Rei dos leilões, Nazareno conta motivo impensável de acumular tanta sucata
Sucatas diversas são arrematadas em inúmeros leilões dos quais Nazareno participa e guardadas em galpão que ocupa quase uma quadra na Vila Bandeirante
João Ramos –
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Nazareno: é com esse nome que o sergipano Moisés Santos, de 61 anos, é conhecido em Campo Grande. Ele vive na Capital de Mato Grosso do Sul há quase 30 e mora na Vila Bandeirantes, onde acumula sucatas das mais diversas origens em um galpão de quase uma quadra.
Os materiais que ocupam o espaço são arrematados em leilões, dos quais Nazareno participa constantemente – daí o apelido de rei dos leilões. E ele compra de tudo: tudo mesmo.
Há 25 anos, esta é sua principal atividade: arrematar sucata em leilões, guardá-las no armazém e revendê-las para quem não for descartá-las é o ciclo de seu trabalho.
Ao Jornal Midiamax, Nazareno revela o motivo da acumulação, que está atrelada à participação nos inúmeros leilões e a uma causa nobre de preservação.
“Sou contra veneno e contaminação da água, porque no decorrer da minha vida eu descobri que os produtos químicos causam doenças cancerígenas e degeneração no organismo. Aí eu queria impedir que monitores e televisões fossem para o meio ambiente, porque jogavam nos aterros sanitários. Então eu passei a tentar controlar isso, fazendo o reuso ou o destino correto”, relata.
Raiz da acumulação
No galpão de Nazareno, há incontáveis CPUs, monitores de computador empilhados, eletrônicos estragados, ventiladores, motores variados, impressoras, televisões, balanças e até caminhões… de tudo. Qualquer objeto que tenha em sua composição algum material que possa contaminar o lençol freático, se descartado de maneira incorreta, é recolhido pelo acumulador de 61 anos.
“Esses produtos contêm bário, fósforo, chumbo, mercúrio, arsênico, que são metais pesados, um veneno. Quando vão para um aterro sanitário, eles contaminam o lençol freático. E aqui embaixo nós temos o Aquífero Guarani”, pontua, a respeito do seu principal objetivo.
E de onde veio o conhecimento a respeito dos elementos químicos? Alguma especialização? O rei dos leilões conta à reportagem que é de uma família de farmacêuticos lá do Sergipe, e, por meio da convivência e da observação, passou a entender um pouquinho do assunto. O suficiente para se preocupar com a exposição indevida de certos materiais
Nazareno conta ainda que terminou o 2º grau da escola, mas não teve a oportunidade de fazer o ensino superior, apenas um curso de administração política, que o auxilia até hoje a argumentar sobre suas ideias anarquistas.
Aquífero Guarani
Nazareno também explica ao MidiaMAIS que a persistência para arrematar os objetos em leilões é justamente para salvar o Aquífero Guarani. Dessa forma, ele se dedica a investir o próprio dinheiro em comprar sucatas potencialmente perigosas e garantir que elas não sejam descartadas de qualquer jeito.
“O Aquífero Guarani é um patrimônio da humanidade, não é do Brasil, porque só existe essa água protegida. Então se começar a cavar muitos poços, o Aquífero vai acabar contaminado. As futuras gerações vão beber água contaminada”, lamenta.
De acordo com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o Aquífero Guarani é o maior reservatório transfronteiriço da América do Sul, situado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A maior parte está localizada no Brasil, onde ocupa uma área subterrânea de 840 quilômetros quadrados.
Cerca de 15 milhões de pessoas vivem sobre os pontos do Aquífero, que conta com uma extensão total aproximada de 1,2 milhão de quilômetros quadrados e capacidade para armazenar até 160 trilhões de litros de água.
Infinidade de objetos no galpão de Nazareno
Seria impossível elencar as principais aquisições de Nazareno, ele mesmo não consegue. Os materiais preferidos são os descartados por órgãos públicos, mas o sergipano não se limita e realmente compra o que vê pela frente, qualquer objeto que possa vir a causar algum dano ao solo, para impedir que o destino seja a contaminação do Aquífero.
Mas uma televisão antiga, de data não oficial, se destaca na entrada da garagem fechada, onde estão guardados eletrônicos que ainda funcionam.
“Isso foi da Brasil Telecom, arrematei tem 15 anos. Não achei um lugar pra colocar ela ou alguém que queira comprar e levar pra casa. Se alguém quiser comprar, o preço vai ser alto porque não é pra pessoa jogar fora”, comenta sobre a relíquia.
“Meu negócio é…”
São muitos produtos que já saíram de linha, artefatos não mais encontrados em qualquer esquina, e variados objetos que marcaram gerações. No meio disso, há os que possuem componentes perigosos e que ficam armazenados da forma correta para não prejudicarem a natureza.
Ainda assim, apesar da imensa e incalculável variedade, Nazareno não se apega às peças. “O meu negócio é não deixar ir para o meio ambiente”, reforça.
Rei dos Leilões
A vida de Nazareno gira em torno de seus leilões. Por isso, ele guarda absolutamente todas as notas fiscais de sua compra e não perde nenhuma oportunidade de participar de um arremate. O sucateiro destaca ao Midiamax que compra e vende “para ganhar um dinheirinho e comer”.
Mesmo tendo o título de “Rei dos Leilões”, o sergipano afirma não ter ideia de quanto gasta por mês nessa atividade. Mas há um principal número que ele guarda na cabeça e se orgulha: em 25 anos comprando e vendendo, já arrematou mais de 1 milhão e 600 mil monitores de computador, objeto que afirma ser um dos mais prejudiciais se jogado em aterros.
Sem apoio
Baseando-se na iniciativa da preservação do Aquífero, um dos maiores reservatórios subterrâneos de água doce do mundo, Nazareno diz não receber qualquer ajuda ou incentivo do poder público para continuar protegendo a água guardada debaixo dos nossos pés.
“O Governo descarta de tudo. Não existe um negócio sério para evitar que vá para o meio ambiente, uma campanha. Eu faço isso, mas apoio da sociedade? Não. Isso nunca tive”, declara.
Por fim, o rei dos leilões acrescenta que gostaria que as pessoas e os governantes tivessem mais consciência e levassem a sério o descarte da sucata que ele prefere comprar para impedir a contaminação do solo e da água, caso haja uma “eliminação” inadequada desses produtos.
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