Desconfortável já na primeira vez que viu uma pessoa pegando no colo a publicitária Larissa de Paula Pereira dos Santos, de 26 anos, isto no momento de cumprimentá-la, o jornalista André Maganha, de 42 anos, a chamou para uma conversa franca: Como você se sente quando alguém te pega no colo? Foi aí que ela fez um e logo depois ambos gravaram um vídeo, exigindo respeito.

Larissa foi diagnosticada com síndrome de Marfan, aos 7 anos, após inúmeras consultas médicas. Ao contrário da maioria dos casos, em que a pessoa desenvolve altura acima da média e magreza excessiva, a jovem ficou bem mais baixa do que deveria: mede 1,26 metro, altura de uma de 6 anos, por exemplo.

Na infância e adolescência, Larissa disse que passou por episódios tristes, mas a mãe sempre esteve presente e a ajudou bastante. Atualmente, é “muito bem resolvida” com a sua altura, corpo e autoestima. No entanto, a baixa estatura jamais deixou de ser um desafio por conta das pessoas que sempre estão relembrando, fazendo comentários desnecessários e até brincadeiras que a qualificam como criança.

“Nós estamos trabalhando juntos há cerca de 3 semanas, só que eu já a conhecia por atuar nos direitos humanos de Campo Grande, onde existem 7 coordenadorias e ela era da Coordenadoria de Apoio à Pessoa com Deficiência. Durante eventos, a gente se via e depois fomos trabalhar juntos. Em uma destas saídas, presenciei uma pessoa pegando ela no colo e me senti desconfortável. Eu já convivia com ela e entendia que é uma mulher”, comentou André.

Publicitária na formatura com os colegas. Foto: Montagem/Jornal Midiamax
Publicitária na formatura com os colegas. Foto: Montagem/Jornal Midiamax

Larissa então aproveitou a oportunidade e falou o quanto achava “ridícula e péssima” a atitude das pessoas. “Imagina alguém fazer isso com uma mulher. Pega no seio, no bumbum, um absurdo. Aí a gente estava brincando, falando que ia fazer o nosso stand up de histórias, quando decidimos gravar o vídeo. Pouca gente fala sobre o capacitismo (ato de discriminar pessoas com deficiência), subjugam as pessoas e precisamos falar sobre isso”, argumentou ao MidiaMAIS o jornalista.

Com o vídeo gravado, Larissa diz que ambos postaram nas redes sociais, porém, não imaginavam tamanha repercussão. “Eu falei das minhas experiências para ele, do quanto as pessoas não me levam a sério, ficam me infantilizando. Foram diversas situações, de engraçadas a constrangedoras. E essa situação que gravamos é algo do meu cotidiano, algo que virou um debate nosso justamente porque não deveria acontecer”, ressaltou.

‘Adoram passar a mão na minha cabeça e dar risada', conta publicitária

Quando lojas, principalmente na região central, Larissa fala que as pessoas “adoram passar a mão na cabeça e darem risada”. “Eu falo sério, peço para pessoa não fazer isso, digo que está invadindo o meu espaço. Igual quando estou com um acompanhante e a pessoa se dirige, falando: o que ela tem? E eu digo que pode falar comigo, pode perguntar. Não é arrogância, é porque não sou criança”, afirmou.

Larissa diz que é bem resolvida com a sua imagem. Foto: Montagem/Jornal Midiamax
Larissa diz que é bem resolvida com a sua imagem. Foto: Montagem/Jornal Midiamax

Por conta destes episódios, Larissa fala que ficou triste em diversas ocasiões. “Fico tentando construir minha imagem como adulta e como mulher, mas, sou vista de outra forma, mesmo quando me imponho, então acho que o vídeo é válido porque não gosto que me pegam no colo. Não gosto que me levam em sessão infantil quando vou comprar sapato. Até esmola chegaram a uma vez em uma fila, são questões complicadas”, relembrou.

No entanto, Larissa fica muito feliz ao relembrar o apoio da mãe em todo este período. “Sempre precisei provar que era capa por conta do preconceito, mas, minha mãe me disse para sempre cuidar do meu intelecto. Ela sempre foi o meu pilar, meu tudo. Com isso, terminei ensino médio, fiz faculdade, MBA e ela já quer que eu faça a segunda graduação”, falou.

Por fim, Larissa fala que é uma mulher que gosta de ser pequena. “Não vou dizer que é fácil, é um desafio sim, mas, eu gosto. Amo ser magra, amo a minha magreza. Acho que sou uma pessoa única e gosto do jeito que eu sou. Sou resolvida com isso. Antes não era tanto, mas, agora sou cada vez mais. Mas o que precisa ser mais resolvido é o preconceito das pessoas”, finalizou.

Veja o vídeo gravado por André e Larissa: