Seu Milton e seu Moreira, uma história de gratidão, ciclos e ensinamentos
Gratidão, uma palavra simples, às vezes banalizada, diminuída, mas nunca desmerecida. Ser grato é um dos valores mais preciosos em uma sociedade onde existem pessoas interagem só por conveniência. Laços frouxos são atados e, por muito pouco, desfeitos. É bonito reconhecer o merecimento de alguém que prospera mantendo sua essência, suas raízes, seu caráter. Também […]
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Gratidão, uma palavra simples, às vezes banalizada, diminuída, mas nunca desmerecida. Ser grato é um dos valores mais preciosos em uma sociedade onde existem pessoas interagem só por conveniência. Laços frouxos são atados e, por muito pouco, desfeitos. É bonito reconhecer o merecimento de alguém que prospera mantendo sua essência, suas raízes, seu caráter. Também tem as vezes que presenciamos os louros colhidos por alguém que se tem apreço, não serem compartilhados com os que fizeram parte da caminhada. Acontece.
Filosofei um pouco nesse começo, né? Tudo bem, é bom refletir um pouco sobre alguns assuntos pertinentes, principalmente quando alguém ou alguma história te inspira, como a do sr. Milton Celestino Teixeira e o sr. Sebastião Moreira da Costa, o seu Moreira.
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Como a história chegou até nós
Através de um longo texto publicado em uma rede social, a filha de seu Milton, Elisângela Argerino Teixeira, contou a história de seu pai, em linhas que o enaltecia e destacava sua luta e a amizade com o seu Moreira. O texto foi encaminhado por uma amiga, que se emocionou com o relato e indicou que daria uma boa matéria.
Curioso, fui ao encontro de seu Milton, batemos um bom papo, mas eram tantos fatos interessantes, que pensei: “caramba, uma história dessas não cabe em uma só matéria”, mas assim mesmo vou tentar.
Em seu relato (na íntegra, lá em baixo), Elisângela revela, através de seu ponto de vista, a trajetória de seu Milton, que nasceu em uma família simples, onde foi criado com mais 11 irmãos, sustentados por seu pai, um exímio Barbeiro, no município de Andradina, SP. O ofício foi herdado por nosso personagem, que atua na profissão até hoje e tem em 3 de seus 4 filhos, a continuidade deste legado. Com a morte do pai, aos 15 anos, Milton precisou ajudar na criação dos irmãos, que pela quantidade, poderiam formar um time de futebol.
Para enfrentar este desafio, ainda muito jovem, ele contou com quatro aliados: uma tesoura, um pente, uma navalha e sua grande Fé. Não foi fácil.
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O tempo passou, seu Milton casou-se com dona Dalva, sua amada, e no começo dos anos 70, mudariam-se para Campo Grande, onde um novo ciclo começava para o os dois…
“Vim para Campo Grande com 23 anos. Na cidade, o primeiro salão que trabalhei foi o Joia, onde o proprietário era o Marcos Rodrigues. Depois, fui trabalhar com um cabelereiro bem conceituado, que veio de Araçatuba, SP, que viu em mim um futuro promissor a respeito da profissão. Passei a ser cabelereiro também, daí ele montou o salão dele, que veio a se chamar Deco´s”, relembra seu Milton.
Focado e com muitos sonhos, Milton era um rapaz que corria atrás de realizá-los. Ele via seu futuro com nitidez, realmente sabia o que queria e fazia por onde: “Queria ter o meu salão próprio, meu carro, minha casa e meu telefone (era muito caro e você tinha que comprar a linha) e isso tudo eu consegui com meu trabalho”, orgulha-se.
Seu Moreira
Ainda sobre o texto de Elisângela, tem o relato que após passar por alguns salões da cidad, seu Milton começou a trabalhar no Kings Cabeleireiros, hoje um conceituado Centro de Beleza, com 50 anos de tradição. Lá o jovem barbeiro conheceu seu Moreira, o proprietário à época, com quem teve uma afinidade surpreendente e, por 6 anos, trabalharam juntos.
