No Dia do Gaúcho, migrantes fortalecem tradição na perspectiva do respeito
Semana Farroupilha termina nesta terça
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Semana Farroupilha termina nesta terça
O dia 20 de setembro é conhecido como o ‘Dia do Gaúcho’. É basicamente quando chega ao fim a Semana Farroupilha, evento no qual as comunidades gaúchas país a fora celebram a tradição daquele povo – algo que ganhou força e foi repassada, geração após geração, e tornou-se um dos mais fortes costumes do Rio Grande do Sul. Tudo isso teve início com a ‘Revolução Farroupilha’, (20 de setembro de 1835 a 1º de março de 1845), um conflito de caráter separatista que colocou de lados opostos a então província com o Império, e que influenciou a criação da República.
Mas, a questão é que desde o fato histórico, gaúcho que é gaúcho não deixa de comemorar a data, esteja onde estiver – inclusive em Mato Grosso do Sul, onde há, desde os anos 70, uma das mais fortes colônias gaúchas, compostas por migrantes e seus descendentes, que se instalaram por aqui em busca das terras baratas e das promessas de crescimento do Estado, conforme conta a história.
A tradição gaúcha, portanto, segue firme e forte por aqui. Desde o dia 14, dois CTG (Centro de Tradições Gaúchas) organizam eventos pela cidade. Um já chegou ao fim no último domingo, com um megaevento na sede do ‘CTG Farroupilha’, com direito a bastante churrasco e leitão no rolete. Outro, promovido pelo ‘Tropeiros de Querência’ chega ao fim na noite de hoje, logo mais, com direito a jantar e à extinção da chama crioula, outro símbolo da cultura gaúcha.
Tradição
Quando se fala em tradição, a ideia que fica é da cristalização de um costume, de uma forma engessada de ler e agir sobre a sociedade. No caso dos gaúchos, o tradicionalismo e formou de uma necessidade pela luta de ideais, da ‘Revolução Farroupilha’.
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade eram esses ideais. E os CTG procuram fortalecer essa tradição e repassá-las aos descendentes. São rituais tradicionais importantes para enaltecer a história, fortalecer as relações e as famílias, além de todo o folclore gaúcho. Tem CTG em todo lugar, onde tiver um gaúcho, ele dá um jeito de juntar mais gente e fazer um CTG”, explica Sirlei Golim Brustolin, 62 anos, a ‘patroa’ do CTG Farroupilha, o primeiro a ser fundado fora do Rio Grande do Sul e que tem 54 anos.
Sirlei explica bem o que se aprende e se fortalece no CTG, bem para além do folclore, das bombachas, chimarrão e outros elementos da indumentária gaúcha. “Nós procuramos fortalecer alguns princípios, como o respeito aos mais velhos, dar atenção a quem fala conosco, sem celular na mão. Tecnologia é importante, é fundamental, mas o respeito nessas relações é fundamental”, explica a patroa.
Na última sexta-feira, durante as comemorações da Semana Farroupilha, Sirlei conta que foi feita uma ciranda com as crianças para repassar esses valores tradicionais. “Foi maravilhoso trazer crianças para o convívio sem pegar tablet ou celular, deixá-los envolvidos nas atividades do CTG. Mais uma vez, não existe perseguição da tecnologia, mas as crianças estão esquecendo de suar, de sujar as mãos e os pés nas brincadeiras”, descreve Sirlei.
No entanto, uma dúvida que sempre paira sobre quem vê de fora as tradições gaúchas é se algo precisou ser modernizado. A própria Sirlei é prova de que as coisas já mudam para acompanhar os novos tempos. Ela, afinal, é a ‘patroa’, a líder do CTG, num contexto em que são poucas as mulheres à frente da comunidade.
“Eu falo que a tradição gaúcha é estruturada desde a época que ela foi criada. Normas da dança, campeonatos, culinária etc, são todas as mesmas por essência. Mas, é evidente que há pequenas mudanças. Não é muito comum, mas existem patroas à frente dos CTG, já que o tradicionalismo não tem nenhuma objeção de que a figura do patrão seja exercida por uma mulher. Essa evolução a gente acompanha”, destaca a patroa.
Essa tendência também se repente no acolhimento de homossexuais nos centros. “Tudo tem que evoluir nesse sentido, do respeito ao ser humano, algo que é fundamental. É claro que temos algumas posturas, por exemplo, decotes, beijos e abraços no CTG, mas vale para todo mundo. O CTG pede para resguardar essa intimidade. Mas, não existe nenhum impedimento de gays frequentarem o espaço, até porque somos uma sociedade aberta. Se alguém que não for gaúcho quiser se vestir como um e aprender nossa cultura, vai ser muito bem-vindo”, conclui.
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