Tucano que visita escritório todo dia é xodó da firma e até ganhou nome
Tuco foi flagrado ‘admirando’ o próprio reflexo
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Tuco foi flagrado ‘admirando’ o próprio reflexo
Manhã nublada em Campo Grande e bem ali, na esquina das ruas Quinze de Novembro e Dona Ambrosina, não foi difícil perceber que no corrimão de um escritório de advocacia está um ser incomum. Com seu bico alaranjado e penas negras está um tucano, que às vezes parece até estar admirando-se com seu reflexo no vidro espelhado.
Feito o registro, a curiosidade jornalística levou a reportagem a indagar sobre o bicho. E adivinha só que surpresa saber que o tucano tem até nome: Tuco. Pelo menos assim contou uma funcionária da firma de advocacia, que preferiu não se identificar. “Ah, ele vem aqui sempre. Fica ali naquele cantinho, no corrimão. Olha lá, tem até um cocozinho dele”, conta a funcionária apontando para o chão do corrimão. “Quem limpa o cocô sou eu, mesmo. Não acho ruim. Ele é tão bonitinho que eu não ligo”, brinca.
A funcionária descreveu o tucano da mesma forma que foi flagrado pela reportagem: faceiro, ele gosta de ficar bem em frente a um vidro espelhado e parece admirar a própria beleza, fazendo pose a quem passa e às vezes tocando com seu bico na superfície espelhada. Segundo a mulher, o bicho foi batizado de Tuco por outra funcionária, chamada Luana, com quem não conseguimos contato.
Porém, apesar de amigável, o tucano não é domesticado. “É só passar gente na porta que ele voa, ninguém chega perto. Só pelo vidro. Vem gente da firma inteira tirar foto, porque às vezes ele vem, pousa bem ali e fica batendo com o bico no vidro da janela”, diz.
Como nem tudo são flores, há uma história triste que acompanha a ave. Segundo a funcionária, Tuco costumava frequentar o mesmo espaço, porém, acompanhado. “Eram dois tucanos. Só que um se chocou contra o vidro espelhado enquanto estava voando. Até levaram ao veterinário, mas o bicho não resistiu”, concluiu.
Tucanos pela cidade
Na paisagem campo-grandense, onde fauna e flora parecem brigar por espaço em meio a concreto e carros, um dos aspectos interessantes dessa disputa entre meio ambiente e progresso é que os animais que antes só se viam em matas agora fazem parte do nosso dia a dia – desde araras, que passam gritando o tempo todo pelo céu, aos tucanos, que vieram a cidade logo no início dos anos 2000. Com eles, Campo Grande tornou-se uma capital com aparente biodiversidade.
Mas a duras penas, literalmente. Essas aves mais exóticas vieram para a cidade em busca de um novo habitat, fugindo do desmatamento. “Os tucanos vieram para Campo Grande na carona das araras e hoje a gente tem em todo canto da cidade. Eles se reproduzem com facilidade e assim como as araras adaptaram-se ao meio urbano”, conta a professora Neiva Guedes, docente do Programa de Pós-graduação em Meio Mmbiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp e presidente do Instituto Arara Azul.
Segundo a pesquisadora, os tucanos podem até ser fofinhos, mas são predadores de ovos e até de filhotes pequenos de outras aves. Guedes também afirma que é comum essas aves se agitarem com a própria imagem refletida. “Às vezes elas até ‘brigam’ com as imagens, porque eles imaginam que pode ser outra ave ocupando o espaço delas. Aliás, temos muitos relatos de araras e outras aves que também se chocaram com vidraças refletivas e morreram. Isso tem acontecido com frequência”, conta.
E apesar da tentação que é ter um bicho desses sempre pertinho, a pesquisadora recomenda não alimentá-los. “Muitas pessoas costumam alimentar esse animais, mas quando fazem isso, não ajudam a natureza. Pelo contrário: ao alimentar, o animal torna-se dependente e desaprende a caçar. E se a pessoa viajar? O ideal para atrair esse animais de forma respeitosa e harmônica é o plantar árvores frutíferas e mantendo os0 ninhos em palmeiras e coqueiros ocos. Animal bonito é animal livre, e não cativos”, conclui. (Colaborou Anny MalagolinI)
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