O “Canto Guarani” reúne três gerações da família 

Toda casa paraguaia que se preze tem sempre ao alcance das mãos o potinho de coquito e a água gelada para o tereré. Na moradia dos Dela Sierra não é diferente. Numa passada rápida de olhos é fácil perceber como esses elementos estão naturalmente compondo o cenário e é só ouvir a voz do patriarca Victor Hugo, 70 anos, para que nos sintamos transportados magicamente para a fronteira que tantos talentos revelou.

Nesta casa, mais que hábitos, aparência e o famoso portunhol…é o ‘ganha pão’ que passa de pai para filho, literalmente. Hugo Cezar, 45, cresceu em meio aos bailes em que seu pai era a atração principal. Talentoso como poucos, o pai passou para o filho o gosto pelo chamamé, guarânia, polca e tantos outros ritmos fronteiriços.

Lá se vão mais de 30 anos e hoje Hugo tem o prazer e a honra de tocar com o pai. Juntos formam o “Canto Guarani”, que há pouco tempo ganhou o reforço da neta de Victor, Loren Gabriela, 18 anos. Pronto. Está formado o conjunto que abriga três gerações da família Dela Sierra, referência musical de Mato Grosso do Sul.

“Em um tempo em que a família, a união está tão desgastada, poder viver e trabalhar com meu pai e com a minha filha é uma honra muito grande. Me sinto muito feliz”, diz Hugo que domina o violão e também dá voz ao grupo.Da cozinha, de onde vem o cheiro maravilhoso dos preparos do almoço, a mulher de Victor há 32 anos, Elaine Riveira, grita: “É do pai deles que vem todo talento. Desde pequenos ouvindo e ajudando nos bailes, não tinha como ser outra coisa.”

E é exatamente isso, confirma o filho Hugo. Victor é detentor de talento raro e visceral além de uma postura paraguaia impecável, se é que isso existe. Hoje, o garboso senhor se orgulha de seus 50 anos dedicados à carreira como músico.

Por 20 anos, Victor foi o cantor principal do grupo Los Tammys. Na década de 70, recebeu convite da gravadora Cerro Cora de Assunção para gravar o seu primeiro LP. No repertório, “Algo Fácil de Olvidar”,  “Andréia”,  “Ndai Pori Problema”, clássicos da nossa música. Foram mais de 14 LPs gravados, o primeiro recebeu disco de Ouro.

“É uma história muito longa e muito feliz. Se me dedico à música e ensinei isso aos meus filhos é por amor. É paixão mesmo. Como todas as profissões, a música é muito difícil. Tem que trabalhar muito, não é só talento, é mais garra do que qualquer coisa”, diz Victor.

Sobre a neta e filha, os dois são só sorrisos. Jovem, Loren carrega a marca da família e não nega a marca dos Dela Sierra e tem como referência feminina a dama do rasqueado Delinha. “Ela nova, tá errando e acertando como deve ser. Mas é talentosa, se for focada vai ter sucesso”, diz o pai orgulhoso.

A dedicação e o talento são o pano de fundo da relação que une a família. No fim das contas, é o amor e admiração que nutrem um pelos outros que os torna um canto forte em guarani. Feliz Día del Padre!