Flanelinha ‘adotou' praça há três anos

A caminho do Parque das Nações Indígenas, em frente ao shopping , é só olhar para a direita na Avenida Afonso Pena e perceber a frase ‘#Salve a Natureza' sobre o gramado do parque Oswaldo Arantes, bem às margens da área de várzea do córrego Prosa. Nada demais, se não tivesse sido montada com pedras retiradas do córrego por um cuidador de carros que há três anos adotou a área e cuida como se fosse dele.

Jhonny da Silva Espírito Santo, 31, que executou a ideia, é ex-morador de rua e ex-dependente químico. Após chegar em Campo Grande vindo de Cuiabá, há seis anos, conseguiu largar as drogas e foi acolhido por comerciantes da região. “Depois que Jesus transformou minha vida e me livrou das drogas eu fiquei empolgado, isso fez com que nascesse algo dentro de mim, que eu me preocupasse com a natureza, porque eu não tinha muito a oferecer”, conta.

Além de manter o espaço limpo, recolhendo lixo trazido pela água e o largado pelos frequentadores do parque, Jhonny também quis deixar uma mensagem para a cidade. Há cerca de quatro dias, ele começou a coletar pedras para deixar seu recado. Escreveu a frase numa área pequena, mas achou que não tinha muita visibilidade. Depois, decidiu aumentar o tamanho das letras e dar mais destaque à mensagem. ‘#Salve a natureza' é legível até do alto da escadaria do shopping, a cerca de 300 metros de onde foi montada.

Também conhecido como Parque Ecológico Águas do Prosa, o parque Oswaldo Arantes, onde Jhonny fez a intervenção, possui 5,3 hectares de área e fica entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Ricardo Brandão. Em 2012, teve uma parte revitalizada com implementação de paisagismo e circuitos de lazer, como trilha e travessia sobre o córrego. Porém, ainda é um local pouco atrativo, devido ao abandono e insegurança.

Frase é legível até de cima da escadaria do shopping / Luiz Alberto / Midiamax

 

Amor ao parque

Segundo Jhonny, a ideia de deixar a mensagem aos carros que trafegam pela Avenida Afonso Pena surgiu após constatar a situação do parque que, mesmo em área nobre, é desdenhado pela população. “Aqui tem capivara, tem cotia, tem arara, tem até um Pau Brasil! As pessoas não vêm aqui porque não tem nem banco para sentar. Fiquei sabendo que a água que passa nesse córrego deveria ser limpa, pois vem de uma nascente. Mas, chega aqui poluída, porque jogam esgoto no córrego. As pessoas só não frequentam essa praça por conta do fedor”, considera.

Além de abraçar o parque como causa, Jhonny também cuida de carros à noite. É figura conhecido na região. “Pergunta quem é o Jhonny que todo mundo vai saber. Os comerciantes daqui na região me dão a maior força. O pessoal do Bartholomeu me deu até casa e comida. De noite eu cuido dos carros e de dia eu cuido do parque, recolho lixo e também planto algumas árvores. O ideal era que fossem frutíferas, assim, quem viesse aqui poderia também desfrutar mais da natureza se alimentando com as frutas”, diz.

Jhonny afirma que na praça há usuários de drogas e que muitas vezes se reconhece neles. “Passa muita gente aqui na condição que eu estava. Eu não tenho muito a oferecer, mas sempre que posso digo alguma palavra de acolhimento. O milagre que aconteceu comigo eu quero que aconteça com as outras pessoas. E enquanto isso vou cuidando da natureza. Acho essa praça linda”, relata.

Além da militância pela natureza, o flanelinha afirma que também tem o sonho de retomar a família, que viu-se obrigado a largar quando era dependente químico. “Hoje eu estou tranquilo, encontrei Jesus e recebi um milagre. Mas, um milagre, mesmo, pois eu usava de cocaína ao crack. Hoje eu estou recuperado e quero também recuperar minha vida, minha família. Tenho três filhos abençoados, que moram com a mãe e os avós, e meu sonho ter minha família de volta”, conclui.