Seu Moreira foi como um pai postiço para seu Milton. Com sua generosidade, o amigo ajudou o jovem a comprar seu carro e dar entrada em sua casa. Coisas que só mesmo um pai poderia oferecer. Com a ajuda do patrão e seu próprio esforço, seu Milton cresceu na profissão e foi em busca de sua outra meta: abrir o seu salão.
Com cerca de seus 38 anos, ao enfrentar essa nova empreitada independente, o Barbeiro já tinha sua casa, seu telefone e seu carro. Conquistas admiradas com louvor por seus filhos, que conhecem muito bem cada passo dado pelo pai na conquista de suas metas.
“Nosso pai é nosso maior exemplo de homem. A gente aprende muito com ele, ele tem muita sabedoria e sábias palavras. Sempre tem algo pra dizer, compartilhar, que apazígua, acolhe, acalenta. A gente tem um pai amoroso, um exemplo dentro de casa”, conta Edilene Pagnocelli, a caçula.
Do salão do seu Moreira, dois de seus pupilos formariam uma sociedade, gerando um dos mais famosos salões de Campo Grande. Milton juntou-se ao colega Fernando e abriu um novo espaço que, juntando suas iniciais, daria vida ao salão Milfer’s (Milton + Fernando), um dos mais conhecidos e queridos da cidade.
“O Milfer’s fez muito sucesso em Campo Grande, se destacou bastante, era um salão que participava de desfiles de moda, na época do Alexandre Bilo e outros Jornalistas. O salão tomou uma envergadura muito grande, cresceu muito e nós (com Fernando Milfer´s) fomos sócios por 16 anos”, revela seu Milton.
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Passando o legado
Após mais um tempo, o empresário, barbeiro e cabelereiro passou a investir em seus filhos: duas filhas, dois filhos (Eliel, Elisângela, Edmilson e Edilene), que também escolheram sua profissão. “Um desistiu (Eliel), mas três ficaram comigo”, diverte-se. “Antes de comprar o Kings, abrimos um salão chamado Milton e Filhos cabelo e estética. Hoje estamos aí na batalha, os os filhos junto comigo trabalhando e desenvolvendo a profissão. Esse é o legado que quero deixar para eles, porque quando eu precisar parar, ou quando Deus quiser me recolher, eles já estarão bem estruturados e sabendo como conduzir o salão. Mas eu só vou parar quando eu ficar doente ou morrer”, reforça seu Milton.
Sobre os ciclos da vida
Com o passar dos anos, uma oferta seria oferecida a seu Milton: “se eu não queria comprar o Kings, do qual eu havia trabalhado com o seu Moreira. O Salão já tinha sido vendido a uma certa pessoa, depois vendido novamente a outra, eu sou o terceiro dono”, conta.
Há 10 anos, seu Milton está à frente do Kings Cabeleireiros, tornou-se o proprietário. Os filhos, adultos formados e excelentes profissionais, continuam firmes e fortes trabalhando ao lado do pai, seguindo a tradição familiar e formando uma nova geração de clientes.
Outra pessoa muito especial também continua fazendo a história por lá. Consegue adivinhar quem? Ele mesmo, seu Moreira, o fundador do Kings, aos 84 anos de vida, 63 de profissão, continua trabalhando no salão e vendo seu legado tendo continuidade e crescendo, cuidado com todo amor pela família que tanto ajudou e acolheu.
O mesmo que homem que, lá no passado, foi como um pai para seu Milton e esteve ao seu lado na sua trajetória, não largou a labuta. Mesmo tendo reduzido a carga horária, ele segue na profissão exercida há mais de 6 décadas, com direito a cadeira cativa à disposição, para o veterano Barbeiro atender seus clientes sempre e quando quiser.
“É uma relação maravilhosa, é uma família muito querida, muito humilde. Fui o fundador do Kings, na década de 70, depois de 30 anos vendi por questões de saúde e o Milton comprou, já de outro. É gratificante estar aqui com ele, porque é uma criatura especial, gosto muito dele. Não sinto ciúmes não, pelo contrário”, revela seu Moreira.
O texto de Elisângela, que resume o sentimento dos 4 irmãos
Venho aqui contar uma história… História com H maiúsculo!
