Um ícone das artes sul-mato-grossenses, criador de obras memoráveis, verdadeiros hinos da nossa . Com uma sanfona, seu imensurável talento e muitos anos de estrada, Dino Rocha marcou pra sempre sua arte em nossas vidas e seu legado segue vivo, enaltecido por todos aqueles que reconhecem seu grande valor.

Um ano atrás, na madrugada do dia 17/02/19, após passar 27 dias internado, por complicações do diabetes, nosso mestre do Acordeom nos deixava fisicamente, mas culturalmente, ele nunca deixou, nem deixará de existir. Basta colocar um de seus bons e velhos discos pra rodar, coisa linda de se apreciar, Chamamé da melhor qualidade, que já inspirou diversas gerações.

Em seu último registro audiovisual, Dino Rocha nos brindou com uma linda apresentação de Gaivota Pantaneira, um dos seus maiores clássicos. A convite do coletivo Clube do Litoral Central, formado por Jerry Espíndola, Rodrigo Teixeira, Guga Borba, Ju Souc, Leandro Perez, Renan Nonato e Rodrigo Sater, o saudoso Acordeonista se despediu de maneira maestral.

O vídeo bombou no Youtube e, até o momento da montagem desta matéria, já ultrapassou a impressionante marca de 266 mil visualizações e mais de 2 mil curtidas. Confira!

 

“A gente já tinha convidado ele pra tocar com a gente antes, mas foi uma surpresa ele ter ido naquele dia. Ele já estava meio doente, a gente não queria incomoda-lo, mas ele mesmo que ligou e disse que ia, foi incrível. Colocamos o Dino no final do show, mas ele pediu pra tocar no começo porque teria que ir embora logo, ele foi meio que na raça pra dar essa moral pra gente e pro Renan Nonato, sanfoneiro do Clube, que é discípulo e fãzasso dele. Estávamos filmando o show e lançamos o vídeo com ele ainda vivo, mas após seu falecimento o vídeo viralizou na internet, graças a ele é claro”, conta Jerry Espíndola.

Tocar ao lado de seu ídolo e grande referência, são situações que marcam para sempre a trajetória de um artista. O talentoso sanfoneiro Renan Nonato, um dos maiores nomes da nova safra de instrumentistas do país, teve essa experiência e orgulha-se por ter dividido o palco com esta lenda da música.

“Tocar com o Dino é motivo de muita felicidade e gratidão! Com toda certeza esse registro é um marco na minha carreira. Muita emoção, admiração e respeito envolvidos. A presença do Dino, sua maneira de ser, naturalmente já era impactante, agora sentir isso vibrar e sair pra fora em seu acordeom, lado a lado, foi algo sem muitos caminhos para explicação, mais posso inspirar a todos dizendo que é o cheiro das nossas coisas, da nossa comida, o som do nosso chão querido, de mãos dadas com nossas heranças de que resulta nessa expressão tão admirada por tantos rincões recheado das mais lindas melodias”, enaltece Nonato.

Um ano sem Dino Rocha: Último registro do acordeonista é visto mais de 260 mil vezes
Dino Rocha e Clube do Litoral Central, uma salva de aplausos! (foto: Leandro Benites)


O Chamamé sul-mato-grossense, uma de suas maiores heranças

O legado de Dino Rocha é gigante, ultrapassa as linhas fronteiriças e empodera um som que vem de nossas raízes paraguaias, transformado em algo “nosso”, com o toque único que o artista dava às suas composições. Em sua brilhante carreira, foram mais de 20 discos lançados, uma obra de valor imensurável, que influencia acordeonistas do país inteiro.

“O Dino foi um cara que fez escola com seu acordeom. É esse som fronteiriço/sul-mato-grossense, que é o Chamamé, nascido de Corrientes, mas que ele transforma em uma coisa ‘da gente'. Ele representa um cara pioneiro na música instrumental, lá em 1973, quando ele já vem com a música que se tornou um grande sucesso: Gaivota Pantaneira. Ele, junto com Zé Correia, é um dos principais nomes do Chamamé o Estado. O Zé Correia vem primeiro, mas o Dino se diferenciava porque ele também era compositor (o Zé Correia era mais intérprete, apesar de já ter feito algumas músicas)”, conta o músico e autor do livro “Os Pioneiros – A origem da música Sertaneja de MS”, Rodrigo Teixeira.

Hoje, a nova geração de músicos instrumentistas, sanfoneiros e chamamézeiros, devem levantar as mãos para o céu e agradecer ter existido alguém tão incrível como Dino Rocha. Suas influências ainda estão aí para serem estudadas e conhecidas pelos novos músicos que surgirão daqui em diante, como Renan Nonato reconhece. “Acho que na música sou influenciado a todo momento, seja tocando qualquer estilo, uma hora alguém vai observar um jeito Dino no som, o ‘sotaque' dele é inconfundível e, com certeza, é uma referência e espelho para o meu trabalho', conta.

Um ano sem Dino Rocha: Último registro do acordeonista é visto mais de 260 mil vezes
Leandro Parez, Guga Borba, Jerry Espídola, Ju Souc, Dino Rocha e Renan Nonato (foto: Leandro Benites)

Os bastidores da gravação

“A lembrança daquele dia é a de sempre: um cara muito à vontade, amigo, tranquilo, brincalhão, era muito bom estar com o Dino Rocha, uma pessoa e tanto, ele faz muita falta como pessoa, como artista graças a Deus deixou uma obra gigantesca pra gente visitar sempre.

A morte dele não nos pegou de surpresa, ele já estava doente, hora melhorava, hora piorava, era sempre essa tensão.  Ele não estava bem de saúde, mas apesar disso nunca interferir no astral dele, sempre de boa, ele lidou bem com essa situação, era um cara bem resolvido e feliz com a vida, um grande exemplo, e por fim, a obra dele endossa nossa qualidade com excelência!”, pontua Jerry Espíndola.


Dino Rocha Vive!