O DVD de Delinha será gravado no próximo dia 16 de junho 

Com os passos lentos e o sorriso aberto de quem tem a tranquilidade como guia, Delinha, 78 anos, nos recebe em sua casa. E não é qualquer casa, é a ‘velha casinha’ tantas vezes recitada e embalada pelo ritmo do rasqueado que a consagrou. “Casinha dos meus oitos anos, de alegria e desenganos que a vida marcou pra mim. Casinha velha de tábua…”, diz a canção que escreveu à casa velha do Bairro Amambaí.

Foi ali que descobriu o “dom da música” herdado de seus tios “Louro e Izaltino”. Foi entre as mesmas tábuas que por muito tempo foi obrigada, pela mãe, a esfregar, que viveu ao lado de Délio, seu parceiro de trabalho e, por 20 anos, marido.

Ao cumprimentá-la, a indagação astuta: “por que essa mão gelada, menina? Tá nervosa?” Sim, de fato estava nervosa e sem saber por onde começar,  joguei: como tudo começou? Entre sorrisos e uma revirada rápida de olhos ela respondeu: “olha são tantas histórias que nem sei. Às vezes eu esqueço de algumas”.

Pois bem, estava ali a certeza de que o MidiaMAIS encontrara a história certa para contar, a história da maior dama da história sul-mato-grossense. 

Ao lado de Délio, Delanira Pereira Gonçalves, a Delinha, construiu uma história sólida, que se confunde com a de Mato Grosso do Sul. “Eu sinto vontade de pagar por todo carinho que recebi a vida toda. Foi uma vida muito feliz”, responde sem se dar conta de sua importância para a cultura sul-mato-grossense.  

Délio e Delinha levaram aos quatro cantos do Brasil o ritmo que não pode ser definido como sertanejo, tão pouco como caipira, “é o rasqueado”, responde rápido. Com sucessos como “O sol e a lua”, “Prenda querida” e “Malvada” tornaram o Estado conhecido em todo o país.

Foi para fazer “nome” que ela e Délio deixaram a Capital rumo a São Paulo. Por lá viveram oito anos, se apresentaram na Rádio Bandeirantes, TV Tupi e muitos outros importantes nascedouros de talentos. Com cachês mais altos e já com “nome”, a dupla voltou para Campo Grande já com status que Délio e Delinha mantêm até hoje.

São 19 LPs gravados e centenas de músicas compostas. O casal de “Onças do Mato Grosso”, como ficou conhecido, também protagonizou programas de TV e inúmeras parcerias.

Rigorosos, os dois não se permitiam errar e tinham como lema o famoso “se errar continua”. A parceria profissional quase perfeita não se refletia no relacionamento matrimonial que acabou por separar o trabalho dos artistas.  A separação não durou muito e em 1981 a dupla retorna aos palcos. Delinha se casou novamente e com o sanfoneiro Jairo viveu 31 anos, um relacionamento muito harmonioso, conta. 

Em 2010 o eterno companheiro, José Pompeu, o Délio, faleceu. Delinha, no entanto, segue defendendo o legado deixado pelos dois e mais que isso, segue construindo essa história. No dia 16 de junho ela gravará um DVD no Palácio Popular da Cultura – ou para os mais atuais, Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo. O evento, para convidados, terá além dos sucessos da dupla, pelo menos três músicas inéditas.

Com a insegurança de quem acaba de começar a carreira, Delinha se diz ansiosa, nem consegue dormir. “Eu sinto medo de esquecer as músicas. Acordo a noite lembrando dos trechos e perco o sono preocupada”, conta.

Com a vivacidade da adolescente que deixou o Estado na década de 60, Delinha se diz realizada com tudo que construiu e, sim, é muito feliz. “Meu sonho é poder esticar mais uns anos para poder ver meu único neto [de 5 anos] ganhar a minha casa, a casa que foi dos meus pais”, como já revelou em outro verso da canção ‘Velha Casinha’: Você não pode acabar, você terá que abrigar a 3ª geração, também não serei esquecida, ficará por toda a vida minha imagem em formato de canção”.