Instalação reacende debate sobre o visível e ocupação de espaços

Diariamente passamos por eles e mal os percebemos. Os orelhões continuam onde sempre estiveram, às vezes há mais de 20 anos, aguardando que algum necessitado, em um momento de urgência, recorra às suas funcionalidades. É que em tempos de internet, celular e suas facilidades, nem mesmo os telefones fixos têm vez. Imagine só os orelhões.

Foi a partir deste exercício de percepção, no entanto, que o projeto ‘Arte Transforma', tocado por alunos do curso de arquitetura e design da (Universidade Católica Dom Bosco), decidiu recorrera os obsoletos orelhões, que no passado eram fundamentais para a comunicação das pessoas, a fim de despertar um debate sobre invisibilidades.

Alunos reformularam aparência dos orelhões (Divulgação)“Eles sempre estiveram onde estão e vão permanecer. Mas, nós não percebemos, não notamos que eles permanecem lá e que continuam funcionais. Fazem parte da cidade, mas estão excluídos, esquecidos. Nossa ideia é justamente chamar a atenção para eles por meio das pinturas e a partir daí puxar para essa reflexão sobre o invisível”, explica Roberto Figueiredo, docente da área de Cultura e Artes da universidade e coordenador da instalação, que contou com o envolvimento de 14 estudantes.

Para a instalação, cerca de 50 peças foram emprestadas pela empresa Oi, em regime de comodato. Depois de customizadas, alguns com referências a artistas plásticos de Mato Grosso do Sul, foram colocados num gramado da universidade, local bem evidente, à vista de todos. E a partir de então, os orelhões tornaram-se destaque novamente, tal qual eram há 15 anos. “Os alunos circulam entre eles, tiram selfies… Por meio da arte, eles passaram a enxergar o que existe na cidade, mas não se via mais”, aponta Roberto.

Expectativa

O trabalho de recuperação das carcaças de telefones públicos durou cerca de três meses. Antes da revelação da instalação, o grupo foi dando dicas do que estaria por vir. Primeiro, um orelhão preto surgiu do nada. Depois, ‘pessoas de papelão' começaram a fazer fila em frente à peça. Até que, nesta semana, surgiram cerca de 30 cabines estilizadas, mostrando que, de fato, a arte transforma.

Além dos orelhões invisíveis da cidade – e agora no gramado da universidade – Figueiredo também quis estimular a reflexão sobre ocupação dos espaços. “Ninguém frequentava o gramado, porque fazia sol, porque não tinha um atrativo. Agora já existe a ideia de que aquele espaço vazio, embora bonito, pode ser ocupado, também”, afirma.

Ateliê foi montado em uma sala (Divulgação)

 

Outros 20 orelhões estão em fase de transformação para uma próxima etapa da instalação, que homenageará Manoel de Barros, ainda neste mês de julho. “Não vamos adiantar detalhes para a surpresa ter um sabor especial, mas vamos lembrar que até o obsoleto pode receber novas funções”, conclui. A instalação permanece em exibição até o mês de setembro e tem entrada gratuita.