A 15km de Pedro Juan, um paraíso do ecoturismo quer ser visto pelo Brasil

O turismo de compras se tornou um detalhe depois de conhecer El Chacurru

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O turismo de compras se tornou um detalhe depois de conhecer El Chacurru

 

A van saiu do hotel bem cedo, cruzou a fronteira internacional e parou no centro de Pedro Juan Caballero. Lá, durante a espera do ônibus que nos levaria ao próximo destino, pude ver, à luz do dia, o que realmente há por trás do Shopping China. Eram as últimas seis, das 24h, em Pedro Juan Caballero.

No centro da cidade, uma sala climatizada distribui informações turísticas. Mas, do lado de fora, camelôs e lojinhas de importados crescem aos olhos. E o que está ocultado pelos grandes empreendimentos de importados é aparentemente uma grande feira ‘ching-ling’, com presença de paraguaios e pessoas de etnia oriental, comercializando mercadorias de segunda ou terceira linha. Mesmo assim, o local está lotado.

Nas ruas, ocorre a céu aberto alguma sorte de feira de carros, dezenas deles sem placa, o que indica que possivelmente são veículos furtados no Brasil. Não se vê policiamento e a prática parece ser corriqueira. Seria aquela a Pedro Juan Caballero dos próprios pedrojuaninos? Enfim.

Lojinhas de importados do centro têm produtos de 2ª linha (GC)

 

Mas, se o campo-grandense mal sabe o que encontra-se por trás dos grandes empreendimentos de importados, jamais saberia, também, que a menos de 20km dali há um paraíso perdido, que pode fazer a visita à fronteira ser ainda mais atrativa que simplesmente lotar o maleiro do carro com sacolas de compras. Saindo do centro, o ônibus atravessou a cidade, pegou uma rodovia e seguiu por uma estrada de terra, trajeto em que a paisagem urbana foi ficando cada vez mais esparsa e dando lugar a pastos, serras, vales e mata nativa.

“No Paraguai, aqui mesmo nesta região de Amambay, há muitos outros lugares além deste que vamos visitar. É só uma amostra. Mas, temos até turismo de visita a pinturas rupestres, sabia?”, disse uma representante do ‘Ministério do Turismo’ paraguaio, que acompanhou o grupo.

Assim, chegamos a um local chamado Chacurru, um ‘grito’ de Pedro Juan Caballero para atrair visitantes para além do turismo de compras. Com o acesso ainda um pouco difícil, seria necessário recorrer ao turismo receptivo da cidade para chegar até o local. E o esforço valeria a pena.

Diversão e natureza

El Chacurru fica a cerca de 15km da fronteira e é um oásis do ecoturismo, ainda no distrito de Amambay, a província que comporta, inclusive, as cidades que fazem fronteira com Mato Grosso do Sul. O empreendimento fica numa espécie de vale, para onde a água corre formando cachoeiras belíssimas. Equipado para oferecer refeições e hospedagem, o local ainda busca fortalecer o serviço receptivo. Porém, as atividades esportivas, que saem a preço bastante em conta, justificam a viagem. A área tem cerca de 25 hectares para esportes radicais, como rapel, arvorismo e tirolesa – em circuitos que duram de uma a duas horas – além de observação de pássaros ou simplesmente para relaxar com o som da água.

“Começamos a desenvolver o Chacurru em 2011, porque sabemos que a cidade tem esse problema com a sazonalidade do dólar, que as pessoas visitam a fronteira para fazer compras, apenas. Queremos mostrar que a viagem pode ser mais interessante. E isso ajuda a desenvolver a região”, afirma David Gonzalez, proprietário do local.

Pela primeira vez, pratiquei esportes radicais. A tirolesa de 150m fez-me hesitar, mas me preparou para o rappel, uma descida de 30m, que completou o circuito. Venci o medo e fui recompensado com uma experiência singular de liberdade e uma vista impressionante do vale onde está Chacurru.

Recompensa do circuito é a vista do vale (GC)

 

Eram cerca de 14h quando almoçamos e seguimos de volta para o centro de Pedro Juan Caballero. A representante do Ministério do Turismo apontava as paisagens e falava mais do país. “Não existe rancor contra os brasileiros, as diferenças foram superadas. Aquele conflito marcou muito nossa identidade, fortaleceu as mulheres do nosso país, somos mais fortes enquanto povo e amamos muito os brasileiros”, destacou, referindo-se a Guerra do Paraguai.

Nos últimos instantes das 24h, já dentro da van e iniciando a rota de retorno para Campo Grande, virei o olhar para a Avenida Internacional. O Shopping China ficava pequeno no horizonte. E tudo o que eu pensava era em como vai ser bom quando a sui generis Pedro Juan Caballero puder oferecer mais estrutura e segurança a seus visitantes.

(O repórter viajou a convite da Fecomércio-MS)

Confira as outras reportagens desta série:

  1. 24 horas em Pedro Juan Caballero: o relato de quem jamais esteve na fronteira
  2. Muito além das compras: em Pedro Juan Caballero, a noite é um atrativo à parte

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