É preciso muita coragem para retirar o prato de comida da mesa na frente de uma avó. Não se toma uma atitude drástica destas sem antes ter certeza que ela realmente te viu, não só comendo, mas repetindo.

Mesmo assim, é quase impossível parar de comer sem que ela lamente/reclame da genérica “pouca comida” que você comeu, não obstante você esteja quase passando mal de tanto se empanturrar.

É aí, para muitos, que mora o amor, também maternal, de uma vó. Foi por isso que o professor de educação física e personal trainer, Fabiano Cardoso Espindola, de 33 anos, resolveu eternizar esse amor, que é recíproco, na pele.

Dona Joana ao maior, Fabiano (careca) e outro neto (Foto: Arquivo Pessoal)

Ele tatuou a frase que sempre escutava da avó, dona Joana Fermino Pinheiro, que faleceu este ano, há poucas semanas, aos 78 anos. Dizia ela: “O meu fii, come mais um pouco, você está tão pequeninin (sic)”, e é isso que está gravado em seu peito, literalmente.

“Todas as minhas tatuagens têm um significado. São passagens, todo fato que me marque muito eu marco na pele. Isso me deixa mais forte”.

Fabiano foi criado por dona Joana até os 12 anos. Ele é o primeiro neto, e homem, o que quer dizer muita coisa em famílias tradicionais do interior. “Ela era um vó tradicional, coruja, ela queria comprar tudo para os netos. Se a gente não aceitasse, era uma ofensa”.

Natural da região de Bodoquena, dona Joana foi criada em um ambiente de muitas restrições, onde a única opção era trabalhar na roça. Para tentar uma vida melhor, ela e o marido se mudaram para nos anos 80, oportunidade em que montaram uma mercearia.

Foi lá, rodeada de irmãos, filhos e netos, que dona Jana conseguiu quebrar a lógica da pobreza. “Ela passou muita dificuldade, sempre trabalhando em sítio”.

Talvez por essa trajetória, a avó era coruja com neto, mas conhecida por ser áspera com o restante das pessoas. “Ela não demonstrava muitos os sentimentos, dizia que homem não chorava, ela dura com as palavras”.

Fabiano, porém, diz que essa impressão não se concretizava para quem realmente a conhecia. “Mas no fundo ela tinha um grande coração, ajudava todo mundo, e de várias formas”.

E é nesse contexto que segundo o neto afirma “a maior satisfação era ela ver os netos comerem”, para deixarem de ser “tão pequeninin”.