Lembranças da Juma: Cristiana Oliveira recorda ao Midiamax suas histórias no Pantanal
30 anos atrás uma novela foi responsável por sacudir as estruturas da televisão e mostrar para todo país as belezas de um cenário muito pouco explorado pela mídia. Contrariando a Rede Globo, à época, Benedito Ruy Barbosa foi o quem assumiu os riscos, mudou-se para Rede Manchete e colocou o Pantanal em “caixa alta” para o país inteiro e […]
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30 anos atrás uma novela foi responsável por sacudir as estruturas da televisão e mostrar para todo país as belezas de um cenário muito pouco explorado pela mídia. Contrariando a Rede Globo, à época, Benedito Ruy Barbosa foi o quem assumiu os riscos, mudou-se para Rede Manchete e colocou o Pantanal em “caixa alta” para o país inteiro e o mundo ver.
Entre atores veteranos, os novos rostos apresentados chamaram muita atenção, entre eles, um talento que deixou registrado na história da teledramaturgia brasileira, seu registro de uma personagem icônica, que até hoje se faz presente em nossas lembranças e na cultura pantaneira: a “Juma Marruá”, de Cristiana Oliveira.
“Eu fiz a Juma completamente despretensiosa, me apaixonei pela personagem. Eu não sabia o que eu ia enfrentar, se ia ter dificuldades, não sabia nada. Eu só queria saber de viver essa mulher. Nunca tinha ido ao pantanal, foi tudo muito novo. Fiz a Juma da forma mais verdadeira e natural possível”, conta.
Enquanto buscam a atriz que dará vida à personagem na nova versão de Pantanal, produzida pela Rede Globo, adaptada por Bruno Luperi – com quem já conversamos por aqui – entramos em contato com ela que é a Juma raiz, a primeira, a que viveu todo o sucesso da primeira versão e ainda colhe os louros de uma obra atemporal, considerada um marco na história da teledramaturgia nacional e “Juma Marruá”, uma das mais célebres personagens.
Ao Midiamax, em entrevista exclusiva com Cristiana Oliveira, as memórias do Pantanal por quem o viveu de forma completamente incrível e inesquecível.
Boas Lembranças
O que eu mais lembro são as serestas entre os peões, com o Almir Sater e o Sérgio Reis, era uma reunião que a gente tinha. Acontecia no celeiro que peões da fazenda ficavam, todos tomando tereré e o Almir e o Sérgio e nós, atores, cantando junto. No fim da tarde, antes do sol se pôr, tinha uma mesinha, que até hoje tem, eu vi em uma foto recente da fazenda. Ela era redonda e tinha um banco que circundava a mesa. Teve muitas vezes em que ficávamos ali cantando. A Andréa (Richa, a “Muda”) tem uma voz linda, eu ficava escutando e esse foi meu primeiro contato com a música sertaneja.
O Céu como Espetáculo
Um dia que me impressionou mesmo foi quando eu olhei praquele céu, parecia que ele estava perto, bem em cima da nossa cabeça! Na cidade a gente não vê tantas estrelas, o tempo pode estar limpo, mas tem poluição, a iluminação da cidade… Mas no Pantanal não! No Pantanal foi meu primeiro contato com aquela quantidade de estrelas, aquelas constelações… Pela primeira vez eu tive contato com aquela loucura. Eu sabia que estava em uma parte de um ecossistema com uma rica biodiversidade, aquilo tudo me encantou completamente. Vi como eu era uma pessoa simples, que dava valor àquela simplicidade, aquela humildade, da vida daquelas pessoas. Tudo isso mexeu muito comigo internamente.
Entre Jacarés e Piranhas
Eu era muito nova, tinha 26 anos, era uma pessoa destemida. Não tinha os medos que hoje, depois de mais velha, eu tenho. Naquela época eu me lançava nas coisas e ia ver se era boa ou ruim. Lembro que eu chegava pra gravar na beira do rio, já contei 20 jacarés por lá, um do lado do outro. Eu pisava na areia e os jacarés corriam pra dentro do rio. Tinha que fazer cenas nua e sabendo que naquele rio tinha piranha, mas não tinha medo! Nadava pelada, com roupa e num tava nem aí! (Aos risos) É uma lembrança muito gostosa, mas hoje eu chegaria na beirinha, mas não mergulharia.
