“Aqui tem quase tudo, entre e verifique” diz o anúncio na porta do armazém de dona Terezinha, no Taquarussu. Passando de carro pela rua Brigadeiro Tobias, o singelo marketing chamou atenção e fui conferir com meus próprios olhos se tem quase tudo mesmo.

Com um jeitinho interiorano, cara de bolicho de antigamente, uma quantidade incontável de coisas diferentes à venda, que vão desde vassoura a pandorga, de paçoca a blusinha, de picolé a kit de costura, o Quase Tudo tem uma charmosa simplicidade que nos faz voltar no tempo.

Quando chego à venda, um estridente sensor de presença anuncia minha chegada. Atrás do baleiro gigante, está uma simpática senhora, baixinha e descalça, super à vontade. Olho a parte de dentro do estabelecimento e viajo em lembranças do passado, de quando era pequeno e torrava meus “trocados” no bolicho do seu Celestino.

Com jeito de bolicho, comércio no Taquarussu vende “quase tudo”: de bolitas a pandorgas
“Aqui tem quase tudo, entre e verifique” (foto: Leandro Marques)

Nascida em Recife, PE, criada desde os cinco anos em Aquidauana e há um bom tempo em Campo Grande, a senhora Terezinha Patrocínio herdou do pai o espírito de vendas. “Ele (o pai) já era comerciante lá em Recife e foi por muito tempo dono da “Casa Amarela”, uma casa que é muito famosa lá. Aí nós viemos pra cá (MS) e fomos morar na fazendo Pulador, lá ele pôs o comércio dele, era atacado, aquelas coisas. Em Aquidauana, ele tinha um box em um mercado de lá”, conta.


Tem de tudo um pouco mesmo?

Quase Tudo! Quem criou esse nome a própria dona Terezinha. Antes era Blue Star, ideia do falecido esposo, o sr. Aristeu. “Resolvi chamar de ‘quase tudo', porque aqui tem de tudo e mais um pouco”, afirma. Sobre o que pude constatar, lá tem muitas coisas mesmo: um armarinho, doces e guloseimas, tereré, pandorga, roupas femininas, catálogos da Avon, Hermes e Abelha Rainha, créditos para celular, aviamentos, refrigerantes nacionais e regionais, não vende álcool, mas vende bolitas!

Confesso que fiquei surpreso por rever as “bolitas”, quantos anos não via umas assim a venda, de vários tamanhos e transparências. Lindas e brilhantes, enfeitam o cenário da vendinha. Já as roupas, a proprietária avisa logo que estão lá porque teve algumas clientes que compraram (pelo catálogo), mas não foram buscar. Tsc, tsc, tsc…

Sobre o clima de bolicho interiorano, é tudo que dona Terezinha mais gosta. “Nossa, eu adoro! Porque meu pai era aquele comerciante antigo, aqui lembro tanto do meu pai, do meu esposo… Tem gente do interior que chega e fala, nossa como é gostoso aqui. Perguntam se vou reformar, mas falam, ‘não, reforma não, deixa assim mesmo'”, conta.


A calçada é um bom lugar para fofocar

Enquanto converso com dona Terezinha, quem passa é a vizinha, dona Rosa. Ela já chega brincando e conta que todas as tardes, uma coisa é certa, tem reunião na calçada. “Isso tem muitos anos, uns 20, 30 anos. Essa é a calçada da fofoca, mas ó, fofoca do bem”, diverte-se a vizinha.

Para falar da vida, desabafar, lá na calçada também é permitido. “Quando a gente tá nervosa, quer contar os problemas, desabafar, eu venho aqui. Ela tem a religião dela, minha família tem a nossa, (‘ora uma pela outra', diz dona Tereza ao fundo), estamos sempre querendo saber da outra, se uma some vamos atrás, ‘por que você sumiu?'”, conta dona Rosa.

Quem ajuda a tocar o negócio é o filho “postiço”, Fábio. Filhos biológicos dona Terezinha tem três (Nilton, Nilva e Nilma), dois deles vivem em , os mais velhos, e a caçula mora em . “Moramos por 22 anos em São Paulo, todos os meus filhos se formaram lá. Em Campo Grande só a mais nova mora aqui (a paulista). Os campo-grandenses moram lá”, diz.

Já por aqui, em fevereiro completou 18 anos que dona Terezinha voltou à capital e retomou o negócio, que além de ter uma infinidade de produtos, também tem uma super mulher administrando tudo.