, as comunidades nipônicas no Brasil continuam a enriquecer o tecido social e cultural do país em áreas como artes, gastronomia, ciência e tecnologia, reafirmando o papel crucial que a imigração desempenha na construção de uma sociedade brasileira diversificada e inclusiva.

Comemorações

O Museu da Imagem e do Som (MIS), unidade da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), em parceria com Júlio Bezerra (UFMS) e Celso Higa (IHGMS), promovem, no mês da imigração japonesa no Brasil, a Mostra de Cinema Japonês, no período de 17 a 19 de junho. A mostra é gratuita e terá as sessões acompanhadas de debates educacionais.

A Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) realiza uma sessão solene para celebrar os 116 anos de imigração japonesa no Brasil, incluindo a entrega da Comenda do Mérito “Terra do Sol Nascente” a membros ou descendentes da comunidade que vivem no estado. O evento ocorre no Plenário Deputado Júlio Maia, na sede da Alems, às 19h.

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