“Ela está fincada na terra, assim como a viola de cocho está fincada em nossas raízes”, descreve o artista Zito Ferrari, sobre a nova obra do artista plástico Cleir Ávila. Com 60 metros de comprimento e 16 de largura, o monumento tem o formato do instrumento musical que nasceu na Serra do Amolar, no coração do Pantanal, em Mato Grosso do Sul: a viola de cocho.
Depois de desenhado no papel e idealizado na mente artística de Cleir, o tanque foi construído no quintal da chácara do artista, onde ele mora e também onde funciona seu ateliê. Ele conta que a ideia nasceu durante uma conversa corriqueira com o sogro, Ricardo Figueiró, quando pensaram em fazer algo que representasse e marcasse os 40 anos da divisão do Estado.

E o projeto rabiscado por Cleir foi construído com detalhes ricos em significados. O primeiro ponto a se observar no instrumento construído no chão é que a viola de cocho foi concretada com a parte de trás para cima. E existe um motivo bem específico para isso. “Na viola de cocho, a cabeça é inclinada para baixo, então se fosse construída para cima, ficaria estranho. Desse jeito, aproveitei ainda para fazer uma queda d’água”, explica Cleir.
Entre as cravelhas, a água escorre pela cabeça até encontrar o braço, simulando as cinco cordas do instrumento, e forma a primeira queda d’água da viola construída no gramado.
No corpo da viola de cocho, mais duas quedas d’água. Nestes pontos, Cleir colocou cinco madeiras que simultaneamente representam as cordas do instrumento e servem como uma espécie de passarela. O espaço é decorado com pedras que vieram direto da comunidade quilombola Furnas do Dionísio, localizada em Jaraguari.

Ao longo de todas as partes da viola de cocho, o camalote dá um toque charmoso à obra de Cleir. A planta boia sobre a água que preenche os espaços do instrumento concretado, assim como corre com destino incerto pelo rio Paraguai.
Cleir conta que o monumento levou aproximadamente três meses para ficar pronto e servirá como tanque para peixes. “Vou colocar só espécies daqui do Estado, como piraputanga e pacu”, diz o artista.
Sobre a viola de cocho
Os primeiros registros etnográficos do instrumento foram publicados pelo etnólogo alemão Karl Von de Steinen, numa comunidade indígena da etnia Guató, em 1883, as margens do Rio Paraguai, no pantanal.
É um instrumento musical de cordas dedilhadas, singular quanto à forma e sonoridade, produzido exclusivamente de forma artesanal. Variante da Viola brasileira (caipira), trazida pelos portugueses e oriunda da Península Ibérica. Esculpido em um tronco de madeira maciça (inteiro), da mesma maneira que se faz o cocho, utensílio usado para colocar o sal/alimento para o gado nas fazendas do Pantanal. É por esse motivo que recebe o nome “viola de cocho”.
Até pouco tempo atrás, eram utilizadas tripas de animais, como Macacos (Bugios) e Ouriços para o feitio das cordas; hoje utiliza-se fios de nylon (pesca) por oferecer maior durabilidade e melhor ressonância ao instrumento.
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