Negras, lindas e cacheadas se reúnem na Capital para dizer não a ditadura da chapinha
Evento aconteceu no Parque das Nações Indígenas
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Evento aconteceu no Parque das Nações Indígenas
“Hey sua cabelo de vassoura, tira esse pixaim da cabeça”. Foram essas palavras agressivas que a jovem Alexia Brites, 17, ouviu durante boa parte de sua adolescência e pasmem, tudo por conta de uma particularidade tipicamente brasileira: os cabelos crespos – belos cabelos crespos, diga-se de passagem. “A maioria das meninas do colégio usavam franjas, tinham o cabelo assentado, tudo bem diferente do meu visual”, lembra.
A pressão que a todo momento a obrigava a se enquadrar nos padrões de estética vigente fez com que a jovem desistisse dos cachos e alisasse os cabelos, tudo isso em uma tentativa de ser aceita e respeitada. “Passei onze meses da minha vida tentando ser quem eu não era”, conta.
Cansada das constantes imposições que a fizeram aderir a uma verdadeira ditadura da beleza, Alexia resolveu dar um basta. “Decidi dizer chega e acabar com tudo aquilo. Seu nasci assim, porque vou querer mudar?”, questiona.
Focada, há três anos a jovem deixou os cachos retornarem, mudança que teve impacto de dentro para fora. “Comecei a pesquisar em blogs e páginas na internet diferentes visuais que eu poderia compor para meus cabelos crespos. Hoje, minha autoestima aumentou e sou muito feliz sendo o que realmente sou: negra, com cabelos crespos, e brasileira”, finaliza.
Elas, fortalecidas
Quem dera a história de Alexia fosse apenas um caso raro e isolado. Uma pena constatar que há tantas outras Alexias espalhadas por aí, vítimas do preconceito pelo simples fato de serem quem que são.
Assim, para debater a brasilidade presente na cor da pele e nos encaracolados dos cabelos, um evento reuniu dezenas de pessoas na Concha Acústica Helena Meireles, no Parque nas nações Indígenas durante a tarde do último domingo (29). O movimento Crespas e cacheadas de Mato Grosso do Sul foi uma verdadeira troca de experiências a céu aberto, literalmente, com direito a poemas, reflexões, textos, histórias de luta, superação e, é claro, casos nem sempre tão alegres.
No espaço do Parque, tendas foram montadas para ensinar os interessados técnicas para cuidar dos cachos, amarrações supermodernas com lenços estampados e, além disso, um varal com desenhos e reflexões, dava um ar todo particular ao evento.
“O objetivo do encontro é conscientizar as pessoas e lembrar que nosso cabelo não é apenas para uso estético, mas também, político. Estamos aqui para mostrar nossa resistência e afirmar nosso orgulho do nosso sangue negro”, explica a Andressa Brandão, uma das organizadoras da ação.
Sara Arinos, que também responde pela organização, lembra que a influência do cabelo liso ainda é muito presente na sociedade, em especial, nos anúncios da mídia, porém, a jovem ressalta a importância de honorar os traços naturais e particularidade cada um. ”Temos sim que assumir e mostrar nossa identidade. Vamos mostrar que tudo isso não é apenas uma modinha e sim um ato político sério e de grande relevância social”, finaliza.
(Com supervisão de Guilherme Cavalcante)
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