Eutanásia canina: após 16 anos de amor, foi preciso dizer adeus
Meu desespero era tanto que nem sei ao certo que horas o relógio marcava. Desci do carro com a Léssie enrolada em um edredom, um dos poucos que ela não conseguiu destruir. Nos últimos tempos, a fraqueza da velhice não permitia a ela fazer as peripécias de antes. Cada passo que dava em direção àquela […]
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Meu desespero era tanto que nem sei ao certo que horas o relógio marcava. Desci do carro com a Léssie enrolada em um edredom, um dos poucos que ela não conseguiu destruir. Nos últimos tempos, a fraqueza da velhice não permitia a ela fazer as peripécias de antes.
Cada passo que dava em direção àquela clínica só aumentava ainda mais minha agonia. Na sala de espera enquanto tudo era preparado, me agarrava a ela com força e tentava retribuir todo amor e ao mesmo tempo agradecer pelos 16 anos em que ela me fez tão feliz. Sabia que aqueles eram os últimos minutos em que estaríamos juntos.
Horas antes precisei tomar uma decisão que certamente foi uma das mais difíceis e dolorosas com que já me deparei. A Léssie estava sofrendo e os remédios não apresentavam mais resultados. A única saída era a eutanásia…
Volto a falar da minha experiência com a Léssie nesse texto, que aliás, considero uma homenagem a ela. Mas antes, vamos entender um pouco mais de como funciona esse procedimento em animais de estimação.
Em 2013 a Cebea (Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal) do CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) publicou o Guia Brasileiro de Boas Práticas para Eutanásia em Animais. No documento, o órgão lista diretrizes e normas legais para que o procedimento seja feito. Tudo é devidamente regulamentado é a prática indiscriminada é passível de punição.
De acordo com o Guia, a eutanásia só pode ser feita depois de análise e parecer favorável de um especialista e é permitida quando:
- O bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor e/ou o sofrimento dos animais, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, sedativos ou de outros tratamentos;
- O animal constituir ameaça à saúde pública;
- Constituir risco à fauna nativa ou ao meio ambiente;
- For objeto de ensino ou pesquisa;
- O tratamento representar custos incompatíveis com a atividade produtiva a que o animal se destina ou com os recursos financeiros do proprietário.
O médico veterinário Diogo Helney Freire explica que a eutanásia em cães e gatos é feita em duas etapas. Primeiro, o animal é totalmente sedado, em seguida, é feita a aplicação de cloreto de potássio, medicação usada para fazer o coração parar. “A única dor que o animal sente é a picadinha da agulha na hora de pegar a veia, depois disso ele já dorme como nos casos em que é feito um procedimento cirúrgico”, esclarece.
De acordo com o especialista, embora o sentimento de apego fale alto, em casos extremos em que a eutanásia é indicada é preciso levar em consideração o sofrimento do animal, que a esta altura, já não tem mais qualidade de vida e pode ter a dor prolongada se o procedimento for adiado.
“Esse é um tema delicado e nunca é uma decisão fácil. A gente conversa bastante, explica os riscos e fala da dor, desconforto e de tudo o que o animal está sentindo. Mas deixamos na mão do dono, não podemos obrigar ninguém a fazer a eutanásia”, afirma.
E foi assim com a Léssie… Segundos depois de a anestesia ser aplicada ela dormiu nos meus braços, dormiu como tantas vezes fez no piso frio de casa, ou nos inúmeros buracos que cavava no quintal, só que desta vez, eu sabia que seria para sempre.
Naquele momento, o choro e o desespero estavam em um nível que já não podia controlar. A vontade era pegá-la no colo e sair correndo daquele lugar, mas no fundo, sabia que aquele era o melhor a se fazer e que não poderia ser tão egoísta assim.
Duas outras injeções foram dadas e estava feito…Foi desolador… Ainda em meio a lágrimas e sem conseguir dizer uma só palavra, tentava me confortar no fato de que aquilo também era o fim do sofrimento do ‘bichinho’ que amei e cuidei por tanto tempo. Só quem tem uma animal de estimação sabe o que eles representam na nossa vida.
A Léssie viveu 16 anos. Chegou em casa dentro uma caixa de papelão depois de eu muito insistir para que minha mãe me deixasse ter um cachorro. Desde então, foi uma cadela muito amada e feliz. Dava ‘rolês’ na rua, rasgava os panos de dormir, enchia o quintal de buracos e interagia com as visitas. Era a alegria da casa que hoje amanheceu triste e silenciosa.
Fomos melhores amigos. Estivemos juntos até o fim!
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