Público poderá acessar raridades de forma gratuita

Dos tempos áureos das grandes estrelas do rádio, das gravadoras icônicas e dos lançamentos de discos que vinham naquele formato tão amado e conhecido, que é o vinil, ficou muita saudade. Mas ficou também a vontade de não ver tantas preciosidades se perdendo com o passar do tempo. Movido por esse desejo, o pesquisador Carlos Luz se dedica, desde o ano de 2000, a digitalizar centenas de discos de vinis e CDs, tanto no que tange ao som (lado a, lado b, o disco com todas as suas canções), e também o encarte, selo, e tudo que pudesse remeter e eternizar a obra. 

Agora, com aporte do FIC (Fundo de Investimentos Culturais), na edição 2015-2016, o público terá acesso a esse material através do projeto Memória Fonográfica, que será oficialmente lançado nesta terça-feira, às 19h, no MIS.

De Alta Tensão a Glauce Rocha, acervo do MIS ganha preciosidades em vinil e CD

“Percebi que muitos artistas tinham discos em formato LP, como Dino Rocha, Délio e Delinha. Fui então pesquisando, recebendo contribuições. Consegui reunir muita coisa que se não é daqui, se refere de alguma forma à Mato Grosso do Sul, seja antes ou depois da divisão do estado”, acrescenta Carlos. Segundo o pesquisador, alguns discos levaram cerca de 10 anos para serem encontrados e muitos deles estavam no Rio ou em São Paulo. “É muita pesquisa. Você vai buscando a história do artista e tendo essas surpresas”. 

Raridade

E dentre tantas curiosidades desse tempo enorme de pesquisa dedicada, algumas preciosidades vieram à tona, e para Carlos, uma delas é bem especial. 

“O que eu mais gosto de comentar é sobre ter encontrado um disco do Franquito. Ele nasceu em 1947 em aquidauana, e ele foi um ‘Luan Santana’ em sua época. Gravou seis LP’s na Copacabana Discos em uma época que só quem gravava lá eram Roberto Carlos e Erasmo Carlos!”, enaltece o pesquisador. Segundo ele, tem somente não só os seis discos como Franquito assinou todos eles quando Luz finalment obteve os LPs para seu acervo. Segundo ele, Franquito foi um nome notável que também chegou a assinar um filme dirigido por José Mojica Marins, o Zé do Caixão. 

Outra lembrança que ele tem dessa época é a questão dos compactos. “Funcionava assim: o artista gravava um compacto e mandava para as rádios. Se fizesse sucesso, lançava o LP e as rádios iam tocando. Muita coisa se perdeu. Os compactos eram as ‘fitas demo’ de antigamente”, relembra. 

Acervo acessível

Dos discos que irão para o MIS, muitos são verdadeiros tesouros, conforme enaltece a diretora do museu, Marinete Pinheiro. Para ela, o trabalho de Carlos Luz é de preservação da cultura de forma muito prática e crucial. “Quando eu estava gravando meu filme sobre a Delinha, precisei muito dessa pesquisa. O Carlos tinha os 32 discos gravados por ela digitalizados. É um trabalho excepcional. Nem mesmo a Delinha tinha a capa de alguns, e ele tinha tudo. É um trabalho que vai da digitalização da música até as capas, encartes, tudo”, indica Marinete. 

Ela afirma que, para o público ter acesso a todo esse material a partir desta terça, será facilitado pelo MIS. O acervo digital poderá ser consultado no local, bem como poderão ser vistas as cópias físicas. “As pessoas poderão pedir por e-mail se existe aquele título no acervo e ir lá consultar”, explica. 

Dentre as raridades que poderão ser encontradas estão, além de compactos e discos de nomes já conhecidos como Almir Sater e Helena Meirelles, LPs e CDs como “Metalmorfose”, disco de estreia do Alta Tensão, gravado em 1981, talvez um dos registros mais importantes de uma cena de rock progressivo e metal que já foi muito forte por aqui, e o disco de estreia da dupla Jads e Jadson, que não está na discografia oficial da banda e foi gravado em 1987, tendo os músicos respectivamente 13 e 9 anos de idade. 

Outra preciosidade relembrada por Carlos Luz é um disco que contém uma gravação, dos dois lados, de um monólogo inteiro da atriz Glauce Rocha. “Ela era conhecida como uma pessoa do teatro. Mas ela gravou um monólogo todo em um LP, que se chamava ‘O Belo Indiferente’. É gravado ao vivo”, relata. 

O MIS fica fica no 3º andar do Memorial da Cultura e da Cidadania, na Avenida Fernando Correa da Costa, 559, Centro. A entrada é franca para a solenidade é franca.