“Pantanal” na Globo: Exclusiva com Bruno Luperi, autor do remake e neto de Benedito Ruy Barbosa
O ano era 1990, dia 27 de março, no horário nobre da extinta TV Manchete estreava a novela que vinha para fazer história na teledramaturgia brasileira. O país conheceu novos cenários, histórias, personagens e realidades muito diferentes do que era exibido na televisão. Resultado de um sonho e grande aposta do autor Benedito Ruy Barbosa, […]
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O ano era 1990, dia 27 de março, no horário nobre da extinta TV Manchete estreava a novela que vinha para fazer história na teledramaturgia brasileira. O país conheceu novos cenários, histórias, personagens e realidades muito diferentes do que era exibido na televisão. Resultado de um sonho e grande aposta do autor Benedito Ruy Barbosa, o projeto o fez deixar a Rede Globo e arriscar-se em uma nova empreitada, em uma emissora com porte muito menor e sem grande tradição em teledramaturgia. O que poderia dar errado?
Nascia a novela “Pantanal”, gravada em Mato Grosso do Sul, um fenômeno de audiência, um sucesso avassalador. 30 anos depois de sua estreia, em 2021, a história ganhará uma nova versão, anunciada oficialmente no último domingo, 6, no Fantástico. A novela virá em horário nobre, com toda pompa e circunstância para a comemoração dos 90 anos do grande mestre Benedito Ruy Barbosa, criador de outros clássicos como Renascer, Terra Nostra, Rei do Gado e Velho Chico.
O remake promete trazer a essência da versão original, mas terá os devidos cuidados de atualizar a trama e contar a história de Zé Leôncio, Juma e Joventino de uma forma atual, fresca e renovada. Como um legítimo fã da obra, testemunha ocular deste grande marco da televisão brasileira, fui logo atrás de conversar com o autor da nova versão da novela, Bruno Luperi, neto de Benedito, que prontamente nos atendeu e revelou, com exclusividade ao Midiamax, algumas dicas do que virá por aí.
Mas antes, deixa eu exibir os autógrafos que peguei (30 anos atrás) com parte do elenco da primeira versão e guardo até hoje!
Entrevista Bruno Luperi
Bruno, qual é a sua relação com Pantanal? O que representa na sua história?
O Pantanal surgiu como uma parte afetiva muito forte no meu imaginário, na minha infância. Eu nasci quando Pantanal (novela) estava sendo concebida, nos bastidores. Foi engraçado porque meu avô prometia pra mim e pros meus primos que ele nos levaria pro Pantanal um dia. A vida passa, vem as atribulações e acabou não acontecendo, ficou só na promessa… Mas todas as histórias que ele colocou na novela eram as que contava pra gente, ao pé da cama.
Já tem data para fazer uma visita? Quais partes do Pantanal planeja conhecer?
Vou conhecer logo em breve. Eu tinha uma viagem programada, mas por conta da pandemia a gente teve que atrasar um pouquinho. Vou passar pelos dois (Estados), na verdade, a princípio estamos fazendo um roteiro onde a gente consiga priorizar o que seria o melhor cenário pra novela. Isso daí o pessoal da produção e direção, que conhece bastante da região, já estão cuidando de fazer um roteiro mais assertivo nesse ponto. Não temos nada definido ainda, mas certamente eu vou passar por onde a história se passa.
Como viu a repercussão na internet sobre a volta da novela? As apostas para elenco?
É uma relação muito engraçada. Sou meio bicho do mato por natureza, embora seja de São Paulo, nascido e criado, mas que tem uma relação muito forte com o interior. Não sou muito chegado as grandes redes sociais, tecnologia e modismos, sou mais reservado. Desde quando passou a matéria no Fantástico, de domingo pra cá muitas brincadeiras aconteceram, acabei criando uma conta no Instagram, que eu nem tinha, e acabei acompanhando isso (a repercussão) de longe, mas não deixo me influenciar muito.
“Pantanal, pra mim, é um divisor de águas na carreira do meu avô. Ali ele falou a língua do Brasil e foi recebido desta maneira. Ali ele pisou com os dois pés nas características mais fundamentais do trabalho dele, eu acho o mais relevante deste ponto de vista. Gosto muito de outras novelas dele também, mas Pantanal tem esse DNA mais marcado”, Bruno Luperi.
Como fica o desafio de adaptar o texto para os dias atuais? Qual foi o start do projeto?
