Inúmeras lições, dentre elas a vontade de crescer na vida, o amor familiar e o compromisso com a democracia. Este é o legado que o militar reformado Bernabé Pavão, de 99 anos, deixou como principal herança à família. Personagem de uma matéria do Jornal Midiamax nas últimas eleições, Bernabé faleceu na madrugada desta terça-feira (16), em sua casa, na Capital.

No último dia 7, Bernabé fez questão de ir às urnas e votar em seus candidatos. Nem a avançada idade ou mesmo as limitações de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que sofrera em 2015 foram obstáculos para que o idoso vestisse seu melhor traje para exercer a democracia. A história chamou atenção da reportagem, que no dia das eleições, conversou com o idoso.

Naquele dia, no sofá de casa, Bernabé vestia traje alinhado e boina. Sorriu para o repórter várias vezes e esforçou-se para responder perguntas. Sua esposa há duas décadas, com quem ele casou logo após a viuvez, dona Marina apoiou o esposo nas respostas. Disse que votar sempre foi um compromisso do marido, que nunca deixou de acompanhar as notícias de política.

Nesta terça, no entanto, um de seus 11 filhos, a professora Águida Pavão, de 67, comunicou o falecimento do pai. Com a voz serena, relatou à reportagem que seu Bernabé faleceu por volta das 4h, deixando amor, lembranças, valores e muitos ensinamentos como herança. A professora contou alguns fatos até então desconhecidos pela reportagem.

“Ele foi um vencedor. Foi em busca do sonho dele. Ele mesmo dizia que era um bicho do mato, mas teve vários filhos, netos e bisnetos e todos encaminhados na vida. Ele dizia que era incrível que alguém que saiu do interior para a Capital fizesse curso de aviador civil. E que tivesse tantos filhos formados”, destaca Águida.

Após ficar órfão, Bernabé ajudou a criar os irmãos. Foi um homem muito dedicado à igreja católica. Nunca aceitou ficar parado e mesmo reformado no posto de tenente, buscava ocupar o tempo, ser produtivo.

Bernabé partiu, mas deixou valiosas lições, como o compromisso com a democracia
Pai, avô e bisavô, Bernabé deixou muitas lições (Foto: Minamar Junior | Jornal Midiamax)

“Ele fez até a Faculdade da Melhor Idade, na UCDB. Aprendeu a fazer várias atividades, tanto intelectuais como comidas. Meu pai, que nunca tinha pego numa vassoura em casa, estava realizado”, brica a filha.

Segundo Águida, Bernabé levava a educação muito a sério. “Era um militar, então era um homem muito disciplinado. Nos educou com essa disciplina e era muito orgulhoso do caminho que seguimos. Ele tem duas filhas enfermeiras, uma advogada, um economista, duas psicólogas, vários funcionários públicos… Tudo foi com sacrifício, respeito, nunca houve luxo. Fez de tudo para que nós conseguíssemos vencer na vida, sempre nos cobrou retidão”, relata.

Economista e professor universitário, Eugênio da Silva Pavão, 51, também filho de Bernabé, também conversou com o Jornal Midiamax. Ele destacou os valores do pai pela família e pela amizade. Um amigo de 102 anos teria lhe ensinado a ser piloto civil.

“Depois que papai se aposentou, ele se dedicou muito à igreja, ajudou muitos jovens para seguirem o sacerdócio. Meu pai era uma pessoa incrível, muito carinhosa, sempre pegava a gente para cortar o cabelo. Ele que cortava, fazia uma filinha de filhos e cortava um a um. Sempre nos ensinava coisas boas, mas também deu muita bronca. Foi uma pessoa que saiu do nada e chegou onde chegou… Temos muita admiração”, conta o economista.

Bernabé partiu, mas deixou valiosas lições, como o compromisso com a democracia
No dia 7, ele fez questão de comparecer às urnas e votar (Foto: Minamar Junior | Jornal Midiamax)

Bernabé despediu-se deste plano nesta madrugada, mas deixa legado perene. Seja nas lições aprendidas por filhos, netos e bisnetos, no amor que nutriu pela esposa Marina, no sorriso dispensado à reportagem, ou no exemplo presenteado aos leitores, no caso, o compromisso com a democracia.