A Esplanada Ferroviária, nas proximidades da Feira Central, é onde fica um dos epicentros culturais de . No local, que respira história, funciona desde 2013 a sede do grupo teatral Urgente Cia. E é também onde trabalha Bárbara, a única esperança de seus integrantes contra os roubos frequentes que ocorrem na região.

Após roubos frequentes, Bárbara é a única esperança de grupo teatral
Cia. teatral está na Rua Doutor Temístocles desde 2013 (Reprodução)

Bárbara é uma manequim, desses de vitrine, mas que é considerada integrante da Urgente, a ponto de compor algumas instalações cênicas do grupo. Neste ano, porém, ela ganhou uma nova função e tornou-se uma espécie de guarda patrimonial da sede que, desde dezembro, sofreu sete invasões e arrombamentos.

“Na primeira vez, tivemos alguns instrumentos de roubados. Mas, na segunda em diante, notamos que só o que estava na geladeira estava sendo levado. Roubaram cerveja, refrigerante, suco, água, biscoitos, açúcar, geladinho… Quer dizer, as pessoas que entraram aqui queriam comer. Eram pessoas miseráveis passando ”, comenta o diretor teatral Vitor Hugo Samúdio.

Guarda patrimonial

A ideia de recorrer a Bárbara foi a única saída dos integrantes da cia, que não têm recursos para investir em segurança, um dos ramos de serviço mais lucrativos da atualidade. Concertinas, cercas elétricas e alarmes não custam menos de R$ 5 mil numa propriedade nas mesmas dimensões da Urgente Cia.

Após roubos frequentes, Bárbara é a única esperança de grupo teatral
Por enquanto, comida na geladeira continua sendo alvo (Reprodução)

“Estamos vendo o que dá para fazer para proteger esse patrimônio, a Bárbara é um meio de tentar conscientizar. Mas em meio a essa situação toda, a gente não consegue ignorar essa constatação de que as pessoas cometem crimes para comer”, relata o diretor.

Segundo Samúdio, os roubos estariam relacionados ao crescimento da população de rua em Campo Grande. “A gente fica refletindo, querendo entender o que está acontecendo com essas pessoas e com o lugar onde a gente mora. Pessoas que roubam para comer, miséria, falta de perspectiva, algo que está acontecendo ao nosso redor e que são um pouco novas por aqui”, relata.

Por enquanto, Bárbara tem cumprido bem seu papel e só a geladeira tem sido assaltada. “A situação é caótica e muito triste, mas a gente está até fazendo uma brincadeira chamando de ‘Meu Ladrão Favorito’. Estão roubando nossa comida, temos medo de que peguem nossos materiais de trabalho, mas não dá pra ignorar que estamos lidando com miséria e exclusão. É uma situação muito complicada e não temos, por enquanto, o que fazer”, conclui Samúdio.