No zero: Elas estão raspando a cabeça sem medo
Os tempos são outros, a pauta feminista trouxe à tona diversos assuntos que eram empurrados pra debaixo do tapete e deixados lá bem quietinhos… O momento atual é de quebrar tabús, das mulheres se comportarem cada vez mais como elas desejam, englobando desde o jeito de se vestir a se comunicar com seu ambiente imediato. […]
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Os tempos são outros, a pauta feminista trouxe à tona diversos assuntos que eram empurrados pra debaixo do tapete e deixados lá bem quietinhos… O momento atual é de quebrar tabús, das mulheres se comportarem cada vez mais como elas desejam, englobando desde o jeito de se vestir a se comunicar com seu ambiente imediato.
A maneira de usar os cabelos também é uma forma de expressão. Cabeleiras longas, antes sinônimo de feminilidade, hoje é apenas uma “opção”. A mulher atual sabe que é ela quem manda em seu visual.
Trazemos aqui quatro histórias de mulheres que tiveram a coragem de dizer “até logo” aos seus longos fios e aderiram ao frescor da cabeça raspadinha. Acham que elas ficaram menos femininas por causa disso? Ledo engano… Elas, deixaram a insegurança de lado e encaram suas escolhas de peito aberto e cabelos curtíssimos.
Conheça essas histórias…
Cabeça raspada, colorida, que felicidade! Bibis Vargas é figura certa nos rolês mais “delicinhas” de Campo Grande. DJ, produtora de moda e empresária, ela trabalha com sua imagem e tudo o que usa, não é apenas para chamar atenção, é uma das formas que ela usa para se expressar, quebrar velhos conceitos e inspirar as minas que curtem suas ideias.
“Eu nunca fui muito dedicada aos cuidados com o cabelo, confesso que sempre foi um problema para mim! Por ele ser ondulados e não ter muita definição, o trabalho para deixá-lo bonito era grande! Sempre levei quase uma hora para arrumá-lo. Aliado a isso, desde o ano passado passei a praticar corrida regularmente, o que exigia mais dias de cuidados com os cabelos! Então o que me motivou, de verdade, foi a praticidade, queria me ver livre de tantos procedimentos, queria uma vida capilar mais prática!”, conta.
Sair um pouco do “padrão” foi libertador pra Bibis, e a fez reconhecer outras belezas em si. “Me arrisco em dizer que com o cabelão, ficaram muitas inseguranças e medos para trás. Hoje vejo que estou construindo não só uma nova imagem visual, mas também uma nova mulher!”.
Para a Fotógrafa Camila Vilar, a decisão de raspar a cabeça é resultado de uma transformação profunda que tem vivido. A menina que antes acumulava inseguranças, hoje lida com suas fraquezas com mais compreensão. “Esse ano foi um divisor de águas na minha história. Passei de menina que tinha diversas inseguranças, ansiedade, baixa auto-estima por não me encaixar em padrões. A mulher que estou me descobrindo agora, é totalmente mais consciente e desperta do que sou”, conta.
Antes mesmo dela ter passado a máquina, Camila cultivava uma farta cabeleira, cheia de cachos, cuidados com carinho para brilhar. Mas algo ainda não estava totalmente resolvido… “Eu tinha feito transição capilar há 2 anos, estava aproveitando os momentos com os cachos, mas ainda tinha muita insegurança da minha imagem pessoal, não gostava do que via. Percebi que o problema estava na forma como eu me olhava, cheia de distorções. Comecei meu processo de cura espiritual, voltei a fazer psicanálise e fui descobrindo e curando várias inseguranças”.
Os avanços na saúde mental e espiritual de Camila resultaram no coletivo “Juntas Crescemos“, formado por 60 meninas. Desde então ela pôde redescobrir a força e o poder da amizade feminina e ganhou mais confiança em si. “Foi dentro dessa comunidade de mulheres que consegui ir, aos poucos, desapegando de várias coisas. O cabelo foi indo no processo, até o momento em que eu raspei sozinha com uma maquininha e gravei como forma de superação de todos os momentos de ansiedade e insegurança que eu tive e por eu ser o que sou”.
