Do HIV ao pé na estrada muito preconceito e pontos de crochê passaram por ele

No crochê ele encontrou o ganha-pão e a terapia de que precisava   

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No crochê ele encontrou o ganha-pão e a terapia de que precisava 

 

 Aos 30 anos sua vida virou de cabeça para baixo. Depois de um caso extraconjugal rápido ele descobriu a contaminação pelo vírus HIV. Antes que pudesse lamentar pela sentença condenatória, Valter Feliciano de Oliveira, soube que sua esposa e sua filha já haviam sido contaminadas por ele. Toda idealização de uma vida ruiu ali. Em poucos meses, estava sozinho. Todos se foram e a ele só restou partir. “O preconceito é muito grande”, diz ao explicar o motivo de nunca mais ter encontrado um emprego formal.

Certa vez, foi parar em uma instituição de apoio a portadores e por lá aprendeu a arte do crochê, que mais tarde, seria a responsável por manter a “sanidade mental” de Valter. Em profunda depressão, encontrou nos pontos a terapia que precisava para resistir à culpa e à dor que lhe acometem.

Munido da lã e da agulha e com poucas peças de roupa, Valter partiu de sua cidade natal, Vitória, no Espírito Santo, rumo ao lugar em que pudesse reconstruir sua vida. Aos poucos percebeu que este lugar é a estrada e desde então, há três anos, vive de cidade em cidade. “Eu tinha poucas opções. Como o preconceito é muito grande e não encontrava trabalho, me restou usar o crochê para me manter e ao mesmo tempo conhecer o Brasil”, diz.

Atualmente, e pelos próximos 15 dias, quem andar pelas ruas de Campo Grande – mais especificamente na região da Avenida Bandeirantes – pode encontrar Valter criando suas peças de crochê. O trabalho é feito na rua mesmo, onde também vive há três anos.

Ele nos conta que a maioria das pessoas que se aproximam dele, assim como nós, é por curiosidade. “As pessoas acham estranho ver um homem fazendo crochê. Quando se aproximam me perguntam se sou ex-presidiário ou algo assim. Sempre explico que nunca bebi e nem fumei, mas não encontro trabalho por conta do vírus. Poderia ter me envolvido com coisas erradas, mas encontrei o crochê. Muita gente se interessa pela minha história e compra minhas peças”.

Cleber Gellio

 

Depois de perder ‘tudo que lhe importava’, Valter retoma pouco a pouco o prazer pela vida. E a sua realização se dá no elogio a um ponto de seu crochê e na visita a um novo lugar. “Me sinto feliz quando uma mulher elogia meu trabalho e diz que minhas peças são bonitas. No começo é difícil, mas depois você vai embora”, nos conta sem saber qual será o seu próximo destino. A única certeza é de que entre seus dedos haverá sempre uma agulha e alguns metros de linha trançados.

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