A vida nunca foi fácil para Pedro Henrique Monteiro da Silva, o rapaz que ficou nacionalmente conhecido esta semana após a divulgação de um vídeo em que aparecia sendo humilhado pela gerente de uma unidade do Carrefour em Campo Grande. O jovem, de 22 anos, se tornou assunto e ganhou o apoio de todo o país, por isso, muita gente quer saber quem ele é.

Nascido em Rio Branco, capital do Acre, Pedro se mudou para Campo Grande com a família há apenas 3 anos, em 2018. O motivo da vinda para foi a busca de oportunidades. “Uma tia minha já morava aqui e falou que tinha emprego pra quem buscasse, aí a gente veio, eu e toda minha família, meus pais e meus cinco irmãos”, contou ele ao Jornal Midiamax.

Quando chegaram aqui, seu primeiro trabalho foi vender trufas nos semáforos da Capital. Um dia, recebeu uma proposta de um superior do Carrefour que o viu oferecendo os doces na rua e avisou: “se você vender todas as trufas até tal horário, manda foto e vem aqui que eu vou te dar um emprego”. E ele vendeu. Subiu a Afonso Pena a pé, da rua 14 de julho até a unidade do supermercado, já que no dia sequer poderia usar o lucro com os bombons para comprar um passe de ônibus.

Pedro Henrique, os pais e os irmãos em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)
Pedro Henrique, os pais e os irmãos em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)

Tudo isso aconteceu no mesmo ano em que o acreano chegou com os familiares à Capital Morena. Desde então, até agora, seu trabalho é na mesma empresa, onde cresceu e chegou a ser destaque no Brasil com o cartão Carrefour. Todo o dinheiro sempre foi para manter a família porque o pai sofreu uma crise de pânico e precisou se ausentar das atividades trabalhistas, enquanto a mãe cuida dos irmãos pequenos.

Ele diz ao MidiaMAIS que a empresa o ajudou a conseguir cursar as duas faculdades que fazia, até ser promovido. Quando a mensalidade subiu, precisou trancar o curso de Direito — do qual ingressou com uma bolsa de estudos parcial que ganhou na escola. A rotina, antes disso, era a seguinte: de manhã, ia para a faculdade, de tarde até o início da noite trabalhando no mercado, e, pelo restante do período noturno, encerrava o dia cursando Administração.

Repercussão assustadora

Foram anos de muito crescimento na empresa. Pedro só tem gratidão pela oportunidade que recebeu e não culpa o local pelo ocorrido, específico com a gerente. Tudo estava tranquilo, até que, no início desta semana, o rapaz foi surpreendido com o viral das imagens da gerente do Carrefour o humilhando. O vendedor disse à reportagem que ainda está muito assustado com a repercussão.

“Fui trabalhar e não consegui. No caminho, começou a me dar uma crise de pânico e eu tive que ir para o hospital. O médico me deu um atestado e estou afastado”. A história tomou uma proporção inimaginável, mas, apesar de lamentável, pode ajudar Pedro e sua família. A comoção nacional levou o país inteiro a procurar o jovem trabalhador oferecendo ajuda. 

Um site de vaquinhas online entrou em contato oferecendo suporte para ele e pedindo autorização para abrir uma arrecadação. Pedro agradeceu e avisou que o levantamento poderia ser feito, mas para ajudar a família, que perdeu a casa com as últimas tempestades que atingiram Campo Grande. “Todo esse dinheiro, se for arrecadado, é apenas pra tentar construir alguma coisa pra eles, a chuva levou tudo”, afirmou.

Família improvisou barraco após tempestades levarem tudo (Foto: Arquivo Pessoal)
Família improvisou barraco após tempestades levarem tudo (Foto: Arquivo Pessoal)

O jovem mora com a esposa e os sogros, e além de ajudá-los na conta de casa, ajuda os pais e os seus 5 irmãos mais novos que moram num barraco improvisado e têm passado por dificuldades. Com o pai afastado do trabalho por problemas de saúde, a mãe faz bicos com que montou em frente de casa.

A vaquinha é para que ele consiga se manter nesse período, até que a sua situação com o Carrefour se resolva. O valor também é para que ele consiga comprar tijolos e telhas para melhorar a moradia dos pais, que vivem no Loteamento Parque dos Sabiás, em Campo Grande.

Pedro foi apresentado à esposa Thaís pela própria mãe dela, que era sua cliente no Carrefour (Foto: Arquivo Pessoal)
Pedro foi apresentado à esposa Thaís pela própria mãe dela, que era sua cliente no Carrefour (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Não estou me vitimizando

Pedro se incomoda quando ouve ou lê que está se fazendo de vítima e afirma que isso não tem nada a ver. “Eu não estou me vitimizando, só tenho medo de perder esse emprego que é meu único sustento e da minha família também, ainda mais agora com o problema na casa”, pontuou.

Ele agradece a comoção nacional e acha que esse é o primeiro passo para que a justiça seja feita. “Não é só lá no Carrefour que acontece, isso é em todo lugar. Mas agora eu acredito que a justiça vai começar a acontecer”, disse.

Quanto à arrecadação, o funcionário não quer nada para si próprio e não tem medo de trabalho. A única intenção é usar o valor angariado para arrumar a casinha da família. Quem quiser contribuir com a vaquinha, basta clicar neste link.

Em anos de empresa, crescendo sempre, Pedro realizou muitas conquistas das quais se orgulha e guarda com carinho (Fotos: Arquivo Pessoal)
Em anos de empresa, crescendo sempre, Pedro realizou muitas conquistas das quais se orgulha e guarda com carinho (Fotos: Arquivo Pessoal)

 

O caso

No início da semana, viralizou nas redes sociais o vídeo em que um funcionário do setor de eletro do Carrefour de Campo Grande é humilhado pela gerente do setor. Nas imagens, o trabalhador é obrigado a se ajoelhar e esfregar o chão da loja, enquanto é fotografado pela supervisora. O caso foi denunciado pelo perfil “humilhadocg”, no TikTok. A publicação recebeu centenas de comentários, incluindo reclamações de ex-funcionários da mesma supervisora. 

Conforme o relato do perfil, a gerente teria tirado uma foto do rapaz, enquanto limpava o chão e teria enviado a imagem para a diretora, quando teria dito que o rapaz “não limpa a casa dele”. O Carrefour emitiu uma nota sobre o ocorrido, dizendo: “O Carrefour repudia todo e qualquer comportamento indevido por parte de seus colaboradores. Estamos apurando o caso internamente e, por ora, houve o afastamento da profissional envolvida”.

O (Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul) abriu processo para investigar o hipermercado por assédio moral. Agora, o processo será distribuído para as procuradorias responsáveis para que as investigações sejam conduzidas. O prazo é de 30 dias, mas pode ser prorrogado por mais 90 dias. Caso seja comprovada a prática, a notícia pode virar inquérito e terminar com responsabilização dos responsáveis. Se o MPT entender que não há provas suficientes, o caso pode ser arquivado.