Com títulos a perder de vista, bibliotecas pessoais são verdadeiros ‘xodós’
Só quem é apaixonado pelo universo encantado dos livros entende o que significa ter o próprio acervo em casa. Com títulos a perder de vista, estas bibliotecas pessoais são verdadeiros “xodós” para quem passou anos colecionando obras literárias. Nesta semana, o MidiaMAIS está produzindo uma série de reportagens sobre bibliotecas, lembrando a Lei nº 12.244/2010, que determina […]
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Só quem é apaixonado pelo universo encantado dos livros entende o que significa ter o próprio acervo em casa. Com títulos a perder de vista, estas bibliotecas pessoais são verdadeiros “xodós” para quem passou anos colecionando obras literárias.
Nesta semana, o MidiaMAIS está produzindo uma série de reportagens sobre bibliotecas, lembrando a Lei nº 12.244/2010, que determina que instituições de ensino tenham o próprio acervo com bibliotecários contratados. Já falamos sobre a visão de estudantes e professores sobre as bibliotecas em escolas, contamos a história de como este espaço coletivo de livros moldou a vida do poeta e jornalista Rafael Belo e listamos as principais bibliotecas de Campo Grande.
Na matéria desta quarta-feira (8), o MidiaMAIS mostra acervos pessoais, pequenas e grandes coleções de livros guardados em casa. De quem passou uma vida inteira guardando obras e hoje tem uma biblioteca com bem mais de mil livros a quem ainda começa a construir o próprio acervo, encontramos pérolas e raridades. Confira!
Juntando as bibliotecas
Quando a jornalista Evelise Couto, 33 anos, e o funcionário público Daniel Rockenbach, 36 anos, foram morar juntos, há cinco anos, não juntaram apenas as escovas de dente, mas também a biblioteca pessoal que cada um tinha. Hoje, os dois somam um acervo com mais de 3 mil obras, com os mais diversos títulos. E com o tempo, o casal encontrou até obras que agradassem aos dois.
“Eu e a Eve não líamos as mesmas coisas, eu gosto de literatura fantástica e ela foge de terror e ficção científica. Quando ela começou a participar do Vórtice Fantástico nós começamos a encontrar leituras em comum, o que acontece agora também com o Leia Mulheres. O Conto da Aia de Margaret Atwood é um ficção científica distópica que acabamos lendo juntos em virtude do grupo e nós dois gostamos muito no final”, conta Daniel.
A biblioteca foi montada em um quarto separado no apartamento do casal, com prateleiras em todas as paredes.
E além dos livros, Evelise e Daniel compartilham também uma pontinha de ciúmes pelos livros. “Quando eu acho que a pessoa vai ler, faço questão de emprestar, quero muito que ela leia até pra conversar sobre depois da leitura. Mas na maioria esmagadora das vezes eu me frustro quando empresto porque a pessoa acaba pegando o livro e sequer lê. Isso foi desenvolvendo um ciúme dos livros a ponto de eu criar regras do tipo não pego emprestado se não vou emprestar ou empresto só um determinado número de livros pra que eu tenha controle do que saiu. A triste verdade é que perdi muitos bons livros emprestando, algumas edições bem raras inclusive. E não é só com os livros: filmes e jogos também. Seria fácil dizer que perdi a conta dos que nunca voltaram mas a real é que lembro de cada um”, confessa Daniel.
Desde a infância
Na biblioteca fantástica da artista Miska Thomé há livros de quando ela tinha quatro anos e também os primeiros volumes dos gibis do Tarzan e do Tio Patinhas, todos ainda muito bem conservados. O número de títulos, ela não faz nem ideia, mas garante que há duas estantes só de livros sobre arte.
Além de exemplares do jornal “O Pasquim”, Miska também destaque a obra “A Viagem Filosófica”, de Alexandre Rodrigues Ferreira, e “Os Sertões de Euclides da Cunha”, edição de 1940. A biblioteca foi montada em um espaço junto ao ateliê e embaixo do quarto da artista, que é no estilo loft, formando quase um mundo encantado a parte dentro da casa dela.