Bia Godoy é pura vibes, sorrisão e conexão. Em busca de auto-conhecimento, ela vem de uma caminhada longa dentro de si e hoje ostenta uma leveza de alma muito inspiradora. Atuando como Instrutora de Yoga, de uns anos pra cá muitas transformações externas e internas ocorreram em sua vida. Por fora, com sua imagem, ela traduz o que é internamente e seu espírito livre e curioso a fez experimentar como é ser careca, pela primeira vez. “Achei que ia me assustar com a imagem careca, mas me senti tão eu, foi natural me olhar assim”, conta.
Seus cabelos já estavam curtinhos, estilo “Joãozinho”, mas a vontade de diminuir o número da máquina falou mais alto. “A vontade de raspar sempre tava ali e quando via alguma mulher com o cabelinho raspado isso me inspirava”, revela.
O cabelo raspado chama muita atenção, é diferente, é ousado, é pra quem tem personalidade, pois as pessoas, com certeza, vão olhar! “Dependendo do lugar que vou, sinto olhares curiosos. A maioria das pessoas próximas a mim elogiam. Minha avó perguntou ‘porque acabou com seu cabelo’ e disse pra ela que é um corte como qualquer outro que eu sempre fiz”. #Fadasensata
Depois de passar por uma viagem a São Paulo, a Professora de História Amanda Ramires, voltou a Campo Grande com muitas mudanças internas. Ela percebeu que não estava mais feliz com seu visual e apostou em uma mudança radical. “Estou passando por um processo de mudança emocional e profissional muito fortes e o fato de ter raspado a cabeça, de querer mudar, é uma questão simbólica de tentar me encontrar. Buscar outras formas de me sentir bem comigo mesma”, diz.
Uma transformação na aparência tão grande também causa um pouco de estranhamento. Mudar a cor, o corte, o penteado já pode causar impacto, imagina raspar?! O desafio torna-se olhar para si, se surpreender com seus potenciais e ter outras perspectivas sobre você mesma. “Cada dia tem sido um desafio: o de olhar no espelho e enxergar outros tipos de beleza em você”, revela.
Novas sensações também aparecem quando você se permite mudar. Raspar os cabelos para ela também é uma experiência sensorial. “Uma sensação muito boa foi tomar banho… Senti a água caindo no couro cabeludo, parecia uma massagem. Você sente mais o vento, fora que passar a mão na cabeça raspada é uma delicia e gasta menos shampoo!“.
Um novo ponto de vista de si
Em comum, as quatro mulheres desta matéria tem muito forte a vontade de se auto-conhecer, se expressar e mostrar a todo mundo que cabelos não são sinônimos de feminilidade. Ao contrário de quem tem esse pensamento, elas se sentem mais livres, autênticas e muito femininas. “Não me sinto menos feminina por isso, muito pelo contrário. De fato é uma questão social ‘menina tem que ter o cabelo cumprido’. Não, você pode também se sentir muito feminina com o cabelo raspadinho. Você percebe seus traços, outras formas em seu corpo, tudo ganha mais em evidência com o cabelo bem curtinho”, conta Amanda Ramirez.
Outro ponto em comum entre as experiências das nossas entrevistadas é justamente a chance de se olharem através de uma nova perspectiva. Perceber no espelho traços diferentes, novas formas de se maquiar, se vestir e encarar a vida. “O cabelo é muito associado à vaidade e à beleza da mulher. Sair um pouco desse padrão me fez reconhecer outras belezas em mim”, conta Bibis Vargas.
“Sempre gostei de mudar meus cortes e nunca tive um apego grande ao cabelo e sua forma. Gosto de me por a prova e aprender a me amar de todo jeito e também mostrar que a “feminilidade” imposta não é um padrão. Cada mulher, cada pessoa, se mostra como quiser”, diz Bia Godoy.
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