Rolê no Pantanal de “Teco Teco”
Outra memória que eu tenho tem um cara que mora em Campo Grande, o Luiz Henrique, que fez o piloto. Não o vejo desde essa época de Pantanal. Adorava voar com ele, quando ele me buscava no aeroporto de Campo Grande, lá na pista mesmo, eu embarcava no “teco teco” pro Pantanal. Era uma sensação maravilhosa, porque quando o tempo tava bom, ele dava uma rasante em cima da floresta. Eu via muitos animais, dava pra ver! Amava viajar de “teco teco”, era um barato! A gente ia conhecendo, passando pelas falésias, pelas salinas, por aquelas belezas que era uma coisa absurda… Ele era um amor de pessoa, eu tenho até tristeza de não ter mais contato com ele.
“Casinha”
No Pantanal não tinha essa coisa de não ter banheiro perto e a gente perde totalmente a frescura. Se a gente fosse fazer “n.1”, “n.2”, tinha que ir pro meio do mato. O máximo que tinha lá era um papel higiênico. Ali não tinha nenhum estrelismo não, nunca teve problema nenhum com isso.
Quando Apertava o Coração
A única lembrança ruim que eu tinha dessa época, era a saudade da minha filha e da minha família. Não tinha telefone, era só rádio. Toda vez que usava o rádio pra falar com a minha filha, ou com meu marido na época, com minha mãe, meu pai, todo mundo escutava, era rádio amador. O que que aconteceu foi que as pessoas (atores, produção) começaram a querer pegar o avião e ir pra Campo Grande pra ligar pra família. Era a única sensação ruim que eu tinha, de ficar, às vezes sem saber da minha filha, ela tinha 3 anos, eu ficava angustiada de saudade dela.
O Sucesso de Juma
Tive uma educação muito legal dos meus pais. Quando começou aquele sucesso, minha mãe me chamou em casa e falou “Krika, olha só, você tá fazendo sucesso agora, daqui a pouco pode ser que não, você tá ganhando dinheiro agora, mas mais pra frente pode não ganhar mais, tudo isso é muito cíclico e faz parte da carreira do artista. Não se deslumbra”. Eu disse “mãe, com a educação que você me deu, dar valor às coisas simples, sempre ser humilde, isso não vai mexer comigo”. Mexeu no seguinte, por oportunismo, muita gente começou a aparecer, a querer ser amigo, mas eu sabia que não era por mim, era pela personagem, pela fama. Mas mantive os ensinamentos da minha mãe muito forte em mim.
Eu fico muito feliz com esse reconhecimento, eu não sou a “Juma”, eu tive uma assinatura de uma personagem que foi escrita pelo Benedito Ruy Barbosa, a personagem é dele. A que eu fiz ficou registrada em 1990, mas não sou eu. Mesmo eu Cristiana assistindo a “Juma”, ela existe, mas não sou eu mais.
Pantanal em Chamas
As queimadas do Pantanal me preocupam muito. Do jeito que está, um índice histórico de destruição. Estou em contato com algumas ONGs para contribuir da maneira possível, o Pantanal faz parte de mim. Se as coisas continuarem assim, em 40 anos o Pantanal vai virar um deserto. É uma emergência. Ver isso tudo acontecendo me dói demais, lembrando o Pantanal lindo que eu conheci.
Cristiana está aberta a conhecer novas ideias, iniciativas para ajudar e proteger o Pantanal, entre em contato via Instagram pelo seu perfil @oliveiracris10.
Nova Juma
Não tenho poder de escolha, se eu pudesse escolher, escolheria alguém de Mato Grosso do Sul ou Mato Grosso, com o físico parecido com as mulheres daí, que conhecem o Pantanal mais de perto. Que fosse desconhecida, que fosse testada. Acho que daria uma pureza maravilhosa, mas tem outras atrizes muito inteligentes, muito talentosas com capacidade de criar uma nova Juma. O que não pode é comparar!
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