Bacharel em direito, mulher e “gordinha”, Narcilene Soares Lopes, de 42 anos, trabalha há muitos anos como Técnica em Segurança do Trabalho em obras. Nesses lugares, a figura masculina é muito forte. Foi questão de tempo para o preconceito de gênero cobrar uma conta e fazer com que ela deixasse o mercado para trás.

Mas, no lugar do trabalho como técnica, Narcilene viu a oportunidade de passar por cima do sem largar de vez o ramo que conhece bem. Literalmente! Com uma charmosa Kombi amarela, Narcilene montou a própria empresa em Campo Grande. É essa história que vamos contar.

A empresária contou ao Jornal Midiamax que viveu períodos turbulentos nos últimos anos. Depois de sofrer situações desconfortáveis no trabalho por ser mulher e considerada “gordinha” por outros homens que ocupavam cargos na construção civil, era rotina se sentir inferior no próprio ambiente profissional. Frente a mais motivos pessoais, Narcilene acabou desenvolvendo complexo de inferioridade, síndrome do pânico e depressão. “Eu sempre convivi com situações em que eu era subestimada”, recorda.

Em 2020, uma nova surpresa: o teste positivo para a Covid-19. Mas foi ao longo dos 28 dias de isolamento social, para a recuperação da doença, que Narcilene resgatou o desejo de ser dona do próprio negócio. Atuante como Técnica em Segurança do Trabalho há 10 anos, até então, decidiu investir no mesmo negócio, mas dessa vez ela seria a própria chefe. Foi então que ela escreveu o projeto da empresa durante a quarentena.

Depois, percebeu uma necessidade de serviço para os prestadores de serviço da construção civil, especialmente os pequenos, que necessitam cumprir normas regulamentadoras mesmo que, muitas vezes, não possuam nenhum auxílio.

“Quando eu fui a uma obra e vi essa deficiência, eu comecei a elaborar o meu trabalho e sonho de ter a minha própria empresa. Mas, eu saliento que isso começou na pandemia e que foi muito difícil. É difícil para todo o comércio, para o Brasil inteiro, muitas pessoas fechando as portas e eu ali com o sonho de abrir uma porta. Então, aos olhos humanos, isso era uma loucura”, diz.

Mas deu certo. Assim nasceu a sua empresa, no dia 26 de janeiro de 2021: uma loja especializada em equipamentos de proteção pessoal (EPIs), que também oferece treinamentos e documentos que ajudam o prestador de serviço.

“Eu escolhi essa data porque é o dia do meu nascimento. Foi um novo nascimento, depois de tudo que eu passei, de achar que eu não era ninguém, por ter passado por uma depressão, por ter contraído a Covid… A gente não imagina o dia de amanhã. Então, eu pude falar que foi um novo nascimento”.

Narcilene dirigindo a charmosa Mercedita (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Kombi amarela

Narcilene já trabalhou em lojas de sapatos, vendeu pão, entregou gás, atuou em frigoríficos e abriu uma lanchonete, mas nunca teve uma loja em que exerceu sua função como técnica em segurança. Então, para fazer bem feito, pensou em investir num cartão-postal único: vendeu o Fiat Palio para comprar uma Kombi amarela.

Fiel escudeira da empresária, a Mercedita — como a Kombi é chamada — é usada para levar os equipamentos de segurança da empresa às obras. E, fora do horário de trabalho, é a principal companheira de Narcilene.

“Eu sempre quis ter um carro para viajar, então quando eu vi a Kombi, eu vi que poderia usar ela não só para o trabalho, mas também realizar esse sonho de viajar, de poder transformar ela em motorhome”, revela.

Produzida em 1995, a Mercedita ainda carrega o charme da época. Sempre que roda pelas ruas de Campo Grande chama a atenção das pessoas e conquista vários fãs pelo caminho.

“As pessoas admiram, pedem para tirar foto. Eu já cheguei a levar madrinhas de casamento à igreja, casais já pediram pra tirar foto dentro dela. Ela faz sucesso, até então, pelo apelido dela também. O nome dela é Mercedita”.

Mas afinal, por que “Mercedita”? A Narcilene disse ao jornal que é porque, certa vez, quando estava levando a Kombi para colocar placa no , começou a ouvir a clássica canção “Mercedita” na voz de Perla — não é a funkeira. Foi então que várias pessoas ao redor começaram a celebrar junto à motorista. Limpinha, colorida e de placa nova, o veículo saiu do Detran com um nome.

“Ela é a minha marca, hoje eu posso dizer que na minha empresa, a segurança vai até o seu destino e nós vamos de Kombi”, finaliza Narcilene.