No dia 14 agosto 1949 no interior de São Paulo em uma pacata cidade chamada Rubiácea nasce um menino muito corajoso, menino esse que cresceu em uma vida muito humilde, vendo seu pai sustentar a ele e seus 11 irmãos com apenas três objetos nas mãos: um pente, uma tesoura e uma navalha.
Aos 15 anos de idade, ainda apenas um menino, a vida lhe obrigou a tornar-se o provedor daquela família, quando precocemente seu pai foi acometido por um infarto fulminante que o levou a morte. Sem outra alternativa, assumiu a profissão de seu pai, tornando-se barbeiro para ajudar sua mãe a criar seus irmãos. Profissão está que o tornou o homem que é hoje.
Veio para Campo Grande no ano de 1973, no mês de novembro. Recém-casado, formou sua família de 4 filhos, que o viram lutar dia após dia, assim como seu pai, com apenas três objetos nas mãos: um pente uma tesoura e uma navalha. Chegando a Campo Grande passou por alguns salões até que no ano de 1975, o Kings Cabeleireiros, fundado pelo Sr. Moreira em 1970 , cederia uma cadeira para aquele menino do interior de São Paulo trabalhar como um de seus colaboradores, onde ficou por seis anos, e mal sabia ele ,que, 35 anos depois de sair dali, passando por duas sociedades , e enfim realizar o sonho de ter um salão com seus filhos , uma empresa familiar, a vida lhe daria a honra de passar de colaborador a proprietário do salão.
Mas, não tem como falar do Kings sem falar do Sr. Sebastião Moreira da Costa, conhecido por todos como “seu Moreira”, o fundador. Crescemos ouvindo de nosso pai como ele foi importante em sua vida, sempre diz que o seu Moreira foi como um pai para ele. Suas atitudes realmente foram coisa de pai para filho. Ele viu a necessidade de seu funcionário ter um carro, então o levou até o Banco Bandeirantes e pediu ao seu gerente, o Sr. Agápto, para abrir uma conta poupança com o objetivo de juntar a entrada de um carro. Toda semana, a secretaria descontava do seu pagamento, a mando do seu Moreira, um valor fixo que era depositado na conta que abrira.
Quando ele viu que já tinha 30% do valor do carro, levou nosso pai no banco Itaú, pedindo para que seu gerente fizesse um financiamento, dando então a oportunidade da aquisição do seu primeiro carro. Fez a mesma coisa quando nosso pai desejou comprar um terreno e começar a construir sua casa. Passou por problemas financeiros e, quando estava prestes a perder o terreno, seu pai, o seu Moreira, novamente o ajudou, impedindo que o perdesse. Atitudes de um verdadeiro pai.
Por essas e muitas outras, seu Moreira tem hoje uma cadeira cativa no Kings até o dia que ele quiser. Nós filhos, em nome de nosso pai queremos expressar nossa gratidão. A bíblia Sagrada, no livro de segundo Timóteo 3, fala de um homem irrepreensível, esposo de uma só mulher, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar. Não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento.
Eu achava que esse homem não existia na vida real…mas quando comecei a escrever essas linhas, pude perceber então que eu conheci este homem no dia que eu nasci… Sempre convivi com ele todos os dias da minha vida, esse homem é o nosso pai que, com uma grande mulher ao seu lado, sua virtuosa esposa, pode nos ensinar sobre caráter, simplicidade, humildade, fidelidade e generosidade.
Com essas qualidades e valores, pode escrever sua história profissional e mostrar que é possível manter a dignidade, o caráter e a perseverança, mesmo com tantos espinhos. Ele colheu todos os espinhos que encontrou em seu caminho e construiu um muro bem alto, deixando para trástodas as palavras e pensamentos de derrota e negativismo, depositando em Deus sua fé e confiança.
Foi através dessa Fé que no afinal de 2018, o Sr. Milton Celestino comemora seus 70 anos de idade e, sendo ele agora o proprietário, comemora também os 50 anos do Kings, dando início a uma nova fase…. Uma nova história.
FIM
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