De Campo Grande a Floripa, Luciano pedalou 1,3 mil km, por 16 dias e se aventurou para ver o mar
Com sonho de fazer o trajeto de bike, o campo-grandense viveu experiência inesquecível na estrada
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O dicionário define a palavra ‘aventura’ como ‘exposição ao acaso, à boa ou má sorte’. Há, também, explicações de como a mesma expressão pode se moldar em sentimentos como liberdade, adrenalina e coragem. Independente das definições de ‘aventura’, o que importa, na verdade, é a experiência de vivê-la. E isso Luciano sabe de cor. Saindo de Campo Grande em direção a Florianópolis, ele percorreu 1.300 quilômetros e viajou por 16 dias em cima de uma bicicleta para ver o mar.
Ele poderia ter comprado uma passagem de avião, sobrevoado por poucas horas e chegado ao mesmo destino sem problema nenhum. No entanto, se isso realmente tivesse acontecido, então não teríamos uma história para contar.
Ao contrário do que muita gente pode estar pensando agora, Luciano não é ciclista profissional, não tem a bicicleta mais especializada do mercado e nem os produtos mais caros das prateleiras. Skatista há 20 anos, a bike, na verdade, é o seu meio de transporte para o trabalho. Natural de Campo Grande e com 37 anos de idade, a única viagem de bike feita, até então, havia sido para Sidrolândia, a 68 quilômetros de Campo Grande.
Porém, isso não foi um impeditivo para o auxiliar. Com a preparação física que havia adquirido pedalando para o trabalho, Luciano tirou férias, juntou poucos pertences na mochila, subiu na bicicleta e se lançou à estrada, pelas sinuosas vias do desconhecido. O que poderia acontecer a partir daquele momento, ele só iria descobrir ao longo dessa incrível jornada.
Aventura do começo ao fim
“Aventura do começo ao fim”. Foi exatamente dessa forma que Luciano definiu a sua experiência. Ao Jornal Midiamax, o rapaz revelou detalhes de como foi a viagem a Santa Catarina.
“Eu não conhecia o trajeto, não sabia como o clima iria impactar, se seria sol forte, chuva ou frio. Então, eu só ia mesmo. Eu não tinha metas ou objetivos, só estava pedalando. Ao total, foram 16 dias e 1.300 km. A ideia sempre foi ter um rolê bem raiz. Eu só peguei hotel no Natal e no Ano Novo. Banheiro era quando a natureza chamava mesmo”, recorda Luciano.
A alimentação era feita em restaurantes ou lanches do mercado. Já a hidratação ficou a cargo de garrafas de água restabelecidas a cada oportunidade. E a resistência física foi fruto dos 40 km percorridos diariamente para trabalhar. Após ter passado por mais de 17 cidades, Luciano afirma que pedalar não foi uma dificuldade porque fazia parte da sua vida há muitos anos. “Tudo isso era minha rotina, eu não estava especificamente treinando”, disse.
Atravessando o mapa
Com a bike e ajuda dos amigos, Luciano fez um trajeto gigante até chegar ao destino final.
Ele saiu de Campo Grande direto a Nova Alvorada do Sul, passando por Bataguassu até sair de Mato Grosso do Sul pela Ponte do Rio Paraná. Então, entrou no Estado de São Paulo onde passou por Presidente Venceslau e Presidente Prudente rumo ao Paraná.
Assim, chegou a Porecatu, passou por Rolândia, Arapongas, algumas outras cidades pequenas e distritos, Campo Largo, Ponta Grossa e, por fim, Curitiba. “Foi aqui que tive noção do que estava fazendo”, disse.
Ele saiu do Paraná e entrou em Santa Catarina por Gavura, passou por Joinville e desceu a Itajaí. Dali, pedalou por Balneário Camboriú até, finalmente, chegar à ilha de Florianópolis.
“Sensação sensacional. Eu já conhecia o mar, mas nem parecia porque a emoção foi grande demais. Foi uma ideia, só queria fazer isso mesmo: pedalar e fotografar o caminho. Não tem nada a ver com dinheiro. Eu gastei mais com alimentação e manutenção da bike (antes de ir e no caminho) do que gastaria para ir de avião’, revelou Luciano.
Perrengues
Como nem tudo são rosas, até mesmo as grandes aventuras reservam obstáculos. Ao longo dos 16 dias de viagem, ele precisou ter muita paciência para lidar com as adversidades que surgiram.
“90% da viagem foi perrengue. A gente tem uma vida normal aqui, né? Mas, na rua, as pessoas não entendem que você tá numa jornada pessoal, daí o tratamento nem sempre é legal”, disse.
Luciano também relatou que, por ter sido a primeira viagem, teve vários problemas com a bicicleta e para se adaptar ao clima. “Enfim, tudo errado”, brinca “a próxima vai ser diferente”.
Amizades pelo caminho
Além de boas memórias e péssimas experiências, Luciano também colecionou vários amigos durante a viagem. “Quero agradecer a cada alma boa que cruzou meu caminho. Pessoas incríveis”. No fim, o rapaz ficou apenas cinco dias em Florianópolis e, depois, voltou. Ele chegou a Campo Grande na última semana. Para ele, as férias se tratavam mais do trajeto do que do destino em si.
Apaixonado pelo que viveu, o plano, agora, é fazer uma nova viagem de bike no fim deste ano com todos os ensinamentos que aprendeu. “Não decidi o destino ainda, mas a certeza é que vou subir o mapa”, conclui.
Histórias como essa servem de inspiração para quem também possui a mesma motivação de Luciano, de que não é necessário um cenário perfeito para realizar sonhos. Afinal, tudo o que ele tinha em mãos era a sede por uma aventura, a liberdade de viver intensamente, a coragem para seguir adiante e a adrenalina envolvendo todo o processo.
Mesmo depois de muito tempo longe da família, pedalando incansavelmente durante o dia, enfrentando o frio e a solidão, Luciano voltou para a casa, mas também teve certeza de que, sob o sol e as estrelas nas estradas, também encontrou um novo lar.
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