Com pais doentes, ela vende sacolé e sonha com festa de 15 anos em bairro de Campo Grande
É em uma pequena casa, localizada na Cidade de Deus em Campo Grande, que Kellen Camilli vive com os pais e 2 irmãos. Como qualquer adolescente, a garota é cheia de sonhos e planos para o futuro, com um detalhe que chama a atenção: ela precisa dividir a rotina entre a escola e a venda […]
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É em uma pequena casa, localizada na Cidade de Deus em Campo Grande, que Kellen Camilli vive com os pais e 2 irmãos. Como qualquer adolescente, a garota é cheia de sonhos e planos para o futuro, com um detalhe que chama a atenção: ela precisa dividir a rotina entre a escola e a venda de sacolés para ajudar no sustento da família.
Nenhuma das crianças da família chegou a ter uma festa de aniversário, nem “um bolinho”. Debutante no último dia 28, Camilli só viu uma comemoração de 15 anos pela TV e só colocou um vestido longo quando visitou uma loja de locação de roupas.
Ao que parece corriqueiro para muita gente, ainda é uma fantasia para os moradores da Cidade de Deus. Sem condições financeiras para comemorar os 15 anos da filha, os pais da adolescente trocaram os presentes e os parabéns por aquilo que, segundo eles, o dinheiro não compra: honestidade e bom coração.
A vida sempre foi difícil para Amitai de Souza Campo, de 37 anos. A dona de casa sonhava em ser mãe de uma menina quando engravidou de Camilli. Cada ano que a “princesinha da casa” fazia aniversário, era uma tristeza para os pais que não tinham condições de proporcionar uma festinha. A situação da família piorou quando, há cerca de 2 anos, o pai de Camilli adoeceu e precisou tirar uma parte do intestino. Acamado e usando sonda, o homem se aposentou e, atualmente, recebe o benefício de um salário mínimo.
O passar dos anos fez com que os sonhos da jovem ficassem mais distantes. A realidade da garota andou na contramão das meninas da sua faixa etária quando ela abdicou das redes sociais, reunião com amigas e festinhas para se dedicar totalmente à família.
O pai precisou também retirar um rim e desenvolveu uma hérnia de disco. Nesse meio tempo, a mãe da menina ficou com trombose e não consegue mais ficar muito tempo de pé. O homem engrossa a renda familiar catando recicláveis, já que somente o remédio da esposa custa R$ 240 para 28 dias. Mesmo com todos os problemas, que poderiam tirar o sorriso de Camilli, ela carrega a ingenuidade de uma criança.
“O passatempo dela é desenhar, assistir TV e ir na igreja com a família. No tempo livre também brinca de bonecas. Sempre foi criada dentro de casa e os pais têm medo de deixar ela sair sozinha aqui pela comunidade”, conta uma das primas, Daiane.
No mês passado, as primas de Camilli a levaram para conhecer uma loja de locações de roupas de festa. Pela primeira vez, a adolescente colocou um vestido longo e se sentiu como uma princesa. Sem dinheiro para o aluguel, o conto de fada durou apenas alguns minutos. “Ela ficou muito feliz e tiramos fotos dela com a roupa para guardar como lembrança.”
Os olhos de Amitai ficam cheios de lágrimas quando questionada qual seus planos para o futuro da filha. As dificuldades do desemprego, gastos com remédios e luta diária para colocar comida na mesa não ofuscam o sonho da mãe de ver os filhos trilhando um caminho próspero.
“Queria poder dar para ela tudo que eu não tive. Esse sonho da festa de 15 anos, que não consigo proporcionar para minha filha, me dói muito. Ela merece por ser uma menina esforçada, que ajuda os pais. É estudiosa e sonha em ser médica.”
A vontade de cursar medicina não é por acaso. Camilli tem o desejo de ajudar as crianças e fazer o bem. Tímida, a garota revela, em tom de voz baixo, como vê o futuro.
“Acordo às 5h30 para ir para a escola, depois a tarde vendo sacolé para ajudar meus pais. Tenho vontade de ser médica, ajudar os outros. Meu sonho, por agora, era ter uma festa de 15 anos como as que vejo na TV. Com salão, vestido longo azul, docinhos e salgadinhos. Tudo para reunir minha família e ter um momento inesquecível.”
Quem quiser entrar em contato com a família, pode ligar para Daiane no telefone 9 99100 – 1053.
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