1976. foi parar em jornais de todo o Brasil. A notícia era sobre o sequestro e a morte do filho de um dos políticos mais importantes do então estado de Mato Grosso, o jovem Lúdio Martins Coelho Filho, herdeiro adotivo do empresário influente Lúdio Martins Coelho.

Em um sábado de setembro daquele ano, os pais Nilda e Lúdio encontraram o carro de Ludinho, como era carinhosamente chamado, na porta da garagem de casa, com uma carta de resgate no para-brisa exigindo 6 milhões da moeda da época para devolver o garoto de 21 anos com vida. Redigido à máquina de escrever, com uma série de exigências e linguagem culta, o bilhete logo gerou suspeitas.

Conforme o Sérgio Cruz, que documentou a história em seu livro “Sangue no Oeste”, a família Coelho decidiu não pagar o resgate e mandou chamar um dos delegados mais famosos da época, Sérgio Fleury. O sequestro foi mantido em rigoroso sigilo até que, drasticamente, o corpo de Ludinho foi encontrado. O tiro teria sido disparado um dia antes do achado, segundo a .

Com base no Jornal do Brasil de 11 de setembro de 1976, “um forte esquema de segurança envolvia o corpo de Ludinho, que permaneceu intocável até a noite, quando a Polícia Técnica de São Paulo, vinda em jato fretado, o examinou”.

As primeiras davam conta de que com “um tiro na testa, uma mulher encontrou, num terreno baldio no Centro de Campo Grande, o corpo do estudante Lúdio Martins Coelho Filho, sobrinho do senador Italívio Coelho e filho do banqueiro e pecuarista Lúdio Martins Coelho. O rapaz havia sido sequestrado sexta-feira e seu carro, deixado em frente à residência da família, foi encontrado um bilhete exigindo resgate de 6 milhões de cruzeiros”, registrou o Jornal.

Por envolver uma das mais tradicionais famílias de Mato Grosso, e, principalmente, por ser um dos primeiros do gênero no Brasil, o crime teve enorme repercussão, desde o rapto da vítima até a prisão dos suspeitos e condenação de seus autores, comenta Sérgio Cruz.

Quem matou Ludinho?

Com o auxílio da polícia do Estado, o delegado Fleury, do DOPS de São Paulo, comandou as investigações e chegou aos suspeitos, graças à delação do cabo Luiz Targino, que soube do fato, através de um dos sequestradores, o tenente Aramis.

Tenentes da PM de Mato Grosso, Aramis Ramos Pedrosa e João Leozar Machado, foram os responsáveis pelo sequestro e assassinato de Ludinho. Presos dez dias depois, eles confessaram a autoria do crime. Aramis assumiu a autoria intelectual da trama e dos dois disparos que mataram Ludinho.

“No depoimento, acrescentou que o objetivo do sequestro era apenas o dinheiro, salientando que de qualquer forma o jovem seria morto, pois conhecia bem os sequestradores e os denunciaria”, destaca a “Sangue no Oeste”.

Além dos dois tenentes, também foram condenadas a esposa de Aramis, Iolanda Grizahay Ramos, e a amante do tenente Machado, Josélia Rosa da Costa, que participaram do plano.

A comoção foi enorme. Em homenagem ao jovem de 21 anos assassinado após ser sequestrado, notícia em todo o Brasil, a dupla Milionário e José Rico compôs a canção “Lágrimas que choram”, com base na história de Ludinho. Confira:

Confira a letra de “Lágrimas que Choram”:

Oh, meu Deus, fiquei tão triste
Que infeliz fatalidade
Ao saber que ainda existe tanta desumanidade
Ultrajar de um homem honrado
Simplesmente por dinheiro
Deixando todo o estado
Em profundo desespero
O Brasil todo sentiu
Mato Grosso entristeceu
Campo Grande está de luto
Pelo filho que perdeu
O Brasil todo sentiu
Mato Grosso entristeceu
Campo Grande está de luto
Pelo filho que perdeu”
Vai o nosso abraço carinhoso
Para os amigos de Mato Grosso
Nonô Basílio!
O professor das sertaneja”
Pela alma do inocente
Faço a Deus a minha prece
Deus que é todo onipotente
Dá o céu a quem merece
Entre lágrimas que choram
Faço a minha oração
Pelos pais a Deus imploro
Muita paz e proteção
O Brasil todo sentiu
Mato Grosso entristeceu
Campo Grande está de luto
Pelo filho que perdeu
O Brasil todo sentiu
Mato Grosso entristeceu
Campo Grande está de luto
Pelo filho que perdeu

Sangue no Oeste

Ao Jornal Midiamax, Sérgio Cruz, que registrou o fato em sua obra “Sangue no Oeste” comenta o caso. “O mais comovente, em termos de lembrança, esse é o crime mais marcante da história de . Foi um dos primeiros maiores sequestros do Brasil, de grande repercussão”, afirma o historiador.

“Segundo os autores, iam matar de qualquer jeito, porque eram muito conhecidos da família, então iam matar mesmo. Todos foram presos, condenados…”, relembra Sérgio.

Idealizador do livro “Sangue no Oeste”, Sérgio Cruz documenta em sua obra “mortes e crimes violentos na História de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul” entre os anos de 1730 e 2020. O sequestro e assassinato de Ludinho está entre eles. O autor, que se dedica à pesquisa histórica desde 1974, detalha e explica ao MidiaMAIS por que decidiu reunir esses dados.

“Eu reuni os fatos históricos. São dados mesmo, crimes rumorosos, e alguns eu deixei de fazer por falta de informações. Só editei e levantei fatos já publicados em jornais e livros. Não tem nada de novo, mas a intenção é reunir esse material, documentar tudo, para facilitar a quem um dia venha a pesquisar sobre o assunto”, disse ele ao Midiamax.

‘O crime mais marcante da história de Mato Grosso do Sul’: relembre o sequestro e assassinato de Ludinho é a sexta de uma série de reportagens do MidiaMAIS que recorda as mortes e crimes documentados na obra “Sangue no Oeste”, disponível para venda neste link.

devorado por piranhas
Capa do livro Sangue no Oeste, do jornalista e radialista Sérgio Cruz, sobre crimes e mortes da história de MS

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