Páscoa até existe em outras religiões, mas com significados bem diversos
Liberdade religiosa têm promovido visibilidade de outros credos, que fogem da ritualística cristã
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Liberdade religiosa têm promovido visibilidade de outros credos, que fogem da ritualística cristã
Em um país de tradição religiosa cristã, sobretudo católica, o feriado da Páscoa – ou Semana Santa, como prega o catolicismo – afeta a todos sem distinção, seja na fé ou no bolso. Vai muito além dos costumes ritualísticos que impregnam a rotina do brasileiro nos dias que antecedem a celebração, até a economia é afetada pela data. A procura por ovos de chocolate, peixes e frutos do mar, pão de coco e outros alimentos afins foi naturalizada, ainda mais quando a sexta-feira de Páscoa é, inclusive, feriado nacional, independente da religião professada.
Entretanto, por mais que o período faça mais sentido no contexto do cristianismo, outras religiões também celebram a data, mesmo que com diferentes significados. E embora seja certo que as rotinas pascais cristãs influenciem muito as celebrações de outros credos, cada religião tem seguido para um fortalecimento dos próprios rituais. Afinal, para além da questão religiosa, há certamente elementos cultural e identitários na composição de cada credo.
A liberdade religiosa, a propósito, promove visibilidade da cultura de outros credos, a exemplo do judaísmo, para a qual a páscoa tem significado bastante diferente. Conhecida como pessach, a ‘páscoa judaica’ tem significado diverso das religiões cristãs e marca a ‘festa da libertação’, ou seja, a comemoração de quando hebreus foram libertados do Egito por Moisés, após atravessaram o deserto e encontrarem a terra prometida, atual Israel.
“O que a gente faz no pessach é justamente isso, celebrar essa vitória dos judeus guiados por Deus, através de Moisés. Durante sete dias, a gente fica sem comer nenhum alimento fermentado. O que a gente come é o matzá, um pão tradicional sem fermento. Nessa época, nós fazemos muitas rezas e reflexões. Tudo tem uma simbologia, representa algo do passado do nosso povo”, conta a gastróloga Daniela Feher.
Segundo ela, essas simbologias são condensadas principalmente na ‘keará de pessach’, um prato onde se põe cada componente simbólico do pessach, durante a seder (o jantar cerimonia no qual culmina o pessach). “Cada elemento tem um significado e nos ajuda e remeter à cultura judaica e à história do nosso povo, os sacrifícios de Deus para conosco”, afirma.
Rumos diferentes
Historicamente, para resistirem, estes credos precisaram recorrer ao sincretismo com o catolicismo, um fenômeno de ressignificação das entidades para um contexto cristão, que marcou fortemente os rituais do candomblé. “As casas tradicionais têm uma ligação sincrética muito forte. A maioria até fecha e suspende todas as atividades durante a quaresma. Assim, a sexta-feira Santa, pra nós, é uma data de resignação perante Oxalá. Vestimos branco, resguardamo-nos em casa. Não comemos carnes e nem frango, somente peixe. Não saímos, não festejamos. A páscoa, por outro lado, marca essa reabertura, o que não deixa de ser um renascimento. Nós nos recolhemos na quinta-feira nos terreiros. Dormimos lá, acordamos na sexta em jejum pela manhã para fazer ritos de proteção, acender velas e realizar nossas preces”, relata o Babalorixá Lucas de Odé, 28, dirigente do Axé Dambá Odé, terreiro de candomblé em São Bernardo do Campo.
Um fenômeno diferente tem sido observado na umbanda, uma religião brasileira, porém, oriunda do catolicismo, espiritismo, cultos ameríndios e do africanismo. Por muitas décadas, a aproximação com a páscoa católica no mesmo período, mas a situação mudou. “Antigamente as pessoas não tinha liberdade de ser umbandistas, devido ao domínio católico. Por isso as pessoas antigas eram umbandistas, mas carregavam muitas tradições daquela religião. Como as coisas evoluíram e houve mais liberdade religiosa nas últimas décadas, a umbanda fortaleceu-se e, atualmente, não considera mais o calendário católico”, explica Elson Borges dos Santos, diretor espiritual da Tenda de Umbanda Pai Joaquim de Angola.
Segundo ele, a maioria dos umbandistas já não seguem os rituais antigos, que muitas vezes até copiavam a igreja católica, como abstinência na sexta-feira Santa e rituais de lava-pés.. “O que a gente se vale desse período é que devido ao feriado, a maioria dos terreiros acaba não trabalhando, mas por questões de médiuns que viajam, a corrente fica pequena… Agora, a questão de renovação na páscoa, que a igreja católica prega neste período, a gente prega o tempo todo. Todos os dias, para nós, têm o sentimento de páscoa.
Por fim, há religiões como o islamismo, que já nem sequer veem na páscoa algum significado especial, como explica Omar Ibrahim, coordenador do blog ‘A Nova Cruzada’, sobre cultura e religião muçulmana. “Para nós, muçulmanos, esta semana não traz qualquer significado espiritual especial, pois não cremos na morte de Cristo e por consequência, não cremos em Sua ressurreição, uma vez que só ressuscita, ou volta a vida aquele que morreu”, conclui.
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