Lá, Miska tem de tudo um pouco, livros da cultura de Mato Grosso do Sul, vinil, revistas, obras de literatura estrangeira, títulos de espiritualidade, meio ambiente, partituras. E ela garante que já leu o acervo inteiro. “São obras que fizeram parte da minha vida toda, de todas as fases, é a minha história. Leio por deleite e por estudo. Com os livros viajamos sem sair do lugar”, diz a artista.
E este coleção de livros de todos os tipos ela divide com amigos e família. “Agora são os netos que estão curtindo este acervo”, conta.
Herança da mãe
A coleção de livros do artista e contador de histórias Ciro Ferreira, 48 anos, é uma herança da mãe dele, talvez a maior delas. “Em 1979, quando vim de Camapuã para Campo Grande, comecei a ter acesso aos livros. Eu tinha uns 11 anos, minha mãe era empregada doméstica, mas ela sempre comprava gibis e livros pra mim. E foi aí que tudo começou”, conta.
De lá para cá, Ciro construiu um acervo com mais de 700 títulos. E mesmo depois de adulto, a mãe de Ciro continua agregando à biblioteca pessoal do artista. “O último livro que ganhei da minha mãe foi ‘Assim se Benze em Minas’, que fala sobre as benzedeiras de Minas Gerais. Isso tens uns 10 anos”, conta.
Herança que ele também faz questão de deixar para a filha. “Quando nasceu minha filha, comecei a comprar livros para ela. Hoje, com 21 anos, ela é formada em Letras e já está no mestrado. É o maior legado que eu poderia deixar”, afirma.
Mas o artista comemora também as obras literárias que ganha de presente. “Recentemente, ganhei a coleção completa da obra do escritor sul-mato-grossense Hélio Serejo. Já li duas vezes todos os livros e uso alguns textos dele para contar história”, pontua Ciro.
Biblioteca de Iniciante
Embora o acervo de livros ainda seja tímido, com cerca de 75 títulos, a terapeuta holística Cristina Gasparetto tem o sonho gigante de construir a própria biblioteca. “No começo, não era minha intenção montar uma biblioteca particular, mas hoje já tenho vontade”, conta.
Para Cris, não é apenas uma biblioteca particular, mas sim um mundo a parte formado por livros. “Quando compramos um livro, estamos levando um pouco de nós mesmos para casa, só que é um “nós” com a capacidade de transformação. Os livros que escolhemos muitas vezes falam mais sobre nós do que sobre a própria história ou autor em si. Por isso, construir um acervo em casa é como nos “reconstruir” pouco a pouco, com direito a expansão plena da mente, da própria vida. Às vezes, precisamos de livros que nos façam chorar. Às vezes precisamos de livros que nos façam rir. Por vezes, alguns que falam de coisas diferentes das que conhecemos, mas que conversam com a gente, como um amigo, um parceiro, ou um professor”, pontua a terapeuta.
Sobre os títulos, ela coleciona dos mais variados e ressalta que um dos preferidos do acervo dela é “Alice no País das Maravilhas”. “Não curto romance por exemplo. A maioria fala sobre comportamento humano de alguma uma forma. Tem os que falam sobre Bruxaria, tarôs, cristais, Feng Shui, além de História. Tenho um bem antigo sobre a história dos Celtas que amo. E tenho aquele livro absurdo da Santa Inquisição, o Maleus Maleficarum”, conta.
E ela finaliza a entrevista reforçando a leitura de todas as obras que guarda pela casa. “Comprar um livro e não ler, é como matá-lo. Um livro só tem vida quando é lido. Por isso é mais válido ter um pequeno acervo de livros vivos, do que uma grande biblioteca de livros mortos”, completa.
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