Minha primeira medida quando Pantanal surgiu como uma possibilidade, foi reassistir alguns capítulos, depois fui aos originais do meu avô. É uma leitura muito minuciosa, ponto a ponto, porque existem umas questões que são atemporais, outras não. Ela é uma novela muito bem construída do ponto de vista dramatúrgico, a minha ideia é seguir muito a toada do texto original, pois é uma obra que pede que tudo seja de raiz, os personagens tem uma raiz muito forte, nada muito forçado, inventado.
Há mais de 30 anos, antes da Manchete, “Pantanal” poderia ter sido da Globo, não é mesmo?
Meu avô saiu da Globo há 30 anos, atrás de um sonho. Ele passou nove anos brigando pela novela na Globo e ela não saía. Reza a lenda, o que já me contaram da história, foi que o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex vice-presidente da emissora), quando meu avô falou que ia fazer “Pantanal” na Manchete, ele disse “Vai, quebra a cara e volta”. E ele foi e, em menos de três semanas, já reverteram a audiência, que saiu de 7 pra 38 pontos no Ibope.
“Acho que é o momento de trazer o pantanal de novo pra cena, a missão é essa, né? Isso me abastece o espírito de alegria, de felicidade e espero estar à altura”, Bruno Luperi.
Sobre o novo elenco? Não se fala de outra coisa na internet!
Ainda estamos tendo conversas muito incipientes sobre o elenco, mas temos definido um conceito artístico para os atores. Buscamos belezas que não sejam “industrializadas”, “pré-moldadas”. A gente que trabalha com o aspiracional das pessoas, temos a obrigação de encontrar essa tintura brasileira, rostos diferentes, um sotaque novo. Não dá pra garantir que a gente encontre um novo “Almir Sater”, é um fenômeno que ocorre de tempos em tempos, outra parte que estamos olhando com carinho é a parte musical. É o momento da cultura pantaneira, da moda de viola, da música raiz.
Os atores da primeira versão farão participações no remake?
Temos alguns nomes, mas são muito delicados ainda. Tenho pelo menos dois nomes certos na minha cabeça e na do Papinha (Diretor). É uma novela de fases, a gente tem o Joventino criança, adulto, Velho do Rio, Zé Leôncio novo e adulto. Dessa família tem o Tadeu e o João Lucas de Nada… Agora, acho que não é a hora de divulgar nada ainda, mas a ideia é sim trazer alguém. Não acho que vá ser nada óbvio, vamos olhar com carinho pra isso.
A pergunta que não quer calar: E a Juma, como ela será? E o Jove?
Em conversas com meu avô sobre a Juma, sobre quem ela seja, imagino muito claro uma menina, jovem, não será um rosto muito conhecido, pode ter um, dois trabalhos nas costas, um rosto novo, fresco. Uma menina que é um bicho por fora, que carrega em si a essência masculina do preservar-se, proteger-se… Já o Jove, que é o contrário, é um homem criado por três mulheres no Rio de Janeiro, com a mesada do pai, que na opinião dele, está morto, sem nenhuma necessidade de se conectar ao mundo masculino, arquetípico convencional. Ele acaba sendo um homem que tem a alma feminina muito estabelecida, não uma situação ligada a sexualidade, e a Juma uma mulher com alma masculina, a gente ganha essa discussão. Naquela época não aprofundaram tanto o tema, mas hoje a gente tem uma margem muito bacana.
Vocês vão atrás de atores locais também? Seja no MS ou MT?
A minha ideia é essa, é uma das prerrogativas do meu avô e foi falado exatamente isso, “não tem como fazer Pantanal fora do Pantanal”. Não tem como fazer sem dar oportunidade para os artistas locais. A gente tentou isso em Velho Chico, foi uma toada que a gente teve de trazer atores regionais, pra buscar diversificar e trazer representatividade.
O que os fãs da novela e o novo público poderão esperar da nova produção?
A minha expectativa é reviver esse sonho, sem nenhuma maior ambição que isso. Sou zelador de um trabalho muito bom, até brinco aqui que sou um azulejista do texto do meu avô. Pantanal não precisa de um novo autor, eu só tô lá pra fazer uns recortes necessários. É um trabalho grande, denso, que gera ansiedade, cobrança, mas é um trabalho muito bom. Quem viu a versão original ou teve contato com ela, vai ver o quanto esses 30 anos trouxeram de densidade para obra e uma nova leitura. (.)
Segundo Mauricio Stycer, do UOL, se não houver imprevistos, “Pantanal” entrará no ar em setembro de 2021, logo após “Um Lugar ao Sol”, de Licia Manzo, sucessora de “Amor de Mãe”.
Pra matar a saudade, relembre a abertura da novela:
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