Dilma, Delcídio, Lula e até Olarte compõem lista para o ‘judas’ de MS

No entanto, tradição praticamente sumiu em Campo Grande

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No entanto, tradição praticamente sumiu em Campo Grande

 

Dilma, Delcídio, Lula e até Olarte compõem lista para o 'judas' de MSUma pesquisa informal realizada pelo Jornal Midiamax apontou que a presidente Dilma Roussef deveria ser o ‘judas’ de MS, em alusão à tradição de ‘malhar o judas’ no sábado de aleluia, durante a semana santa. A lista também traz o senador Delcídio do Amaral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até o vice-prefeito afastado de Campo Grande, Gilmar Olarte.

A tradição de malhar o judas refere-se à praxe de confeccionar um boneco em tamanho real, que é exposto em via pública durante o Sábado de Aleluia, no caso, hoje (26), e queimado ao pôr-do-sol, conforme narra a bíblia, sobre o apóstolo Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo por 30 moedas de ouro, denunciando-o ao exército romano. Para dar um tons mais regionais, contemporâneos, cômicos (e políticos, por que não?) ao costume, a tradição brasileira personifica os bonecos como personalidades em meio a escândalos políticos.

Entretanto, a tradição está em pleno declínio em Mato Grosso do Sul. Um dos bairros de Campo Grande onde malhar o Judas era dado como certo neste período do ano simplesmente não apresenta rastros de que a malhação possa acontecer. “Pode até ser que alguém faça, aqui na Moreninhas, como fazia antes. Mas tem um bom tempo que a gente nem ouve falar”, comenta a dona de casa Marcia Luiza Seabra Oshiro, 33, moradora das Moreninhas há pelo menos duas décadas.

 Reprodução/Imgur)

Segundo Marcia, que acompanhou o auge da tradição no bairro, a pessoa que confeccionava o boneco passava de casa em casa com o boneco recolhendo doações e após queimá-lo, fazia uma festa com o dinheiro arrecadado. “Era legal, unia o pessoal do bairro. É uma pena que a gente não veja isso mais”, lamenta.

O entregador Ricardo Lima Benites, 26, também admite sentir falta da tradição, que movimentava todo o bairro. “Minha família chegou a fazer uma vez, há muitos anos. Passamos uns 3 ou 4 dias confeccionando o boneco, enchendo com espuma de um colchão velho e umas roupas usadas. A gente deixava na rua e o pessoal passava, dava paulada, e depois a gente queimou e deu a festa para todo mundo da rua”, relembra.

Individualismo versus Tradição

Para Ricardo, um dos fatores que fizeram a tradição simplesmente sumir é o aumento do individualismo. “Hoje todo mundo só pensa em si, não fala mais com o vizinho. Todo mundo tem medo da violência, de ficar na calçada, agora é só dentro de casa. Não tem mais aquela coisa de comunidade que tinha antes, então pra que que vai mexer com isso, se ninguém vai, depois?”, aponta.

 Reprodução/Imgur)

De acordo com a mestre em antropologia Andreia Moura Mendes, que estuda os rituais de malhação do Judas, esse costume se reflete no rito de sacrifício que simboliza não só a punição simbólica do apóstolo traidor, mas também a objetificação e consequente sacrifício dos pontos de tensão e conflito estabelecidos na sociedade, seja um bairro ou o país.

“Trabalhamos com a hipótese que a Malhação do Judas é um rito sacrifical feito pela comunidade das Rocas com diversas finalidades, desde a punição simbólica do apóstolo traidor, até a imolação de vítimas focos das tensões e conflitos estabelecidos dentro do bairro”.

De fato, isso parece explicar porque políticos aparecem tanto como os ‘Judas’ da vez, renovados a cada ano, conforme o escândalo político do momento. “Mas, eu colocaria também o mosquito Aedes aegypti. Tive zika há alguns dias e sofri muito, acho que a gente deveria malhar esse mosquito”, conclui Ricardo.

(Colaborou Júlia de Miranda)

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